O ano das cervejas 'super premium'

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Marcas vendidas a mais de R$ 10 fazem parceria com distribuidoras de destilados e vendas crescem 12%, bem acima da média do setor


A Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto, já estava dando 2012 como um ano perdido. No primeiro semestre, a empresa não conseguiu vender mais do que no mesmo período do ano passado. As vendas se estagnaram. Mas, depois de fazer acordos com cerca de dez empresas de distribuição especializadas em bebidas quentes, como uísque e vodca, o cenário mudou.

"Só nesse segundo semestre, vendemos 50% mais em volume do que vendemos na segunda metade do ano passado", diz Marcelo Carneiro da Rocha, fundador e diretor da cervejaria.

Em um ano em que o mercado geral de cervejas não deve crescer mais que 2% ou 3%, segundo as previsões mais otimistas, fabricantes de bebidas "super premium" - as cervejas que custam mais de R$ 10 a garrafa de 600 ml, como Colorado, Therezópolis e outras marcas nacionais - não têm do que reclamar.

Elas vão fechar 2012 com uma alta de média de 12% nas vendas em litros, de acordo com um estudo da Concept, consultoria especializada no mercado de bebidas. "Há aproximadamente quatro anos esse segmento vem se desenvolvendo, mas agora o crescimento é mais consolidado porque as pequenas fabricantes de cervejas super premium estão aprendendo a distribuir melhor seus produtos", diz Adalberto Viviani, diretor da Concept.

Essas cervejarias, segundo ele, fizeram acordos com distribuidoras especializadas em fornecer bebidas de maior valor agregado para bares e restaurantes voltados para as classes A e B. "São empresas regionais, com atuação focada em determinadas praças", explica Fernando Rocha, diretor de marketing da fluminense St. Gallen, fabricante da cerveja Therezópolis.

A própria St. Gallen, segundo ele, trabalha atualmente com cerca de 20 distribuidoras, cada uma focada em uma região do País. "Enquanto uma distribuidora de bebidas comum atua com 3 mil itens, essas pequenas têm no máximo 200, mas todos produtos de alto valor agregado", explica Rocha.

A Concept, segundo Viviani, fez um levantamento com 280 bares e restaurantes sofisticados de São Paulo. Em 100% deles, há alguma marca de vodca à venda. A tequila está em 87% e o uísque, em 85%. "Se as cervejarias aproveitarem a mesma distribuição dessas bebidas, elas chegarão ao consumidor que é o alvo do produto super premium que produzem. Por isso, elas estão buscando essas parcerias", explica Viviani.

Foi dessa maneira, segundo Rocha, que a Therezópolis passou a ser conhecida também fora do varejo especializado. Depois de firmar contratos com essas distribuidoras, de acordo com ele, representantes de redes de supermercado passaram a entrar em contato com a cervejaria. "Normalmente, em supermercado, é o fabricante que tem de brigar para conseguir um espaço na prateleira. Com a gente, a situação foi inversa. Os supermercados, que criaram espaços novos para cervejas especiais, começaram a pedir para gente vender para eles."

Atualmente, segundo a CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja), as cervejas especiais representam em média de 4% a 5% do mercado nacional. Nessa fatia, também estão incluídas as super premium e as importadas.

"Esse segmento cresce por causa do ganho de renda da população, pela maior oferta de marcas no mercado nacional e pela maior exposição do brasileiro a culturas estrangeiras", diz Paulo Macedo, diretor da CervBrasil e vice-presidente de relações corporativas da Heineken Brasil.

Classe C se retrai. Embora o resultado do ano seja bom para as super premium, as premium (mais caras que as marcas populares, mas com preço abaixo de R$ 10) não avançaram em 2012. "As vendas vinham em bom ritmo, mas entre setembro e novembro elas pararam de crescer", diz Macedo.

"A classe C, que estava experimentando essas novas cervejas, ficou com o orçamento mais apertado e voltou para as marcas mainstream", diz ele, se referindo às cervejas populares.

Até mesmo essas marcas mais baratas, segundo ele, sofreram com o aperto da renda. Até outubro, as empresas do setor registravam uma queda nas vendas de 0,4% em volume na comparação com os dez primeiros meses do ano passado. "Esperamos recuperar nesses últimos dois meses do ano", afirma Macedo.

O problema, porém, é que as cervejas (mesmo as de marcas mais baratas) tiveram aumento de preço de 14,8% este ano até outubro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fipe. O que mais impulsionou a alta de preços, segundo Macedo, foi a alta do dólar. "Hoje, 60% dos custos são matérias-primas dolarizadas."


Em 2013, preço deve ficar ainda mais salgado


O consumo de cervejas "super premium" sofre menos impacto quando os preços aumentam. "É claro que o consumidor não gosta, mas ele não deixa de comprar, como acontece com o maioria dos consumidores das cervejas populares", diz Paulo Macedo, diretor da CervBrasil e vice-presidente de relações corporativas da Heineken Brasil. O problema é que a previsão para o ano que vem é de mais aumentos de preço, seja na ponta mais popular, quanto na de maior valor agregado. O gatilho do reajuste será uma elevação de 2,5% na carga tributária da cerveja, prevista para abril. "O grande sócio do setor cervejeiro é o governo pois 50,5% do preço final da bebida corresponde a impostos. Só os tributos federais são um terço dessa carga", afirma.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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