Novidades na guerra das rolhas

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De um lado, temos o ritual da abertura da garrafa de vinho com um saca-rolhas, que para muitos completa o deleite proporcionado pelo néctar de Baco. De outro lado, temos o risco de anti-clímax de abrir um vinho estragado por problemas na rolha.

 

Nos últimos anos, o debate tem sido intenso em torno do modo ideal de vedar as garrafas de vinhos e em torno dos problemas que envolvem a rolha de cortiça. O tema é muito importante, pois o modo de tampar a garrafa influi muito na qualidade final do vinho.

 

As origens da rolha

 

Garrafas de vidro são usadas para armazenar vinho (ainda que de modo raro e incipiente) desde o império romano. Este tipo de recipiente, contudo, só viria a se tornar o padrão para a bebida a partir do século XVII.

 

O pai da moderna garrafa de vidro para vinhos é o inglês Sir Kenelm Digby, que nos anos 1630 foi proprietário de uma fábrica de vidro e produziu em série garrafas mais resistentes, escuras (para a proteção do líquido da luz) e com formato semelhante ao que hoje é o padrão do mercado (cilíndricas, alongadas, com um pescoço mais fino e com um gargalho reforçado).

 

Esse tipo de garrafa adaptou-se bem a uma outra invenção, a rolha de cortiça, que por volta de 1680 começou a ser usada. Nessa data, o monge Dom Pérignon teria deixado de usar vedantes de madeira e adotado rolhas de cortiça em seus vinhos espumantes. Até 1830 as rolhas eram em forma do cone, para seu melhor encaixe nos gargalos das garrafas, só a partir daí foram criadas máquinas capazes de introduzir rolhas cilíndricas (como as de hoje) nos gargalos das garrafas.

 

O que é TCA

 

Só recentemente, com o aperfeiçoamento das rolhas sintéticas e das tampas de rosca, a cortiça começou a ser ameaçada em seu posto de vedante ideal para as garrafas de vinho. O motivo da busca de novos vedantes têm sido o TCA (2-4-6 Tricloroanisol), uma substância química volátil que pode contaminar não apenas na cortiça, mas também papel, papelão, plástico, recipientes de madeira como barricas etc.

 

Vinhos atacados pelo TCA são chamado popularmente de bouchonné (em francês), corked (inglês), con corcho (espanhol) ou simplesmente com rolha, em Portugal. No Brasil a expressão mais usada é a francesa: "está bouchonné" ("buxonê").

 

O TCA provoca aromas desagradáveis de mofo no vinho. Fala-se que hoje de 2 a 5% dos vinhos vedados com rolhas de cortiça sofrem problemas causados pelo TCA. Este número é controverso. Em minha provas pessoais, de cerca de 5 mil vinho ao ano, não encontro mais que 1% de TCA.

 

É importante lembrar que, como o TCA não ataca apenas a rolha, mas pode sim contaminar todo o interior de uma vinícolas (suas barricas de madeiras, caixas de papelão etc), é possível (e já há relatos de tal), encontrar um vinho sem rolha (vedados com rolhas sintéticas, por exemplo) completamente bouchonné.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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