Importação do pescado cresce 20% em 2010 e provoca interesse de indústria local
Em um interminável galpão de 30 mil metros quadrados, mais que o dobro do quarteirão do Conjunto Nacional em São Paulo, o bacalhau a caminho do Brasil pode ser visto em todas as fases.
Do que acabou de ser pescado, matando a curiosidade sobre como é sua cabeça, ao que é preparado, salgado, seco e encaixotado -em embalagens já em português.
Na maior fábrica de bacalhau da Noruega, a Fjordlaks, quase tudo é mecanizado. Não há mais que 15 funcionários à vista em uma hora de visita.
Com logística e robótica avançadas, o país não teme a competição da mão de obra chinesa, brinca um gerente. O país tem 4,5 milhões de habitantes e não pode desperdiçar empregados.
Se o Brasil olha com atenção como a Noruega fez para fugir da maldição da corrupção do petróleo, é graças ao bacalhau que noruegueses não param de olhar para o Brasil.
Em 2002, os brasileiros importavam 17 mil toneladas do pescado. No ano passado, chegaram a 34 mil, o maior importador em volume.
O setor agora mira a aquicultura, a produção de espécies nobres -especialmente de salmão- em cativeiro e trazer sua expertise para reservatórios no Brasil.
Além de bacalhau e salmão, os noruegueses já exportam o king crab, aquele enorme caranguejo criado em águas geladas, onde competem com os chilenos.
"Várias missões de empresários noruegueses visitam o Brasil pensando em produzir no país em vez de só exportar", conta o vice-cônsul da Noruega no Rio de Janeiro, Johnny Haaberg. "O consumo per capita de pescado ainda é um quinto do norueguês, há muito para crescer" (9 kg/ano no Brasil, ante 50 kg/ano na Noruega).
Assim como o país se preparou para administrar a renda petrolífera, guardando parte dos dividendos em um fundo, fez o mesmo com o bacalhau, que está em extinção em outros lados do mundo.
Os noruegueses e os vizinhos russos limitam a captura há duas décadas para permitir sua reprodução, especialmente no mar de Barents.
Hoje, o bacalhau permite novas vocações econômicas. Há passeios de barco em Alesund para turistas pescarem o seu bacalhau (o repórter da Folha, sem o menor jeito para a coisa, conseguiu pescar dois), que é cozinhado nos restaurantes locais. Cada vez mais sofisticados, já atraem turistas japoneses, russos e da Europa continental.
A Noruega era, até os anos 70. o "primo pobre" da Escandinávia, terra de camponeses e pescadores austeros. Só nos últimos anos, enriquecidos com a bonança petroleira, os cozinheiros locais começam estar à altura dos ingredientes pescados em seus mares.
Veículo: Folha de S.Paulo