Refrigerantes perdem o gás e água de coco ganha espaço

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As vendas de refrigerantes andam mornas nos Estados Unidos e a indústria de bebidas, de olho no próximo filão, tem aumentado suas apostas numa velha conhecida das praias brasileiras: a água de coco.

Promovida como uma bebida esportiva natural que ajuda a reidratar corpos cansados, a água de coco está chegando a um número cada vez maior de prateleiras nos EUA, em caixas, latas ou garrafas. As vendas do varejo no país subiram quase US$ 400 milhões ano passado, de acordo com estimativas da indústria.

É uma minúscula parcela do mercado americano de bebidas não alcoólicas, que movimenta mais de U$ 100 bilhões, mas o segmento praticamente dobrou sua receita anual desde 2005 - com a ajuda de celebridades da música, modelos e atletas que fizeram propaganda da bebida, mesmo com o surgimento de processos relacionados à saúde.

A Vita Coco, líder em vendas de água de coco nos EUA, afirma que suas vendas mais do que dobraram em 2011, para quase US$ 100 milhões, a maior parte desse total nos EUA, sete anos depois que seu cofundador Michael Kirban começou, de patins, a fazer entregas para lojas em Nova York.

A marca, controlada por uma empresa de capital fechado, espera atingir cerca de 55.000 lojas em todo o país até abril, mais do que o dobro alcançado em dezembro.

A Coca-Cola Co. planeja exercer sua opção para comprar uma participação majoritária na Zico, a marca de água de coco número dois nos EUA em vendas. A operação deve acontecer nas próximas semanas, seguindo-se a um investimento de US$ 15 milhões na Zico em 2009. A Coca-Cola não revela o valor, mas a decisão de exercer a opção veio depois de a Zico atingir metas de vendas.

A receita da Zico quintuplicou ano passado, diz Deryck van Rensburg, que comanda a unidade de novos empreendimentos da Coca-Cola.

Mark Rampolla, o fundador da Zico de 42 anos, diz que a marca, em rápida ascensão, reduziu em 2011 a distância em relação à Vita Coco, que controla entre um terço e metade do mercado nos EUA, de acordo com estimativas da indústria. Ele espera um outro empurrão da Coca-Cola, que tem ajudado a dobrar a distribuição da Zico este ano.

A PepsiCo. Inc., ao mesmo tempo, está iniciando este ano a distribuição da O.N.E., terceira no ranking do mercado, depois de comprar uma participação majoritária na empresa, em 2010, por uma quantia não revelada. A Naked, linha de sucos da PepsiCo., ocupa a posição número 4 em vendas de água de coco.

A água de coco, com sua cor clara e sabor levemente doce, é vendida como um meio natural de reidratação, rica em eletrólitos, particularmente potássio, que previnem as câimbras.

Há muito tempo popular no Brasil, a água de coco não contém gordura, ao contrário do leite de coco, que é extraído da polpa de cocos mais maduros. A água de coco também tem menos calorias do que a maioria das bebidas com frutas.

Com os volumes de venda de refrigerantes encolhendo há mais de cinco anos nos EUA, a Coca-Cola e a PepsiCo. estão cada vez mais dispostas a comprar participações em novos segmentos e novas marcas, antes que cresçam muito e se tornem muito caras.

A ciência por trás da água de coco é nebulosa. Um estudo acadêmico da Malásia, publicado em 2002, constatou que a água de coco fresca é um meio de hidratação efetivo, com "menos náusea, menos sensação de estômago cheio e nenhuma indigestão" quando comparada com bebidas à base de carboidratos e eletrólitos ou mesmo água pura.

Mas uma empresa privada americana que testa produtos de consumo, a ConsumerLab.com, divulgou ano passado que algumas amostras da Vita Coco e da O.N.E. testadas pela empresa tinham muito menos sódio, um importante eletrólito perdido pelo suor, do que o informado nos rótulos ou do que no Gatorade.

Semana passada, a Vita Coco fechou acordo para pagar US$ 10 milhões para encerrar um processo movido por consumidores, motivado pelo estudo da ConsumerLab, que não fez parte da ação judicial. A Vita Coco, que não admitiu ter cometido nenhuma infração, informou que os níveis nutricionais podem variar em todos os produtos naturais, mas a companhia está ajustando seus rótulos. A PepsiCo., que tem uma opção para comprar 100% da O.N.E., está envolvida num processo semelhante em relação aos rótulos, mas não quis comentar sobre o relatório da ConsumerLab.

A ConsumerLab diz que o teste conduzido em 2011 não foi financiado por empresas do setor. O estudo revelou volumes maiores de sódio na versão engarrafada da Zico. A Zico, por sua vez, foi processada por consumidores que alegaram que as embalagens da empresa não alertam o suficiente que parte de sua água de coco é concentrada. A Zico diz que o processo não tem fundamento. Os produtos da Vita Coco e da O.N.E. não são à base de concentrado.

A Vita Coco é controlada por Kirban e outro cofundador, Ira Liran, junto com a Verlinvest, uma firma de investimento belga; juntos, eles controlam 80%, com participações quase idênticas. Os 20% restantes são divididos entre os 125 funcionários da Vita Coco e várias celebridades, entre elas a cantora Madonna, o ator Matthew McConaughey e a estilista de moda Diane von Furstenberg.

A Zico, que tem sede na Califórnia e não é relacionada ao ex-jogador da Seleção Brasileira, está usando um jogador de basquete (e investidor), Kevin Garnett, como garoto-propaganda. Outros investidores minoritários incluem a modelo Gisele Bündchen, e a apresentadora de TV Kelly Ripa e seu marido, o ator Mark Consuelos. O jogador de beisebol Alex Rodrigues, um ex-investidor que costumava receber água de coco da Zico em casa, agora tem uma participação na Vita Coco.

Um dos desafios da indústria tem sido a oferta de cocos, já que os importadores americanos dependiam exclusivamente do Brasil e tiveram de lidar com a escassez da fruta à medida que a demanda aumentou. Em 2009 a PepsiCo. comprou a Amacoco, a maior fabricante de água de coco do Brasil, mas a marca não é vendida na América do Norte.

A O.N.E., com sede em Los Angeles, ficou sem cocos ano passado e transferiu a produção para a Indonésia e para as Filipinas, que devem fornecer mais de 75% da água de coco para a companhia em 2012. O brasileiro Rodrigo Veloso, de 32 anos, cofundador da O.N.E., diz que tenta persuadir os fornecedores de que eles podem ganhar mais dinheiro plantando cocos com maturação de 9 a 10 meses, que contêm mais água e com melhor sabor.

Até agora, muitos esperam até 14 meses, quando os cocos têm mais polpa para a produção de leite e óleo, mas jogam a água fora.

A Vita Coco espera importar metade da água de coco de fora do Brasil este ano. A Zico compra cocos da Indonésia, da Tailândia e do Brasil.



Veículo: Valor Econômico


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