A bebida tradicional da China é o chá. Mas os novos ricos estão dispostos a experimentar hábitos ocidentais, entre eles o de tomar vinho às refeições, como um sinal de status e sofisticação. E a Miolo Wine Group, que iniciou neste mês a venda de 10 dos seus vinhos no site especializado Yes My Wine, um dos maiores do mercado chinês, sabe o potencial que tem em mãos.
Com a ajuda deste site, a vinícola estima que irá aumentar neste ano em 50% suas exportações para a China, o terceiro maior destino internacional de seus vinhos, depois da Inglaterra e Holanda. O Yes My Wine, vendeu 3,5 milhões de garrafas no ano passado no mercado chinês. Segundo projeções da Organização Mundial do Comércio (OMC), a China poderá superar os Estados Unidos este ano como o maior mercado de comércio eletrônico do mundo.
No ano passado, o grupo - que pertencente às famílias Miolo, Benedetti, Tecchio, Randon e ao narrador esportivo Galvão Bueno, um sócio recém-chegado - exportou 560 mil garrafas para mais de 30 países.
Do faturamento de R$ 128 milhões em 2012, 10% corresponderam às vendas no mercado externo. A vinícola trabalha para que a fatia dos estrangeiros aumente para 30% em 2020, quando estima que suas vendas totais cheguem a R$ 500 milhões.
"A entrada no comércio eletrônico é o mais próximo que podemos estar da grande distribuição. A entrada em supermercados será um passo mais complexo", diz a gerente de exportação para a Ásia e Américas da companhia, Morgana Miolo. A vinícola vendeu o primeiro lote de 12 mil garrafas para o país no final de 2010. Em 2011 abriu uma loja de quatro andares em Xangai.
Morgana diz que vender vinho na China é totalmente diferente de operar nos Estados Unidos, onde os clientes são pragmáticos. "Uma vez nosso importador convidou um cliente e sua família para uma degustação na nossa principal loja de Xangai. Desde então entendi que lá os negócios começam com a confiança e amizade", diz. Não é à toa, que a loja de quatro andares da Miolo, além de estoque e vitrine de produtos, tem um andar inteiro com sofás confortáveis e música para que os clientes sintam-se em casa, antes de abrir a carteira. Além da loja grande, a Miolo está em outras duas pequenas, em bairros elegantes de Xangai.
Em 2011, as importações de vinho na China aumentaram 74% em relação ao ano anterior. Do total, quase metade foi de vinhos franceses, 20% australianos e 10% chilenos. O chinês toma um litro de vinho por ano. O consumo ao ano no Brasil é de dois litros.
O Miolo Wine Group não está sozinho nesta investida na China. Até 2010, este era um destino inexistente para o vinho brasileiro. Mas em dois anos o mercado chinês passou à primeira posição no ranking em valor de exportações de vinho fino engarrafado. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), em 2012, as vendas à China cresceram 66% em relação a 2011, contabilizando US$ 621,5 mil. Em volume, o crescimento foi de 59% no período, com a comercialização de 73,2 mil litros.
Para fomentar as exportações de vinho, o Ibravin em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), criou o projeto Wines of Brasil em 2010 e definiu como países alvo China/Hong Kong, Reino Unido, Polônia, Suécia, Canadá e Alemanha. A esse projeto, 34 empresas estão associadas.
A estratégia inicial, focada na construção da imagem em detrimento de maiores volumes, fez a Miolo costurar uma rede de parcerias com hotéis e restaurantes estrelados na China. Dentre os ambientes exclusivos está o The House of Roosevelt, um clube de vinhos cuja carta inclui mais de dois mil rótulos - entre eles, os vinhos da Miolo Lote 43, Quinta do Seival Castas Portuguesas e Merlot Terroir. Em três anos, a Miolo e o importador Ningbo Ke Peng investiram, juntos, US$ 500 mil.
Veículo: Valor Econômico