Um vinho de R$ 740 feito no Sul do país

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Vilmar Bettú nunca gastou com propaganda: "Tive que ter paciência. Esperei que os clientes viessem comprar"Aos 63 anos, Vilmar Bettú é um engenheiro mecânico que dá aulas de física três vezes por semana em uma escola estadual e gosta mesmo é de produzir vinhos. Mas não qualquer vinho. São apenas 5 mil litros por ano, elaborados a partir de 30 variedades de uvas viníferas cultivadas por ele próprio ou por parceiros na região serrana e no sul do Rio Grande do Sul e vendidos por preços que variam de R$ 80 a R$ 740 a garrafa.

 

A Vinhos Bettú opera na propriedade da família, de 18 hectares, cercada por um pequeno vale no município de Garibaldi, na serra gaúcha. Na vinícola, instalada no porão da casa construída há quase 50 anos onde vivem o pai, Augusto, de 95 anos, e a mãe, Maria de Lourdes, de 84, ele recebe cerca de 50 visitantes por mês, em grupos pequenos, para degustações que duram horas, embaladas pelos vinhos e pela conversa animada do anfitrião.

 

O engenheiro incorporou o lado vitivinicultor em 1999, seguindo a tradição do pai e também do avô, Dionigi, imigrante italiano que plantou o primeiro parreiral da família há 118 anos. Mas enquanto os antecessores produziam vinhos comuns para consumo próprio, ele decidiu enveredar pelo mundo dos produtos de alta qualidade, elaborados em pequena escala e caros. Inclusive os mais caros do Brasil. A primeira safra rendeu 500 litros.

 

Hoje os 5 mil litros anuais produzidos dividem-se em 60 tipos, incluindo varietais puros e cortes. Entre os mais baratos estão um arinarnoa das safras 2004 e 2005, um cabernet sauvignon 2004 e um malvasia de candia 2008. Para quem está disposto a desembolsar mais de R$ 300 por garrafa, as opções incluem um pinotage 2005, um riesling licoroso 1992, um touriga 2005, um malbec e um tannat 2002. Um "assemblage especial" com sete castas de safras diferentes é o mais caro: R$ 740.

 

"Faço vinhos que despertam o desejo das pessoas", explica Vilmar, enquanto confere as condições dos primeiros brotos que aparecem nos parreirais nesta época do ano. Ele nunca gastou um centavo com propaganda e a divulgação acontece no melhor estilo boca a boca desde 2001, quando a vinícola foi aberta para os primeiros grupos de degustação. "Tive que ter paciência. Esperei que os clientes viessem comprar".

 

Segundo o enólogo Dirceu Scottá, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), os vinhos Bettú são elaborados dentro dos "melhores conceitos disponíveis" para produção em pequenos lotes. "São diferenciados, de boa qualidade e agregam a tecnologia possível para essa escala de produção", afirma. De acordo com ele, o produto se enquadra na categoria conhecida como "vinho de garagem", comum em várias regiões da Europa.

 

Com estoques equivalentes a sete anos de produção, a vinícola só vende seus vinhos na própria sede, por telefone ou em alguns poucos restaurantes, entre eles o Aprazível, no Rio de Janeiro; o Di Paolo, em Garibaldi; e o Canta Maria, na cidade vizinha de Bento Gonçalves. Pelo telefone, a maior parte das encomendas vem do Rio, de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Brasília. Vilmar também faz espumantes, mas não para vender. "Esses são só para beber aqui".

 

Segundo ele, um dos segredos para fazer um vinho bom, encorpado e equilibrado, nem ácido nem suave demais, é só usar uvas "perfeitas", com alto teor de açúcar e que rendem produtos com pelo menos 13,5 graus de álcool, adequados para longos períodos de guarda. As frutas são esmagadas com os pés e em seguida o vinho repousa por seis meses a três anos em tanques de aço inoxidável.

 

Depois a bebida ainda pode passar por um novo período de maturação de 3 a 10 anos em garrafões acomodados em pequenos depósitos com luminosidade, temperatura e umidade controladas. O controle da produtividade dos parreirais também é importante para garantir o desenvolvimento adequado das uvas. "Um rendimento de até 8 mil a 10 mil quilos por hectare já é razoável, mas ficamos bem abaixo disso."

 

No início Vilmar produziu em parceria com o irmão Orgalindo, que é enólogo e mais tarde decidiu trabalhar em uma grande empresa do setor. Hoje ele tem o apoio das filhas Larissa, que é enóloga, e Catenca, que junto com a esposa Salete ajudam nas tarefas administrativas da vinícola.

 

Veículo: Valor Econômico


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