A bebida japonesa cai no gosto nacional e hoje há até sommeliers e cursos de degustação no Brasil
O saquê definitivamente caiu no gosto dos brasileiros. Antes considerado apenas uma alternativa à cachaça e à vodca na caipirinha, hoje é consumido em sua forma pura. E não só nos restaurantes japoneses, como era de costume. Atualmente, pedir uma dose de saquê é comum até nos botecos onde reinam o chope e a cerveja. “Sem dúvida foi o boom da caipirinha de saquê que estimulou o brasileiro a conhecer melhor a bebida”, confirma o consultor Alexandre Tatsuya Iida, que há seis anos abriu a Adega do Sakê, no tradicional bairro japonês de São Paulo, Liberdade.
Lida faz parte de um seleto grupo de brasileiros especialistas em saquê. Há dez anos, ele percebeu que a demanda pela bebida japonesa produzida a partir da fermentação do arroz estava crescendo no Brasil. Começou a pesquisar o tema e se deu conta de que não havia nada sobre o saquê no País. Filho de japoneses, Iida aproveitou seu conhecimento da língua de seus antepassados e foi aprender diretamente nos livros e sites do Japão. Há três anos, criou cursos de degustação em sua loja cuja procura cresce a cada semestre. “Tenho fila de espera”, gaba-se.
Uma de suas aprendizes é hoje uma das quatro saquê sommeliers do País, Yasmin Yonashiro. Com apenas 23 anos, a neta de japoneses quis aprender sobre o assunto muito mais pelo amor à arte nipônica de produzir e servir a bebida – que leva seis meses para ficar no ponto e é cheia de cerimoniais e etiquetas – do que pelo prazer em bebê-la. “Sempre achei lindo o gestual e o respeito ao próximo que toda a cultura japonesa tem”, diz ela.
Yasmin é referência no tema. Sommelier em um tradicional restaurante japonês de São Paulo, agora ela também é embaixadora da marca Jun Daiti, o primeiro saquê produzido pela gigante dos destilados, a Diageo. Ele é elaborado metade na Califórnia, grande centro produtor de saquê fora do Japão, e metade no Brasil. Um levantamento feito pela multinacional de bebidas foi decisivo para lançar o primeiro saquê de seu portfólio: seu consumo aumenta 30% ao ano no País. Em São Paulo, o principal mercado, um terço das caipirinhas já é feito com a bebida japonesa – ela só perde para a concorrente russa, a vodca. A demanda também tem crescido em outras praças, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A variedade de tipos de saquê é imensa e existem mais de quatro mil marcas pelo mundo. E, como no caso do vinho, há diversas categorias entre secos e suaves. No Brasil, há apenas uma marca totalmente produzida em território nacional, o Azuma Kirin. Na Adega do Sakê, onde há uma linha premium da bebida, uma garrafa pode custar entre R$ 20 e R$ 800.
Yasmin e Lida ajudam suas respectivas clientelas a entender qual o tipo mais adequado para cada pessoa. “Primeiro faço uma minientrevista para saber o perfil etílico do cliente, depois mostro as melhores opções”, diz o consultor. Já Yasmin gosta de transmitir o seu conhecimento a respeito da história do saquê, que teve início três séculos antes de Cristo, para ambientar o cliente do restaurante. “Gosto que eles degustem da forma correta”, diz ela. Apesar do teor alcoólico elevado (14%), é considerada uma bebida feminina por sua suavidade. Iida explica que os rótulos, verdadeiras obras de arte, remetem à feminilidade ou a temas religiosos.
As amigas Simone Farias e Mariana Ammirabile, de São Paulo, contribuem para o fato de o saquê levar a fama de “bebida mulherzinha”. “Não consigo tomar vodca pura”, diz Simone. “Já o saquê desce suave.” As amigas trocaram a cerveja pelo destilado japonês quando saem à noite. “É a bebida da balada”, confirma Mariana. A cerveja que se cuide.
Veículo: Revista Isto É