A determinação da InBev em se tornar a maior cervejaria do mundo parece intacta, mas a empresa ainda tem a tarefa de convencer investidores de que conseguirá fazer isso depois de ter sido forçada a adiar uma emissão de títulos no mês passado.
Os investidores buscarão uma certa segurança de que a InBev conseguirá de fato levar adiante a compra da Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, por US$ 52 bilhões, quando ambas as empresas divulgarem resultados de terceiro trimestre amanhã.
A InBev, da qual faz parte a brasileira Companhia de Bebidas das Américas (AmBev), deve reafirmar seu compromisso com o negócio, mas também poderá fornecer mais detalhes sobre o financiamento, possivelmente mostrando que tem certo grau de flexibilidade.
A companhia já assegurou US$ 45 bilhões em financiamento, incluindo US$ 7 bilhões a serem gerados por desinvestimentos, e está em busca de levantar US$ 9,8 bilhões via aumento de capital que deveria ocorrer em princípio na segunda metade de outubro.
As ações da Anheuser-Busch atingiram o patamar de US$ 54,35, muito abaixo do preço de oferta de US$ 79, em 24 de outubro, dia em que a emissão de dívida foi adiada. Apesar de uma recuperação, as ações da empresa ainda estão sendo negociadas com um pesado desconto de 9% em relação ao preço de oferta.
"Ainda resta um medo irracional de que algo pode acontecer", disse Andrew Holland, analista do Dresdner Kleinwort, acrescentando que acredita que o acordo deve seguir em frente.
A maioria dos analistas crêem que a intenção da InBev é firme. Desde a sua formação, com a fusão em 2004 da belga Interbrew com a brasileira AmBev, um lema estratégico da empresa tem sido "ser a maior para ser a melhor".
O presidente-executivo da InBev, Carlos Brito, disse que não viu problemas quando a SABMiller assumiu o primeiro lugar em 2007, mas observadores acreditam que a expressão "de volta ao maior" poderia ser acrescentado ao lema.
O acordo também faz sentido para a maioria dos analistas, particularmente se a InBev conseguir enxugar custos de maneira tão eficiente quanto o fez em sua própria estrutura.
A InBev também não tem nenhuma saída clara. Na verdade, se a InBev cancelar sua oferta de US$ 70 por ação, enfrentará uma multa de rescisão de US$ 1,25 bilhão, e reclamações de acionistas da Anheuser, cujas ações poderiam cair para o patamar de US$ 40.
As queixas dos acionistas poderiam custar entre 15 bilhões e 25 bilhões de dólares, de acordo com algumas estimativas. "A operação deve certamente acontecer uma vez que o contrato foi escrito de tal forma que poderá criar uma causa legal enorme, superando os benefícios de uma desistência", disse Trevor Stirling, analista do Bernstein Research.
Stirling argumenta que a InBev poderá se beneficiar se convencer investidores de que poderá financiar o negócio com um pouco mais de dívida até estar pronta para uma emissão de títulos. Com sua dívida de longo prazo classificada como "Baa2" ou "BBB+", a InBev tem um pouco (mas não muito) de espaço para manobra, assumindo que a empresa pretende manter seu grau de investimento.
A InBev também poderá escolher se fornecerá mais detalhes sobre os planos de desinvestimento. Parques temáticos da Anheuser-Busch, negócios com embalagens e as operações da InBev na Coréia são os itens mais prováveis a serem vendidos, mas podem não atingir os US$ 7 bilhões necessários. "Talvez eles também tenham que rever os negócios das cervejarias, mas esses outros itens são mais interconectados", disse Holland.
Veículo: Gazeta Mercantil