"Ninguém imaginava que aqui no Brasil, um país tropical, seria possível elaborar um produto como esse", diz Wandér Weege, proprietário da Vinícola PericóEm pequenas garrafas de 200 ml que mais lembram a embalagem de um perfume, a Vinícola Pericó, de São Joaquim, na serra catarinense, vai colocar no mercado o primeiro "icewine" produzido no Brasil. As 3,6 mil unidades do "vinho de gelo" batizado de Icewine Pericó terão um preço médio de R$ 200 e vão concorrer com importados que hoje dominam esse segmento de bebidas no Brasil.
Considerado um vinho de sobremesa, o icewine ou eiswein, em alemão, é produzido com as uvas congeladas pelas geadas de inverno. Na Pericó, foram colhidos 3,4 mil quilos de uvas congeladas a -7,5 graus no amanhecer de 4 a 12 de junho de 2009. Foram produzidos 695 litros de vinho, uma média considerada baixa, em virtude do processo.
Em função do congelamento, boa parte do peso das uvas é da água solidificada. Segundo Jefferson Nunes, enólogo e engenheiro agrônomo que participou do processo de elaboração do Icewine Pericó, são necessários mais de 6 quilos de uva para a fabricação de um litro de icewine. Para um litro de vinho tinto seco, por exemplo, é usado 1,4 kg de uva.
O Canadá é hoje o principal produtor do vinho de gelo e fabrica cerca 885 mil litros por ano, insuficiente para atender o mercado mundial. A Alemanha e a Áustria também são referência na produção desse tipo de bebida. Os vinhos de gelo importados costumam chegar ao mercado brasileiro em embalagens de 500 ml ou 325 ml, custando de R$ 150 a R$ 450.
O foco de vendas do Icewine Pericó serão as lojas especializadas em vinhos e restaurantes. Em sua maioria, são pontos de venda em que já estão disponíveis os outros rótulos da vinícola catarinense.
Segundo Jefferson Nunes, o mercado brasileiro ainda é restrito para o produto. "O Brasil é um país que tem um consumo muito pequeno desse tipo de vinho, em parte porque é um vinho raro e caro e porque sua produção é reduzida e concentrada principalmente no Canadá", explica.
Wandér Weege, empresário do grupo Malwee e proprietário da Pericó, diz que a intenção neste momento é atender apenas o mercado brasileiro com o icewine. "A idéia inicial é valorizar o mercado nacional. Mas o mercado externo está muito curioso com o nosso vinho do gelo, ninguém imaginava que aqui no Brasil, um país tropical, seria possível elaborar um produto como esse", declarou. A altitude de 1,3 mil metros do nível do mar, onde está o Pericó Valley, ajudou no processo.
Enquanto na maioria dos países produtores de icewine, como Alemanha e Áustria, a uva mais usada é a vidal, a Pericó utilizou a cabernet sauvignon, porque é a variedade com ciclo mais tardio. "Escolhemos essa variedade por ser a mais tardia disponível no vinhedo e a única capaz de sustentar seu lento amadurecimento nas parreiras até a chegada das temperaturas negativas do inverno na altitude de São Joaquim", explica Jefferson Nunes.
Em muitos casos, os frutos acabam sendo comidos por pássaros e insetos antes da chegada do frio. "Em alguns anos não se atinge o frio necessário no vinhedo e não é possível produzir o icewine. Em 2010, na Pericó, mais de 85% dos frutos já tinham sido comidos pelos pássaros e abelhas e a temperatura nos vinhedos não atingiu o mínimo necessário", explica o agrônomo. Por isso, na safra de 2010, a Pericó não conseguiu produzir nenhum litro de icewine. Antes de conseguir lançar o produto, a empresa realizou três tentativas com safras anteriores, sem conseguir resultados.
Além das condições climáticas, o icewine demanda manejo diferente. Para fabricar o icewine brasileiro, a Pericó investiu dois anos na modificação dos vinhedos para que as uvas chegassem ao fim do outono com saúde e concentração de açúcares.
Segundo Nunes, as parreiras passaram por um descarte de mais de 50% das uvas para favorecer a concentração de açúcar – foram produzidos menos de 600 gramas por planta, metade da média usada no processo de vinhos premium. No processo, também houve o rebaixamento do arame de sustentação das plantas para aproveitar melhor o calor do solo.
Fundada em 2002, a Vinícola Pericó nasceu do interesse pessoal de Weege por enologia. Ganhou o nome do distrito rural em que está instalado o parreiral. A palavra tem origem indígena e, segundo um dos significados, é uma planta delgada e flexível. Há muitos anos, o empresário faz parte do Clube do Vinho de Blumenau e, mais tarde, entrou no Clube dos Gourmets de Florianópolis. A troca de experiências e informações serviu de inspiração para o empresário do ramo têxtil investir no segmento de vinhos.
O vinhedo da Pericó está instalado em uma área de 15 hectares, que deve ser ampliada em 5 hectares com o plantio de chardonnay no próximo ano. Antes de lançar o primeiro vinho, a empresa investiu dois anos na preparação das terras. A plantação das mudas vindas da França - cabernet sauvignon, pinot noir, merlot, chardonnay e sauvignon Blanc - teve início no fim de 2004 e seguiu até fevereiro de 2005.
O Taipa Rosé foi o primeiro vinho Pericó, lançado em 2007. Hoje, são 10 produtos no portfólio da empresa. Além do icewine, há o Taipa Rosé, Taipa Vigneto – Sauvignon Blanc, Basaltino Pinot Noir e Basaltino Chardonnay. Ainda este ano será lançado um novo tinto da safra 2008. Entre os espumantes, a Pericó tem cinco produtos: Cave Pericó Branco e Rosé nas versões brut e demi-sec e Cave Pericó Branco brut Champenoise.
A média de produção anual hoje é de 80 mil garrafas, mas esse número deve aumentar em 33% com a próxima safra, segundo a Pericó. Este ano serão seis lançamentos. "Certamente em 2011, com a quinta safra, teremos novidades para apresentar ao mercado. Esta é a safra costumeiramente recomendada no exterior para grandes vinhos", diz Weege.
Veículo: Valor Econômico