Processo de reconhecimento ocorreu em Washington, com troca de cartas assinadas entre os dois países.
Os produtores brasileiros deram mais um passo importante para a abertura de novos mercados no exterior para a cachaça, denominação exclusiva e genuína da aguardente de cana produzida no Brasil que será reconhecida pelos Estados Unidos. O processo de reconhecimento ocorreu ontem em Washington, com a troca de cartas assinadas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e o representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk.
Pelo acordo, o Brasil vai reconhecer como legitimamente americanos os uísques do tipo bourbon (feito à base de milho) e tennessee (produzido no Estado norte-americano do Tennessee).
Em contrapartida, o reconhecimento vai permitir às empresas brasileiras venderem a aguardente de cana nos Estados Unidos apenas com o nome de cachaça. Pelas regras norte-americanas, que leva em conta a matéria-prima, o rótulo das garrafas da bebida brasileira, desde 2000, devem conter a expressão "Brazilian Rum" (rum brasileiro), sem permitir a diferenciação com rum, que também é fabricado a partir da cana.
O presidente da Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade (Ampaq), Alexandre Wagner da Silva, disse que o reconhecimento dos Estados Unidos abre a possibilidade de divulgação do produto brasileiro num mercado que tem alto potencial. Ele observa que na Alemanha a cachaça é um produto com identidade própria, enquanto nos Estados Unidos é confundida com o rum.
Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que a Alemanha é o principal destino das exportações brasileiras de cachaça que, no ano passado, atingiram 9.969 toneladas, com faturamento de US$ 17,286 milhões. A Alemanha respondeu por 19% do valor e por 29% do volume embarcado no ano passado. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição, com 11% do valor e 6% do volume. Em terceiro ficou Portugal, com 10% do valor e 8% do volume.
Minas - O dirigente da associação mineira lembra que um ponto importante a ser destacado é que as exportações de cachaça correspondem por menos de 1% da produção nacional, estimada em 1,3 bilhão de litros por ano, somando a produção industrial com a artesanal. Segundo ele, somente a produção dos alambiques soma 400 milhões de litros, distribuídos por 30 mil fabricantes.
Já a produção de cachaça artesanal em Minas Gerais deverá crescer cerca de 10% em 2012. O aumento esperado se deve as boas perspectivas de mercado e às políticas criadas para estimular o desenvolvimento do setor. Alexandre Silva diz que Minas responde por 60% da produção nacional de cachaça, num total de 240 milhões de litros. Ele observa que o principal problema da atividade é a informalidade, pois dos 9 mil produtores apenas 900 estão legalizados junto ao Ministério da Agricultura.
Na opinião do dirigente, o principal entrave é a tributação, "pois o fabricante da aguardente industrial recolhe R$ 0,14 por litro de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), enquanto o produtor da cachaça artesanal paga R$ 2,90."
Segundo o presidente da Ampaq, as expectativas em relação aos próximos anos são positivas. A criação em 2011 do Fórum da Cachaça, pelo governador Antonio Anastasia, é o principal fator que deverá alavancar a produção e promover a organização da cadeia da cachaça em Minas Gerais.
"Com a criação do Fórum já estamos planejando as ações que irão estimular o segmento. O trabalho em conjunto com o governo será fundamental para o desenvolvimento do setor", disse recentemente Silva.
Segundo nota do Ministério do Desenvolvimento, há mais de 40 anos a cachaça está na pauta de discussão do Brasil e Estados Unidos. O diálogo se intensificou na última década, depois da obrigatoriedade do uso da expressão "Brazilian Rum" nos rótulos do destilado brasileiro.
Veículo: Diário do Comércio - MG