Consecitrus 'ensaia' os primeiros passos

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Após submeter seu estatuto à análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), por meio de documento protocolado ontem em Brasília, o Conselho dos Produtores de Laranja e das Indústrias de Suco (Consecitrus) prepara-se para iniciar formalmente seus trabalhos nas próximas semanas.

Criado para tentar ordenar as relações no segmento, o Consecitrus nasceu com o apoio da Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), formada por Citrosuco / Citrovita, Cutrale e Louis Dreyfus, que lideram as exportações globais de suco de laranja, e da Sociedade Rural Brasileira (SRB), que representa citricultores que fornecem a fruta para as indústrias.

Apesar de estar sendo costurado desde 2009, o conselho provavelmente iniciará suas discussões sem a presença dos grupos de citricultores representados pela Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), com sede em Bebedouro (SP), e da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), cuja rede de sindicatos associados reúne pelo menos 160 de regiões citrícolas.

Essa divisão entre os produtores de laranja, que inicialmente deu sinais de que poderia ser resolvida na mesa de negociações, talvez seja o primeiro grande desafio do Consecitrus, que tratará apenas de questões ligadas à cadeia exportadora de suco de laranja. Não se envolverá, por exemplo, em assuntos ligados ao mercado de frutas de mesa.

Nessa linha de atuação, o foco estará concentrado em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do planeta e onde as indústrias mantêm praticamente todas as fábricas de processamento que possuem. Mas também olhará para o Triângulo Mineiro, região que complementa o abastecimento de laranja das empresas, que para isso também mantêm seus próprios pomares.

"É fundamental que a cadeia se alinhe, pense de forma coordenada e tenha uma nova dinâmica", afirma Alexandre Mendonça de Barros, economista do braço agrícola da MB Associados que foi contratado para desenvolver toda a parte técnica que norteará as negociações no âmbito do Consecitrus. Em entrevista ao Valor, Mendonça de Barros chamou a atenção para a importância dessa maior integração entre os produtores e para que as partes qualifiquem seus interlocutores para os intrincados debates técnicos que virão.

Abertas ao diálogo por uma questão de sobrevivência, já que a demanda mundial por suco de laranja vem definhando na última década e é preciso acelerar os ganhos de produtividade ao longo da cadeia, as indústrias abriram suas planilhas e, segundo Mendonça de Barros, de fato têm fornecido os dados necessários para o desenvolvimento dos parâmetros que nortearão as negociações.

Para os produtores, a tarefa é bem mais difícil. Em primeiro lugar porque eles não são apenas três - Citrosuco e Citrovita uniram suas operações -, mas cerca de 12 mil. E, além de não ser um grupo homogêneo, grande parte deles é de pequeno porte e não tem um nível de produtividade condizente com o dos mais eficientes e com o dos pomares das indústrias, o que certamente truncará o diálogo. Estima-se no mercado que 120 grandes citricultores sejam donos de quase metade dos pomares de laranja de São Paulo.

Resolvido ou não esse problema de interlocução, e uma vez que a adesão ao Consecitrus é voluntária, outros desafios importantes terão de ser encarados. Segundo Mendonça de Barros, entre eles estão a transparência de dados para a discussão de custos de produção e a construção de um modelo de cálculo de preços que permita sua adaptação ao "mundo microeconômico", com a inclusão de fatores como variedades de laranja em questão, fretes e período de colheita e entrega da fruta.

Além disso, será preciso definir quais os valores de venda do produto final serão utilizados, uma vez que distribuição e varejo também se apropriam de margens na cadeia, e se entrará na discussão a concentração de sólidos solúveis na laranja, que pode mudar conforme a variedade ou por questões naturais que afetam o desenvolvimento da safra.

Para isso, lembra Mendonça de Barros, o Consecitrus contará com um corpo técnico permanente, distribuído por uma estrutura composta por cinco superintendências (administrativa e financeira, agronômica e operacional, assuntos fitossanitários, estudo econômicos e marketing e comunicação), com suas respectivas competências definidas no estatuto. A divisão mostra que as preocupações no segmento vão além dos preços e exigem transparência. "Por isso o Consecitrus é uma quebra de paradigmas", afirma.



Veículo: Valor Econômico


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