Retomada do mercado anima a endividada Pernod Ricard

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A Pernod Ricard, empresa por trás da vodca Absolut, do uísque Chivas Regal e do vinho Almadén, está fazendo um brinde a 2010 e bebendo à saúde do setor em 2011.

 

O setor de bebidas alcoólicas está se recuperando de uma seca de dois anos, e esta temporada de fim de ano pode ser o momento da virada, diz o diretor-presidente da Pernod Ricard, Pierre Pringuet.

 

Isso pode dar à empresa parisiense algum refresco, num momento em que ela ainda digere a aquisição da Absolut realizada dois anos atrás, quando pagou 5,6 bilhões de euros (US$ 7,34 bilhões) no auge do mercado, financiando a compra quase que totalmente com endividamento.

 

Os espíritos estão bem mais animados na Pernod Ricard do que um ano atrás. As vendas das versões premium do conhaque Martell e do uísque Chivas Regal se recuperaram, revertendo a tendência de consumidores comprarem marcas mais baratas. As vendas no trimestre de julho a setembro subiram 14%, para 1,88 bilhão de euros.

 

Em Nova York e outras cidades onde a economia está se recuperando, os festejadores estão indo a bares como nos bons tempos. A produção excessiva de champanhe na França secou, e Pringuet espera um aumento nas vendas dos champanhes de maior preço nesta temporada - boa nova para os champanhes da empresa: Mumm e Perrier-Jouet.

 

A ação da empresa subiu 18% este ano, com os investidores agindo com mais ousadia a despeito de o esforço de redução do endividamento da empresa não andar tão rápido quanto o prometido.

 

"Tudo está melhor em termos relativos, mas é cedo demais para se dizer que retornamos aos níveis pré-crise", disse Pringuet ao Wall Street Journal, envolto por uma parede de garrafas de vinhos e outras bebidas.

 

A fase ruim das economias americana e europeia atingiu as empresas de bebidas alcoólicas em cheio. Com a confiança minada por demissões e a queda das bolsas, os consumidores não tiveram clima para celebrar. Os mais econômicos beberam em casa em vez de ir a bares e restaurantes e passaram a consumir versões mais baratas de vodca e uísque. O varejo passou a manter estoques menores.

 

A Pernod Ricard estava numa posição particularmente delicada. Depois que comprou o grupo sueco de bebidas V&S Vin & Sprit AB, dono da vodca Absolut, em 2008, o endividamento da empresa foi para 13 bilhões de euros. Embora a Pernod Ricard tivesse absorvido duas outras grandes aquisições no decênio anterior, o que a catapultou para o segundo lugar entre as maiores do mundo no setor de bebidas, atrás da britânica Diageo PLC, os investidores temiam que a Pernod Ricard tivesse pago um preço alto demais pela Absolut.

 

"Não consigo me lembrar de uma hora pior para uma aquisição que a da Absolut", diz o analista Erwan Rambourg, do HSBC. "Mas agora que passou as pessoas vão se dar conta que foi uma boa aquisição, porque a Pernod precisava de uma marca de vodca."

 

Pringuet prometeu fazer uma dieta rigorosa: vender 1 bilhão de euros em marcas e reduzir seu endividamento a 4 vezes o lucro operacional até 2012, em comparação com 5,4 vezes em junho. Ele se desfez de marcas como o bourbon Wild Turkey e o licor Tia Maria.

 

Mas sem uma retomada das vendas, a meta de endividamento da Pernod Ricard parecia distante. Em seu último ano fiscal, encerrado em junho, o faturamento da empresa somou 7,1 bilhões de euros, uma queda de 2%.

 

Nos últimos meses, os consumidores americanos e europeus voltaram a frequentar os bares. Embora o desemprego continue alto nos EUA e Europa, os consumidores que têm emprego voltaram a gastar, diz Pringuet.

 

Para a Pernod Ricard, isso está particularmente evidente nas vendas para bares e restaurantes, que respondem por 25% de seu negócio nos EUA. Depois de caírem mais de 10% no ano passado, essas vendas estão estáveis este ano.

 

"O valor do portfólio de uma pessoa na bolsa de valores não é sem consequências; há uma sensação percebida de riqueza", diz Pringuet.

 

Os consumidores americanos voltaram a gastar mais com versões mais caras de bebidas alcoólicas. Por exemplo, as vendas do Chivas Regal de 18 anos cresceram 32% no trimestre mais recente, ante um crescimento de 14% da marca em geral. O Chivas 18 anos custa cerca do dobro do preço da versão mais barata.

 

Outras gigantes do setor de bebidas também demonstraram mais otimismo recentemente, particularmente em relação aos EUA, embora a confiança do consumidor permaneça frágil.

 

A Diageo está vendo "sinais de recuperação" nos EUA, inclusive no importante segmento de bares e restaurantes, disse recentemente a investidores Ivan Menezes, presidente da unidade norte-americana da empresa britânica. "Há sinais emergentes, positivos de vida nas vendas do varejo no fim do ano", disse.

 

A Diageo tem marcas como a vodca Smirnoff e o uísque Johnnie Walker.

 

Paul Varga, diretor-presidente da americana Brown-Forman Corp., a fabricante do bourbon Jack Daniel's, disse a analistas este mês que "há mais sanidade no que estamos vendo" nos preços desta temporada natalina nos EUA do que nos últimos anos. A temporada do fim de ano nos EUA, que coincide com a chegada do inverno no Hemisfério Norte, é o período mais importante para as fabricantes de bebidas destiladas.

 

A Brown-Forman também informou que as vendas em bares e restaurantes estavam começando a crescer, mas que o ambiente continua volátil.

 

As vendas de drinques à base de bebidas destiladas em bares e restaurantes americanos devem subir 2,3% em 2011, de acordo com um relatório da Technomic Inc., uma consultoria da área de bebidas e alimentos.

 

A Pernod Ricard, embora enfraquecida nos EUA, tem uma posição mais forte que suas concorrentes em mercados de rápido crescimento, como a China e a Índia.

 

Ela está testando uma versão premium da vodca Absolut, a Elyx, em países como México e Canadá. "Revertemos a uma hierarquia positiva para as bebidas de maior valor", disse Pringuet, abrindo o lacre de cobre de uma garrafa de Elyx.

 

Para conseguir uma noção melhor da disposição do consumidor, Pringuet envia seus executivos a campo durante o período crucial dos feriados de fim de ano. Pelo terceiro ano seguido, gerentes que normalmente passam o dia num escritório vestem um avental para trabalhar num estande da Pernod Ricard em supermercados da França.

 

Pringuet espera que esta temporada de fim de ano deixe um dinheirinho extra no caixa - e disse que ele será usado na redução do endividamento.

 

A Pernod Ricard está mais rigorosa do que nunca com seus próprios gastos. Pringuet diz que a empresa vai se abster da atual bandeja de potenciais alvos de aquisição, como a Fortune Brands Inc., dona do bourbon Jim Beam, e as marcas de champanhe Piper-Heidsieck da rival francesa Remy Cointreau SA.

 

Veículo: Valor Econômico


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