Consumidor estrangeiro exige selo no chá do Brasil

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Bebidas: Imaflora inicia certificação em produto feito no Vale do Ribeira

 

A demanda mundial por chá cresce a um ritmo maior do que a oferta neste ano. Mas o consumidor, em especial na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, quer ter certeza de que, ao beber sua xícara, não está ajudando a destruir o ambiente ou estimulando o uso de mão de obra escrava. Esse quadro tem levado a Unilever, a maior empresa do mercado global de chá, a certificar a origem e a produção em países como Quênia e Argentina. E é esse processo que começa a ser implantado no Brasil.

 

A Imaflora, organização não-governamental sediada em Piracicaba, no interior de São Paulo, é a única certificadora de chá preto a operar no Brasil e responsável pelo trabalho que começa a ser desenvolvido com 150 famílias dedicadas ao plantio da camellia sinensis - o arbusto que fornece as folhas para a produção do chá preto - nas cidades de Registro e Pariquera-açú, na região do Vale do Ribeira, em São Paulo.

 

"O consumidor está tomando mais chá, mas não quer produto de área degradada, nem feito por mão de obra escrava", diz o engenheiro agrônomo Edson Teramoto, da Imaflora. O primeiro trabalho com chá do qual a Imaflora participou foi feito há três anos no Quênia, numa fazenda de 20 mil hectares pertencente à Unilever. A auditoria foi abrangente e considerou questões como impacto ambiental, práticas de higiene e segurança dos trabalhadores.

 

Em 2008, a ONG brasileira começou o mesmo processo, também a pedido da Unilever, em Oberá, na província argentina de Misiones, onde já foram certificadas sete empresas. "Mas este é um trabalho complexo, novo, que leva tempo", diz Teramoto. Entre 90 e 100 fazendas em Misiones devem ser auditadas. A área total que participa desse projeto é de 6,5 mil hectares, equivalente a 10% da produção de chá preto na Argentina.

 

No Brasil as conversas iniciais estão sendo feitas com as empresas Yamater e Amaya, que produzem chá preto e trabalham com 150 famílias no Vale do Ribeira. "Estamos fazendo um esforço para adotar um padrão internacional. Precisamos conscientizar os produtores", diz Dario Yamamoto, sócio-presidente da Yamater, que há mais de 50 anos produz chá preto. A Amaya é mais antiga, tendo começado a operar entre 1930 e 1940.

 

A safra de chá neste ano - a colheita vai de setembro a a maio - deve repetir o volume do ano passado, de pouco mais de 2,3 mil toneladas. Já foi bem maior. O presidente da Yamater lembra que há cerca de 10 anos, quando havia sete empresas funcionando na região, a produção girava em torno de 10 mil toneladas.

 

Teramoto prevê que, se os produtores brasileiros adotarem todas as recomendações da Imaflora - um pacote que inclui até o compromisso de preservar uma área de mata original -, a certificação poderá ser concedida no primeiro trimestre de 2010. Com o selo da Certificação de Agricultura Sustentável na mão, os produtores, que exportam 90% da produção para Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Chile, poderão cobrar um preço mais alto da Unilever, que responde por 80% das exportações brasileiras de chá preto.

 

O clima seco em países produtores importantes como Índia, Sri Lanka e Quênia, fizeram a safra mundial deste ano encolher para algo em torno de 3 milhões de toneladas. Enquanto isso, o consumo continua subindo. Por isso os preços cobrados pelos produtores têm sido recordes. No início de setembro, em Mombasa, cidade queniana considerada um sinalizador de preços para o mercado, o quilo de chá preto de alta qualidade alcançou US$ 3,97 - uma alta de quase 40% em relação a janeiro. No Brasil, onde o câmbio não tem ajudado os produtores, o quilo do chá tem sido vendido por US$ 1,50.
 


Veículo: Valor Econômico


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