Vinho fino nacional começa a ganhar destaque no País

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Vinho fino nacional começa a ganhar destaque no País.

 

O mercado brasileiro de vinhos começa a passar por uma agradável transformação. O consumo da bebida está em expansão e quem encabeça esse crescimento é a comercialização de vinhos finos. Em geral, ao longo do ano passado foram vendidos 330 milhões de litros da bebida no Brasil – entre rótulos nacionais e importados –, resultado que representou alta de 12% em comparação a 2008. Já entre os vinhos finos, que representam 20% do total vendido, a expansão foi de 15%. Para esse ano, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) espera continuidade no processo de expansão das vendas do setor.

 

Uma das explicações para o aumento do consumo de vinhos finos no Brasil é a entrada crescente de produtos argentinos a preços competitivos. Esse mercado ainda é dominado pelos importados. Em 2009, do total  comercializado no País, 75% correspondiam a produtos estrangeiros, principalmente do Chile e da Argentina. “O modelo de produção de escala desses dois países permite que exportem a preços baixos. E quando o consumidor encontra um vinho nacional e um estrangeiro por preços parecidos, escolhe o importado. Temos investido em marketing para mudar essa percepção de que o que vem de fora é que é bom”, diz o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Raimundo Paviani.

 

Vinícolas – As vinícolas chilenas e argentinas trabalham com cultivo de uva em larga escala, com áreas médias de cultivo de 18 hectares. No Brasil, a tônica do modelo de produção é o familiar, com áreas médias plantadas de dois hectares. Isso aumenta os custos de fabricação do vinho, uma vez que as vinícolas precisam dar suporte para diversos agricultores, além de enfrentar dificuldades logísticas em virtude do recebimento difuso dos carregamentos de uva.

 

O modelo brasileiro compromete o volume de produção. Enquanto por aqui são produzidos 40 milhões de litros de vinho por ano, na Argentina são  1,2 bilhão de litros, de acordo com Paviani. Mas isso tende a mudar. Nos últimos anos, as vinícolas nacionais passaram a comprar áreas de parreirais para se tornar auto-suficientes, o que possibilitaria a ampliação da produção a custo menor.

 

As grandes vinícolas nacionais têm planos de investimentos expressivos para os próximos anos. A Miolo adquiriu, no fim do ano passado, a Almadén, em Santana do Livramento (RS) – nas Serras Gaúchas – e projeta fomentar a produção da vinícola. A Salton que também tem planos de expansão (veja matéria nesta página) chegou a entrar na disputa, mas a linha de produção já estruturada ficou mesmo com a concorrente.



A nova proprietária pretende investir R$ 12 milhões para fazer a produção da Almadén subir das atuais 300 mil caixas – de 12 garrafas – ao ano para 650 mil caixas até 2013. O montante também será usado para aquisição de vinhedos, na modernização da estrutura e em marketing. Com a aquisição, a Miolo estima produzir 12 milhões de litros de vinhos ao ano e obter receita de R$ 100 milhões.

 

Outro fato positivo no mercado de vinhos e que explica a expansão das vendas, é a entrada da classe C como público consumidor fiel. De acordo com Paviani, esse consumidor migrava facilmente para a cerveja no verão. Mas, recentemente, é verificado um crescimento na fidelidade entre esse público.

 

Espumantes – Ainda há muito a ser feito para que os vinhos brasileiros ganhem espaço e reconhecimento. Já para os espumantes nacionais o caminho já está bem calçado. Hoje, o País já é considerado o quarto principal expoente mundial desse segmento, atrás de França, Espanha e Itália.

 

A vinícola Valduga tem apostado as fichas nos espumantes que produz. A vinícola chegou a estruturar uma segunda empresa, a Casa de Madeira, dedicada a essa linha. Hoje os espumantes representam 45% da comercialização da empresa. De acordo com a diretora-comercial da vinícola, Juciane Casagrande, o produto deve responder por 60% das vendas até o fim de 2011. “O espumante vem ganhando mercado no Brasil. O clima quente favorece o consumo. O consumo cresceu cerca de 20% em 2009. Nossas vendas tiveram aumento acima desse percentual”, diz Juciane. Um dos motivos para que os espumantes nacionais terem conquistado respeito mundial – enquanto os vinhos ainda engatinham – é a menor exigência de qualidade das uvas.

 

O clima brasileiro não favorece o plantio para vinho. O excesso de chuva é o principal problema. Por isso, as vinícolas nacionais estão concentradas no extremo sul do País, uma das poucas regiões nas quais o clima ajuda. Mas, a safra 2010 provavelmente foi comprometida pela chuva. Já as uvas para espumante não necessitam amadurecer totalmente para darem bons produtos e podem ser colhidas antes de o excesso de chuva comprometê-las.

 

No ano do centenário, Salton inaugura nova linha de produção

 

A vinícola Salton deve duplicar a capacidade de produção de vinhos e espumantes até o fim de 2010, ano no qual completa seu centenário. O projeto é orçado em cerca de R$ 10 milhões, dinheiro que virá de recursos próprios e de linhas de financiamento.

 

O processo de aquisição dos equipamentos já começou.  De acordo com o presidente da vinícola, Daniel Salton, a nova unidade estará ativa entre setembro e outubro deste ano. A unidade terá capacidade para engarrafar doze mil litros de vinho por hora ou 9 mil de espumantes.


 
Com duas linhas em operação, a Salton pretende tornar independentes a produção de vinho da de espumantes, que hoje são alternadas em uma única unidade. O objetivo é cortar custos.

 

A expectativa é engarrafar neste ano 2,5 milhões de litros de vinhos finos e 4,5 milhões de litros de espumantes.

 

Para dar vazão à produção ampliada, a empresa já busca novos mercados, com ênfase ao Norte e Nordeste do País, regiões nas quais a presença da vinícola ainda é pequena.  Nos últimos dois anos, o consumo de vinho finos nessa região cresceu cerca de 15%. A vinícola também aposta em novos clientes. Na próxima semana, um grupo de cerca de 70 empresários do ramo supermercadista e hoteleiro visitará a empresa.

 

O mercado externo também está em prospecção. De acordo com Daniel Salton, já foi fechada uma parceria com um distribuidor polonês. Ele diz que o Salton Lunai, um frisante leve, tem feito sucesso em feiras de vinho pela Europa.

 

No mercado de espumantes, a Salton detém uma liderança folgada. A empresa abocanha 40% desse segmento no País, seguida pela Chandon, que detém 20%.

 

Para o ano do centenário, a vinícola preparou um lançamento especial. O Salton Centenário tem corte de 70% de uva Pinot Noir e 30% de Chardonnay. O espumante está há três anos na levedura, aguardando para ser engarrafado.  A novidade deve chegar ao mercado no fim do ano. O preço ainda não foi definido e a safra será limitada a 13 mil garrafas.

 

Com as perspectivas de ampliação da produção, a Salton terá também de aumentar o cultivo de uva. A vinícola já busca linhas de financiamentos para a aquisição de terras cultiváveis nas Serras Gaúchas. Para este ano, a expectativa é colher 18 milhões de quilos de uva, 20% a mais do que em 2009. Mas o clima não favoreceu a safra 2010. O excesso de chuva prejudicou a qualidade da Cabernet Sauvignon. Por esse motivo, provavelmente não haverá garrafas do Salton Talento – principal vinho fino empresa – de safra 2010.

 

O repórter viajou a Bento Gonçalves (RS), a convite da Salton.

 

Veículo: Diário do Comércio - SP

 


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