Surgimento de novas importadoras elevou o número de rótulos avaliados e 'democratizou' a relação dos melhores.
O mercado de vinhos importados no Brasil esteve agitado em 2010. Houve aumento considerável no volume de garrafas que entraram no país, que pode ser estimado entre 28% e 30%. Tudo indica, no entanto, que o consumo não evoluiu na mesma proporção, já que há fortes indícios que algumas importadoras teriam adiantado pedidos (aumentando estoque) por conta da possível entrada em vigor do selo de importação, previsto para 1º de janeiro - fala-se que será adiado por alguns meses. Essas suposições fazem algum sentido, afinal os desembarques embutem uma quantidade um tanto desproporcional de vinhos chilenos, que vêm liderando com mais folga o ranking de importados por país, quase chegando a 40%(!).
Outro fator que merece destaque foi uma certa pulverização do setor, com a entrada de um número significativo de novas importadoras, acirrando a concorrência e deixando o cenário um pouco confuso. Eu mesmo estava um tanto perdido, não sabendo quem é quem e qual importadora estava representando determinado vinho no momento - vá lá que a idade vai chegando e o HD tem dificuldade em acumular informação. Foi com base nisso, e pretendendo deixar o leitor mais informado, que as últimas 12 colunas foram dedicadas aos novos "players" do mercado. Outras ainda merecem espaço e serão abordadas na retomada da coluna, em fevereiro do ano que vem.
É impossível prever, mas devo confessar que tenho dúvidas se todas sobreviverão. Investidores de outras áreas são muitas vezes atraídos pelo lado glamouroso do vinho, acreditando que é também muito rentável. Glamouroso sim, sem dúvida. Rentável é muito relativo. O setor de vinhos importados está bastante competitivo, exigindo profissionalismo. Não é diferente, se me permitem a comparação, com a área de restaurantes. Para que uma casa vingue, não basta o dono ser bem relacionado. Tem de ser "do ramo". Proposta, cozinha, serviço são alguns dos vários fatores fundamentais para que ela tenha sucesso. E muito trabalho. Na área de vinhos também. Mais do que alguns bons rótulos, é fundamental definir foco e ter um portfólio adequado a ele. E uma estrutura administrativa e, principalmente, comercial bem montada. Para tanto é necessário contar com bons profissionais. A propósito, um dos temas abordados aqui na coluna no início do ano foi sobre a abertura de diversos cursos avançados para quem quer efetivamente trabalhar com vinhos.
A entrada de novas importadoras e o troca-troca de produtores pode ser sentida na tabela dos melhores vinhos que degustei durante o ano. É bem verdade que a série dedicada às novas importadoras me "obrigou" a provar mais vinhos e conhecer com mais profundidade o portfólio de cada uma. Digamos que está mais democrática e, no meu entender, mais precisa. A de hoje contempla os vinhos do Novo Mundo. Na semana que vem, os rótulos europeus. Como sempre, desde a primeira planilha - esta é a 11ª -, obedeci o princípio de comparar o que é comparável, o que resultou numa lista dividida em regiões e gêneros, dentro de categorias de qualidade associada a preço. Não consigo imaginar formato diferente. Eleger os 100 ou 200 melhores, embolando origens e categorias, seria desprezar a individualidade de cada um e ignorar preferências do consumidor.
Veículo: Valor Econômico