Mate La Vuelta, da tradicional fabricante de refrigerantes, desatou uma corrida publicitária entre as marcas presentes no vizinho Uruguai
Pela segunda vez em menos de uma década, a Coca-Cola está tentando entrar no mercado da erva-mate da Argentina. A volta ao mercado ocorreu nesta semana com o lançamento de La Vuelta (A Volta), uma marca de erva para o chimarrão, infusão consumida em 90% das residências argentinas.
O mercado que La Vuelta enfrentará é disputado por 60 marcas, a maioria de empresas tradicionais da Argentina, país que produz 60% do total da erva-mate do mundo.
O costume de beber chimarrão existe na Argentina há quatro séculos. No entanto, cresceu mais ainda com a crise econômica de 2001-2002, já que a erva-mate é muito mais barata do que o café ou o chá.
Cada argentino consome anualmente sete quilos de erva-mate, enquanto que compra somente um quilo de café por ano.
No vizinho Uruguai, o consumo é mais elevado, já que chega a 2,2 quilos de erva per capita mensal, volume que coloca os uruguaios no topo do ranking mundial de bebedores de chimarrão. O mate está presente em 98% dos lares uruguaios.
Ali, La Vuelta passou por sua primeira prova de fogo, quando foi lançada em setembro de 2009. Para conquistar os consumidores, há poucos meses lançou uma embalagem pequena, de 100 gramas, destinada ao público que quer experimentar a marca pela primeira vez.
O desembarque da Coca-Cola no mercado da erva-mate no Uruguai desatou uma corrida publicitária entre as marcas existentes. Segundo a consultoria Mindshare, desde o lançamento de La Vuelta no Uruguai as empresas investiram 60% a mais em publicidade.
Em um ano La Vuelta conquistou 2% do mercado. O plano é chegar a 5% no início de 2012.
Refrigerante. Chimarrão adocicado, gelado, e ainda por cima com bolhinhas de gás? "Não", responderam os consumidores deste país em 2003 quando a Coca-Cola ensaiou a conquista do mercado com o lançamento de um refrigerante, o Nativa, feito exclusivamente para o mercado local.
Essa foi a primeira tentativa da empresa americana de realizar uma bebida "nacional" na Argentina, tal como acontece com o guaraná no Brasil.
Na época, a confiança dos executivos da Coca-Cola era grande, pois tinham a certeza de que o poder de seu aparato comercial, de logística - além do próprio prestígio da empresa - conseguiriam emplacar sem dificuldade o novo refrigerante. Além disso, apostavam que o produto pegaria carona no nacionalismo argentino, que ressurgiu desde a crise financeira de 2001-2002.
No entanto, os consumidores não foram seduzidos pela fórmula heterodoxa do consumo de erva-mate gelada, açucarada e com gás carbônico. Depois de oito meses sem avançar na conquista do paladar nacional, a Nativa (que até contava com uma garrafa de vidro com folhas de erva-mate em baixo relevo) foi removida do mercado.
Empedernidamente ortodoxos, os argentinos preferiram continuar com a tradicional forma de beber a infusão quente, com cuia e bomba. Sem canudinho.
Essa não havia sido a primeira vez que alguém na Argentina tentava ter sucesso com a fórmula do "chimarrão com bolhinhas de gás". Houve experiências anteriores de refrigerantes feitos à base de erva-mate, desde os anos 60. Entre elas, a Ricky e a Che Mate. Mas, todas fracassaram estrepitosamente.
Cool e saudável. Beber mate era um costume puramente doméstico até poucos anos atrás. Mas, desde a virada do século, adquiriu também as características de "cool" e "fashion". Dezenas de bares e restaurantes no bairro gastronômico da moda, Palermo, oferecem chimarrão.
Em bares como o Cumaná, em pleno bairro da Recoleta, há um happy hour "gauchesco" com chimarrão. Diversas marcas, como Las Marías, lançaram seminários com sommeliers de chimarrão que ensinam aos consumidores as formas de apreciar melhor esta infusão.
Veículo: O Estado de S.Paulo