Em julho do ano passado, o Deutsche Bank previu em relatório que as temperaturas mais quentes decorrentes do fenômeno meteorológico El Niño levariam as pessoas a beber mais cervejas e refrigerantes, o que beneficiaria a Companhia de Bebidas das Américas, AmBev. Dito e feito. O fenômeno meteorológico não falhou, o verão trouxe recordes de temperaturas não só no final do ano passado como também durante todo o primeiro trimestre de 2010 e a AmBev vendeu muita bebida.
Na comparação entre os primeiros três meses deste ano com os de 2009, a companhia vendeu 11,7% mais cerveja e 5,2% mais refrigerantes. "A operação brasileira foi a que mais cresceu dentro da companhia graças a uma combinação de estrutura de custos enxuta, calor, mercado em expansão e renda da população", afirmou Nelson Jamel, diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, ao divulgar os resultados do primeiro trimestre.
Nem mesmo a falta de latinhas no mercado nacional foi páreo para o avanço da AmBev, que no trimestre, segundo Jamel, aumentou a participação de mercado de 67,1% (média de janeiro, fevereiro e março do ano passado) para 69,3%. As marcas mais vendidas, segundo o executivo, foram as cervejas Antarctica Sub Zero e Brahma Fresh.
"O problema da falta de latas no mercado já vinha acontecendo desde o fim de 2009. Por isso, para não chegar a desabastecimento, começamos a importar latas logo no começo do ano", explica o diretor. Essa operação gera um impacto nos custos da empresa, que o executivo preferiu não explicitar. "Mas não haverá repasse dessa despesa para o consumidor", disse ele, que também afastou a hipótese de falta de produtos durante a Copa do Mundo, no mês que vêm.
Para dar conta da demanda, a empresa está investindo R$ 2 bilhões para elevar a capacidade produtiva do parque fabril em 15% até o final do ano. A companhia chegou a divulgar que reduziria o valor para R$ 1,3 bilhão caso houvesse aumento da carga tributária.
"Estamos trabalhando com a meta de investir os R$ 2 bilhões ao longo do ano. Os investimentos já estão acontecendo e não há como voltar atrás. Iremos, por exemplo, construir pelo menos três novas fábricas, sendo que algumas delas serão a duplicação de unidades já existentes ", disse Jamel. "Anunciaremos os novos investimentos conforme as negociações com o governo sobre a carga tributária forem evoluindo."
Nos últimos meses, a Ambev divulgou um investimento de R$ 446 milhões na ampliação da capacidade de produção de cinco fábricas, sendo uma no Amazonas e quatro em São Paulo (Guarulhos, Jacareí, Jaguariúna e Agudos). A unidade de São Luís, no Maranhão, está recebendo R$ 144 milhões em investimentos para expansão e construção de um novo centro de distribuição. No mês passado, a empresa inaugurou um centro de distribuição em Uberlândia (MG), onde gastou R$ 9,5 milhões.
Internacionalmente, a AmBev continua enfrentando queda nas vendas na Argentina, devido à recessão econômica. Situação mais grave, porém, enfrenta a Labatt, do Canadá, onde uma fábrica foi fechada há pouco mais de um mês. A crise é uma consequência da compra da Anheuser Busch pela InBev (controladora da AmBev), no fim de 2008. Para aprovar o negócio, o órgão regulador americano exigiu que a InBev limitasse a atuação da Labatt ao Canadá. Ao perder as vendas para o mercado americano, a empresa teve de arcar com um excedente de produção que o Canadá não absorveu.
Financeiramente, a empresa também se beneficiou ao reduzir a dívida líquida de R$ 6,3 bilhões (primeiro trimestre de 2009) para R$ 1,7 bilhão. A queda, segundo Jamel, aconteceu porque, com o cenário ruim que se previa há 15 meses, a empresa decidiu, no começo de 2009, quitar dívidas ao longo do ano. No trimestre, a AmBev somou receita líquida de R$ 6,1 bilhões - 8,2% mais que o resultado anterior. O lucro ficou em R$ 1,6 bilhão, com alta de 3,9%. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) foi de R$ 2,8 bilhões.
Veículo: Valor Econômico