Microcervejarias artesanais brigam por 1% do mercado

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Embora as microcervejarias artesanais estejam caindo no gosto do consumidor brasileiro, o desafio para o setor ganhar, de vez, o mercado nacional ainda é grande. Essas empresas precisam conquistar espaço dentro da ínfima parcela de 1% que resta ao segmento considerando a indústria como um todo, além de ter que driblar o peso da carga tributária, salgados 18%.

 

Segundo dados da Nielsen, 99% do mercado brasileiro é dominado pelas gigantes do setor, sendo que a Ambev detém 70% de market share. Em seguida aparecem Schincariol, com 11,6%; Petrópolis, com 9,6%; e Femsa, com 7,2%.

 

Para as cervejarias artesanais, fazer parte de um setor dominado por grandes corporações é, sim, um entrave. Entretanto, de acordo com as empresas consultadas pela reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO, o maior gargalo está na legislação, que não difere os pequenos dos grandes negócios.

 

Segundo Paula Lebbos, diretora de Marketing da Backer, com unidade fabril no bairro Olhos D’água, existe uma demanda do segmento que a produção artesanal seja diferenciada daquela em escala industrial. Isso porque estão em jogo processos e volumes diferenciados, o que torna a concorrência nas condições atuais desleal.

 

Marco Antônio Falcone, sócio-proprietario da Falke Bier, sediada em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tem a mesma opinião. Ele disse que, considerando o cenário atual, mesmo com uma maior adesão do consumidor, fica difícil fazer a empresa crescer.

 

Além da tributação, ele falou sobre a dificuldade de acesso aos pontos de venda, onde as grandes marcas impõem presença. Falcone disse que a Falke Bier já foi excluída de estabelecimentos depois de contestações de companhias como a Ambev. "Eles monopolizam o mercado e, quando começamos a ganhar mercado, tiram os nossos produtos", denunciou.

 

Apesar disso, Falcone acredita ser inviável lutar na Justiça contra as gigantes. Para ele, a solução para as pequenas cervejarias é apostar na criação de uma cultura em prol das bebidas artesanais. "Somente assim os consumidores passarão a exigir nossos produtos."

 

Atenta à expansão do mercado, a Backer vai lançar, neste mês, quatro rótulos
E, pelo que comprovam os números, o ramo de cervejas artesanais está no caminho certo. De acordo com os dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), as pequenas produtoras já movimentam cerca de R$ 2 bilhões, frente aos R$ 30 bilhões do total do mercado.

 

O faturamento já é o dobro registrado há quatro anos e o Sindicato atribui o fortalecimento do setor ao aumento do poder aquisitivo da população e à maior compreensão sobre as artesanais e gourmets.

 

Falcone disse que, apesar dos entraves, os impactos positivos já foram sentidos na Falke Bier. Prova disso é que a empresa prevê investir R$ 1 milhão na abertura de uma nova planta para, pelo menos, dobrar a produção. No momento, a cervejaria fabrica 12 mil litros/mês.

 

A previsão é de que a nova unidade fabril seja inaugurada no segundo semestre do ano. Por enquanto, segundo Falcone, o local não está definido. O interesse de construir a nova unidade no bairro Jardim Canadá foi descartado devido à supervalorização dos terrenos.

 

A Backer também se planejou para ganhar fôlego nesse momento de expansão do setor. Ainda este mês, a marca vai lançar quatro rótulos, todos utilizando ingredientes regionais em suas receitas, como açúcar mascavo, capim-limão e laranja da terra.

 

Inicialmente, a fabricação dos novos produtos será tímida - cerca de dois mil litros de cada uma das cervejas. Paula Lebbos explicou que a ideia é criar no Brasil, assim como ocorre em outros países, um estilo próprio de cerveja. No total, a Backer tem capacidade instalada para produzir 240 mil litros de bebida/mês. Hoje, nove receitas são processadas na planta.

 

A Trovense, cervejaria artesanal sediada em Contagem (RMBH), também investiu recentemente em novos rótulos. No mercado desde 2006 com dois tipos de chope, a empresa lançou, no ano passado, dois tipos da cerveja Reines Bier. Hoje, a Trovense tem capacidade para produzir 20 mil litros/mês.

 

Diferentemente do que ocorre nas outras duas companhias consultadas pela reportagem, as comercializações da Trovense são feitas diretamente para o consumidor final. O gerente-geral, Helim Sá, falou que essa foi a única opção encontrada para obter uma margem de lucro maior.

 

Assim como na Falke Bier e na Backer, os negócios da Trovense são afetados pela alta carga tributária. Conforme Sá, o excesso de tributos inviabiliza a atuação no setor e a geração de empregos.

 

Veículo: Diário do Comércio - MG


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