O rei dos conhaques

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Com suas preciosas e caríssimas garrafas, a francesa Rémy Martin coloca o Brasil no centro de seus negócios.

 

O que faz uma pessoa gastar até US$ 40 mil em uma garrafa de uma edição especial de conhaque? Para Vincent Géré, chefe dos enólogos do precioso Louis XIII, a badalação e o preço exorbitante têm fundamento. A bebida é produzida pela legendária Rémy Martin, uma espécie de Rolls-Royce da indústria de bebidas mundial, fundada em 1724, bem antes da Revolução Francesa. Com uma produção perfeccionista, o conhaque Louis XIII apresenta um sabor inigualável, deixando notas de baunilha, mel e frutas por uma hora no paladar. “É mesmo o rei dos conhaques”, afirma Géré. Segundo ele, embora exporte para o País desde 1907, a Rémy Martin, dona de um faturamento anual estimado em € 360 milhões, resolveu investir para valer na promoção de seu carro-chefe no mercado brasileiro. “Hoje, o Brasil é um dos lugares considerados mais promissores para a companhia, isso ao lado da China e da Rússia”, afirma Géré.


 
De olho na expansão de sua marca no País, Géré passou por São Paulo e Brasília para realizar degustações do Louis XIII. Sorridente, o especialista disse que os brasileiros sabem o que é bom. “Eles viajam muito e sabem identificar produtos de qualidade”, diz. Com o intuito de aumentar as vendas no Brasil, a Rémy Martin, que tem entre seus principais consumidores americanos e chineses, conta até, a exemplo de grifes de moda e de perfumes, com uma embaixadora da marca. Trata-se da executiva paulistana Jessia Krell, responsável pela divulgação do conhaque na alta sociedade. O público-alvo, é claro, são os endinheirados. Entre eles, políticos, artistas, empresários e abonados em geral, que seguem a tradição de Winston Churchill – que, em 1951, celebrou sua indicação para o posto de primeiro-ministro do Reino Unido com uma garrafa do célebre conhaque –, e astros do show biz, como o cantor britânico Elton John e o ator americano Jamie Foxx, que se dizem apaixonados por Louis XIII.


 
O zelo pela excelência da bebida começa na colheita da uva. Apenas cepas dos vinhedos da região da Grande Champagne – a mais fértil entre as seis áreas de cultivo de Cognac, no centro-oeste da França – entram na composição de Louis XIII. As eaux-de-vie (águas de vida, em português, um destilado de uva usado para formar o blend) também passam por uma seleção rigorosa. Neste ano, por exemplo, apenas 20, das mil amostras fornecidas, foram aprovadas. Depois da apuração, as eaux-de-vie escolhidas passam pelo processo de envelhecimento, que pode durar um século em barris tierçon. O processo é o mesmo desde 1874, ano da primeira garrafa da bebida. “Não há nenhum conhaque tão antigo e complexo quanto o Louis XIII”, afirma Géré. “O segredo do sucesso está na passagem do savoir-faire da destilação de geração para geração.”
 


De acordo com ele, todo o cuidado é pouco para garantir que a bebida continue a mesma que conquistou seus primeiros fãs em 1874. Por exemplo: o cellar master, que é a pessoa encarregada da elaboração da bebida, olha nos olhos de seu sucessor e desafia: “Daqui a 100 anos, isso tem que estar tão bom quanto é hoje.” Mas o conservadorismo em volta da marca não impede evoluções em sua trajetória. Pela primeira vez na história, o cellar master da Louis XIII é uma mulher, a francesa Pierrette Trichet. “Recebi o bastão de meu antecessor, George Clot, e tenho a missão de mantê-lo e passá-lo adiante na melhor condição possível”, afirma Pierrette. “A história da Rémy Martin é um exemplo de sucesso, vou apenas continuar essa tradição.”
 


Por enquanto, apenas o conhaque Louis XIII está disponível para venda no Brasil. A garrafa de 700 ml, que custa R$ 9,5 mil, pode ser encontrada nos hotéis Fasano, Emiliano e Unique e no Empório Santa Marta, todos localizados em São Paulo. A versão de três litros da bebida, intitulada Le Jeroboam, chegará ao País em breve. Além da Le Jeroboam, ainda existem as edições especiais Rare Cask (com aroma mais intenso que o tradicional) e Black Pearl (limitado em 800 unidades), ainda sem data de chegada ao Brasil. Géré sabe que o Louis XIII é para poucos e se orgulha disso. “O nosso conhaque é para aqueles que chegaram ao ápice da vida e não querem nada menos que o ‘crème de la crème’ do mundo do luxo”, afirma.
 

 

Veículo: Isto É Dinheiro


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