Dado Bier lança 'caseira' de luxo a R$ 200 a garrafa
Parece ter acabado, felizmente, o tempo em que cervejas escuras brasileiras eram sinônimo de bebidas "docinhas" e suavizadas - leia-se malzbiers. O "renascimento" de stouts, porters, dunkels e afins no País teve seu ponto alto no fim de 2008, quando a Baden Baden Stout e a Colorado Demoiselle ganharam medalhas de ouro no European Beer Festival, competição cervejeira alemã - a Eisenbahn Dunkel faturou bronze. Agora, a microcervejaria Dado Bier, de Porto Alegre, prepara o lançamento de uma Double Chocolate Stout. Como indica o nome, ela leva chocolate na fórmula e terá 10,5% de teor alcoólico - o dobro da pilsen cotidiana.
A cria da Dado Bier é fruto de duas parcerias. Uma é a da microcervejaria com os homebrewers (cervejeiros caseiros) cariocas Ricardo Rosa e Mauro Nogueira. Esse tipo de associação tem crescido de 2008 para cá; o próprio Ricardo atuou na criação da Demoiselle, uma porter que leva café em sua receita, produzida pela Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto. Foi a partir dessa experiência que ele foi procurado por Eduardo Bier, dono da Dado Bier, para tocar o novo projeto.
"Como estava fazendo algumas cervejas com o Mauro, sugeri trabalharmos juntos. Ele se empolgou e logo começou la pesquisar sobre o uso de chocolate em cervejas", disse Ricardo. A outra aliança, ainda negociada em sigilo, é com uma conhecida fábrica de chocolate, para fornecimento do ingrediente.
POTÊNCIA
A cerveja deve ser lançada em garrafa até o início do segundo semestre. Mas o Paladar degustou, em primeira mão, a Double Chocolate Stout, que já está sendo comercializada na versão chope nos bares da Dado Bier em Porto Alegre (R$ 12,90 o copo). Trata-se de uma boa e interessante cerveja de cor preta sólida, com espuma bege escura, de boa formação. No aroma, percebem-se notas de malte torrado destacadas, café, chocolate - narizes mais atentos podem distinguir variações ao leite e amargo - e frutado fugaz.
A potência alcoólica é o "cartão de visitas" do sabor: o protótipo tinha 11,2%, marca próxima dos 11,5% da Eisenbahn Lust, recordista no quesito entre produções nacionais. A ideia, porém, é que a versão engarrafada tenha em torno de 10,5%. O álcool gera calor, mas surge junto a boas notas de torrado e chocolate; há, ainda, um quê licoroso e final moderadamente seco. Outro destaque é o corpo, denso. "Pensamos em algo similar a licor de chocolate", diz Ricardo.
Ele afirma que serão feitos "ajustes finos" antes do lançamento. Um deles, fortuito, é o aumento das notas de chocolate no sabor, para balancear a presença do álcool. Bier afirma que a cerveja deve ter "vida útil" de ao menos três anos, o que permitirá comparar a evolução de cada edição.
O PREÇO E A DISCUSSÃO
A cerveja será vendida em garrafas de cerâmica com pouco mais de 900 ml, feitas pela Ceramarte - que também criou vasilhames da norte-americana Samuel Adams Utopias e da brasileira Baden Baden Tripel. O preço de cada garrafa, em caixa especial, é estimado por Bier em pouco mais de R$ 200.
Já se antecipando à polêmica do preço - que torna a Double Chocolate Stout a cerveja brasileira mais cara e alvo inevitável da pergunta "vale quanto custa?" -, ele diz: "Em grande parte, o aumento da carga tributária pelo governo federal levou o preço a subir. Mas não vejo essa cerveja como produto para o dia a dia, e sim um presente diferenciado, de qualidade superior à de um vinho da mesma faixa de preço".
Veículo: O Estado de S.Paulo