Após três meses de impasse, a PepsiCo acertou a compra do controle de suas duas maiores engarrafadoras por cerca de US$ 7,8 bilhões. A segunda maior fabricante mundial de refrigerantes pagará US$ 36,50 por ação da Pepsi Bottling Group e US$ 28,50 por ação da PepsiAmericas, metade em dinheiro e metade com suas próprias ações, levando em conta o preço de fechamento dos papéis da PepsiCo em 31 de julho, segundo comunicado divulgado ontem. Em abril, a PepsiCo havia proposto cerca de US$ 6 bilhões, oferta rejeitada pelas engarrafadoras.
As aquisições dão à PepsiCo o controle de cerca de 80% da distribuição de seus refrigerantes na América do Norte e permitem à sua CEO, Indra Nooyi, acumular cerca de US$ 300 milhões em economia de custos e receita, além de simplificar as negociações com varejistas como o Wal-Mart.
Com o controle das engarrafadoras, a PepsiCo fica mais "ágil", segundo Louis Meyer, analista da Oscar Gruss & Son, de Nova York. "Eles estão lutando um monte de batalhas dentro de suas diferentes linhas de produtos", diz Meyer.
A PepsiCo já possuía 33% das ações da Pepsi Bottling, sediada em Somers, Nova York, e 43% da PepsiAmericas, de Minneapolis.
Desde que Nooyi anunciou as ofertas, em abril, a PepsiCo e a Pepsi Bottling passaram a discutir publicamente a respeito do preço. A PepsiCo processou a engarrafadora e impediu o voto de alguns diretores do conselho de administração em sua reunião anual.
Alguns encontros entre as duas empresas realizados em meados de julho não foram suficientes para gerar um consenso, segundo duas fontes próximas às negociações. A reviravolta aconteceu em 30 de julho, quando Nooyi ligou para Ira Hall, diretor do comitê de diretores independentes da Pepsi Bottling, de acordo com uma das fontes.
Os dois se reuniram na casa de Nooyi no dia seguinte e acertaram os termos básicos do acordo, segundo as fontes. A executiva também conseguiu se acertar com a PepsiAmericas e os conselhos das empresas aprovaram os acordos na segunda-feira, segundo uma das fontes.
A combinação entre as companhias deve elevar o lucro por ação em US$ 0,15 quando as economias de custo forem concretizadas em 2012, segundo as empresas. O acordo deverá ser completado no fim deste ano ou início de 2010.
A recessão nos Estados Unidos reduziu as vendas de bebidas da PepsiCo, com os consumidores trocando refrigerantes e produtos como o Gatorade por alternativas mais baratas. O volume de vendas de bebidas da unidade PepsiCo Americas caiu 6% no segundo trimestre. Já o volume da Americas Food, divisão que inclui os salgadinhos Frito-Lay, aumentou 1%.
A PepsiCo e sua maior rival, a Coca-Cola, vendem os compostos concentrados das bebidas para suas engarrafadoras licenciadas, que adicionam água e outros ingredientes, colocam a mistura em garrafas e latas e as vendem. Em 1999, a PepsiCo, seguindo o caminho da Coca-Cola, se desmembrou das operações de engarrafamento, de uso intensivo de capital, para criar a Pepsi Bottling.
Os refrigerantes e água engarrafada são produzidos nas chamadas linhas de "enchimento a frio", porque os produtos não requerem calor para prevenir-se contra bactérias e outros organismos nocivos. A PepsiCo produz seus próprio sucos e bebidas isotônicas, que requerem linhas de produção de "enchimento a quente", para estender a validade das bebidas.
Muitas bebidas produzidas pela PepsiCo são vendidas para redes de lojas por meio de um sistema de depósito. As engarrafadoras, por sua vez, entregam a maior parte de seus produtos loja a loja. Como a participação das bebidas sem gás no mercado americano passou de 40%, há dez anos, para 65%, a PepsiCo passou a encontrar mais dificuldades para negociar com esse sistema dividido de distribuição, segundo executivos.
O diretor de finanças da empresa, Richard Goodman, afirmou que a PepsiCo almeja o tipo de flexibilidade que possui com a unidade de salgados Frito-Lay, que produz e distribui os produtos. Além disso, em vez de compartilhar um bolo menor com a Pepsi Bottling e PepsiAmericas, a PepsiCo pode consolidar os lucros para seus acionistas.
A PepsiCo foi assessorada na transação por Centerview Partners, Bank of America, Citigroup e Davis Polk & Wardwell. A Pepsi Bottling trabalhou com Morgan Stanley, Perella Weinberg Partners e Cravath, Swaine & Moore; e a PepsiAmericas, com Goldman Sachs, Briggs & Morgan e Sullivan & Cromwell.(Tradução de Sabino Ahumada)
Veículo: Valor Econômico