Por que a cervejaria brasileira pagou US$ 1,2 bilhão para assumir o controle da dominicana CND, vencendo no último instante uma disputa com a rival holandesa Heineken.
No futebol são comuns as situações em que um time leva uma virada nos minutos finais, após liderar a partida. A mesma situação, às vezes, acontece nos negócios. Uma amostra disso ocorreu na segunda-feira 16, quando a fabricante brasileira de bebidas Ambev suou a camisa para anunciar a compra de 51% da Cervecería Nacional Dominicana (CND), após quase um ano de negociações. Poucas horas antes do anúncio, dava-se como certo no mercado que a venda seria feita para a holandesa Heineken, que já detinha uma participação minoritária na companhia de Santo Domingo. Uma melhora na oferta brasileira, que chegou a US$ 1,2 bilhão – vista como “elevada” por analistas – mudou o panorama do jogo e convenceu o grupo E. Leon Jimenes (ELJ), controlador da cervejaria dominicana, a apitar o final da disputa.
Trata-se da segunda rasteira que a Heineken leva no espaço de poucos meses. No ano passado, a empresa também era considerada favorita para adquirir a brasileira Schincariol, mas foi vencida no último instante pelos japoneses da Kirin, que fizeram um cheque de R$ 4 bilhões para assumir o controle da fabricante de Itu (SP). Com isso, os holandeses mantiveram sua fatia de mercado abaixo de 10% no Brasil, diante dos 70% da Ambev. Após a derrota na disputa na República Dominicana, a Heineken assumiu uma postura discreta, limitando-se a comunicar que estava satisfeita com os valores recebidos pelas ações que detinha na CND. Segundo analistas, possivelmente a empresa vai utilizar o dinheiro para turbinar seus negócios em mercados de maior volume, como o México e o próprio Brasil.
Nesse sentido, pode ganhar força um velho sonho da empresa: a aquisição da Cervejaria Petrópolis, detentora de 10% das vendas no Brasil e dona das marcas Itaipava e Crystal. “Faz todo o sentido”, diz Bruno Abdo Maia, analista especializado no varejo de bebidas. “É a única forma de crescer o suficiente para tentar fazer frente à Ambev no Brasil.” Fundada em 1929, a CND é uma potência na República Dominicana, com faturamento na faixa de US$ 500 milhões anuais. Ela domina 90% do mercado local e mantém forte participação nos países vizinhos, especialmente nos Estados Unidos, para onde exporta a Presidente, sua marca principal de cerveja.
Com a compra, a Ambev poderá utilizar os canais de distribuição que já possui nos EUA através de sua controladora AB Inbev – dona da marca Budweiser, uma das mais vendidas no mercado americano – para levar a Presidente para uma faixa mais abrangente de consumidores, que não a colônia latina. O diretor-geral da Ambev, João Castro Neves, já sinalizou que pretende aumentar o grau de internacionalização da marca. Hoje, as exportações respondem por apenas 5% do faturamento da CND. Com a compra, a Ambev se torna líder no mercado de bebidas da América Central, uma região estrategicamente localizada. A vizinha Venezuela, por exemplo, é um dos dez maiores consumidores de cerveja do mundo.
A economia da própria República Dominicana teve expansão de 4,5% em 2011, três vezes mais que a média europeia. Um relatório do banco Barclays vê na região potencial para aumentar as vendas de cerveja da Ambev em até 3%. “Além disso, a Ambev joga a Heineken para fora de seu quintal”, afirma um especialista que preferiu não se identificar. Consultada pela DINHEIRO, a Ambev informou que seu foco imediato será concluir a transação e preparar formas de aumentar a sinergia das empresas, incluindo “eficiências resultantes da integração das operações, troca de melhores práticas, maior inovação e desenvolvimento de marcas premium na região”.
Veículo: Isto É Dinheiro