Bebidas: No Brasil, Norteña e Patricia integram o mercado de marcas premium, que cresceu 20% em 2010
O brasileiro que se acostumou a beber Norteña e Patricia com um bom "ojo de bife" ou uma suculenta "tapa de cuadril", carnes típicas das casas de "parrilla" já comuns no cenário gastronômico da cidade de São Paulo, e foi passear no Uruguai neste verão pode ter estranhado não encontrar, vez ou outra, essas tradicionais marcas uruguaias de cerveja.
"Vocês levaram todas as Norteñas para o Brasil", brinca Roberto Samurio, o garçom mais antigo na unidade central da tradicionalíssima rede uruguaia de lanchonetes La Pasiva, esclarecendo que a marca já deixou de fazer parte do cardápio do estabelecimento. Poucos sabem que a Norteña é cada vez menos difundida no Uruguai. Em 2003, ela deixou de ser produzida na histórica fábrica da Cympay em Paysandú, após sua compra pela Ambev. Hoje a Cympay, que era um símbolo na localidade uruguaia, produz apenas malte - são 11.250 toneladas por mês, que abastecem cervejarias de todo o Brasil. A Norteña passou a ser feita na Fábrica Nacional de Cervezas (FNC), em Montevidéu, também adquirida pela Ambev.
A Patricia e a Norteña, as duas cervejas uruguaias que foram introduzidas no mercado brasileiro em 2007, vivem momentos distintos em cada país. No Brasil, junto com marcas como a Stella Artois e a família Bohemia, são estrelas entre as cervejas premium - um mercado estimado em R$ 300 milhões e que cresceu 20% em 2010, conforme dados da Euromonitor International.
"Elas são um excelente complemento para o nosso portfólio. A Patricia e a Norteña entraram no Brasil pelas 'parrillas' e caíram no gosto dos consumidores", afirma Stella Brant, gerente de marketing premium da Ambev, que fabrica as duas marcas. Segundo a executiva, esse mercado representava apenas 2% das vendas totais de cervejas, há dez anos, e hoje corresponde a 5%. "Tudo indica que deverá crescer ainda mais", diz Stella, lembrando que em países de características similares, como a Argentina, a participação já alcança 15%.
No Brasil, o barateamento das importações por causa do real fortalecido, o aumento da renda, a maior oferta e a ampliação do conhecimento sobre cervejas são fatores que impulsionam o consumo de produtos premium.
De acordo com a Ambev, a Norteña é a mais vendida das cervejas uruguaias no Brasil. Ela é pouco encorpada e possui teor alcoólico de 5%. Já a Patricia surgiu em 1936, na localidade de Minas, caracteriza-se por sua espuma "cremosa", pelo uso e malte e lúpulos "nobres", pelo amargor "fino" e por ser "moderadamente encorpada", segundo descrição da empresa.
Por ser fabricada "quase de maneira artesanal", a Patricia tem capacidade de produção limitada. A Ambev não informa quanto da produção total é destinada ao Brasil e ao mercado uruguaio, mas esse pode ter sido um dos fatores para a demora na normalização de seu abastecimento, em pleno início do verão, após greve dos trabalhadores ligados à indústria de bebidas, no fim do ano passado.
Conforme a reportagem do Valor pôde constatar em diversos estabelecimentos do varejo na capital uruguaia, havia dificuldades no suprimento de cerveja Patricia, em meados de janeiro. "Conseguimos atender a demanda de fim de ano com nosso estoque, mas os distribuidores têm alegado problemas para garantir o abastecimento e não temos recebido quase mais nada", disse a gerente de um supermercado da rede Multiahorro em Pocitos, bairro de classe média alta em Montevidéu, que pediu para não ter seu nome revelado. "É até cômico: a cerveja ficou tão famosa no Brasil e tem gente aqui que não consegue encontrá-la, justo no verão."
Quem reina tranquila no Uruguai é a Pilsen - cerveja que também foi trazida ao Brasil pela Ambev, mas foi mantida por pouco tempo. Com amargor intenso, surgiu em Montevidéu, em 1956. Na época, tinha o nome de Pilsen Royal de Luxe. Hoje, não é somente líder em vendas. Transformou-se, no país, em sinônimo absoluto de cerveja.
Veículo: Valor Econômico