Membros do Congresso americano pressionam a agência de fiscalização de medicamentos e alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) a interromper a aprovação de um salmão geneticamente modificado no país, sob a alegação de que não há conhecimento suficiente sobre o peixe e que ele pode prejudicar os negócios do segmento nos Estados costeiros.
A polêmica surgiu no ano passado, quando emergiu a possibilidade de o FDA aprovar rapidamente o salmão transgênico. A resistência do Congresso e a falta de ação do FDA, porém, podem significar que o peixe não estará nas mesas de jantar do país no curto prazo.
O salmão geneticamente modificado, que cresce duas vezes mais rapidamente que a variedade convencional, foi desenvolvido pela AquaBounty, uma companhia de Massachusetts, há mais de 15 anos, mas ainda não foi autorizado no mercado. Caso o governo o aprove, será o primeiro aval à comercialização de um animal transgênico.
No Congresso, a oposição ao peixe geneticamente modificado é liderada por representantes da bancada do Alasca. Eles enxergam o salmão transgênico como uma ameaça à indústria do peixe convencional naquele Estado.
Em junho, a Câmara aprovou uma emenda do deputado republicano Don Young, do Alasca, impedindo o FDA de gastar qualquer quantia na aprovação do peixe. A emenda foi aprovada sem objeções em votação oral. A senadora republicana Lisa Murkowski, também do Alasca, disse na semana passada que vai tentar adicionar a mesma emenda na versão do projeto de lei no Senado. "Tenho a triste sensação de que estamos mexendo no belo trabalho que a Mãe Natureza fez em relação ao salmão", afirmou.
Enquanto a oposição de Murkowski segue a linha de interesse da indústria de pescados de seu Estado, outros senadores demonstraram preocupação com os riscos para a segurança alimentar e ambiental. Mais de uma dúzia de senadores escreveram para o FDA sobre processo de aprovação e os riscos para a segurança alimentar e ambiental.
Ron Stotish, executivo-chefe da AquaBounty, disse que ficou otimista quando o FDA decidiu realizar audiências sobre o produto da companhia. Há um ano, porém, se disse frustrado com o atraso e a perda de investidores. "Se você me perguntasse um ano atrás se estaríamos tendo essa conversa, diria não". O FDA ainda está concluindo sua análise, afirmou o porta-voz Doug Karas, "apesar de não sabermos precisar quando isso vai acontecer".
Karas disse que o FDA está planejando divulgar sua análise sobre o potencial impacto ambiental do crescimento do salmão - solicitando comentários sobre essa análise - antes de tomar uma decisão. Isso significa que a decisão pode levar meses ou mesmo anos.
Nas audiências do ano passado, as autoridades do FDA disseram que o peixe transgênico é tão seguro para se comer quanto sua variedade tradicional. Os críticos, por sua vez, chamam o salmão de "peixe frankenstein". Eles se dizem preocupados com a possibilidade de alergias humanas e com uma eventual dizimação da população de salmão selvagem, caso os animais geneticamente modificados escapem.
A AquaBounty tem mantido o peixe seguro e há diversas salvaguardas contra problemas ambientais. Os salmões modificados são fêmeas e estéreis, embora uma pequena porcentagem seja capaz de se reproduzir. A companhia diz que a chance deles escaparem é pequena. O FDA apoiou essas afirmações em documentos divulgados antes das audiências do ano passado.
Os animais geneticamente modificados não são clones, e o FDA já concluiu que sua ingestão é segura. Clones são cópias de um animal. Nos animais geneticamente modificados, o DNA é alterado para produzir uma característica desejável. O processo é similar ao de alimentos de origem vegetal como milho e soja.
No caso do salmão, a AquaBounty adicionou em um salmão típico um hormônio de crescimento de um salmão Chinook, que permite que o peixe produza hormônios de crescimento durante o ano todo. Os engenheiros foram capazes de manter o hormônio ativo usando outro gene de um peixe-enguia chamado lampreia, que age como uma chave para o hormônio. O salmão típico produz hormônio de crescimento em menor quantidade.
Stotish reconheceu que a aprovação do produto é provavelmente mais difícil por ele ser o primeiro do gênero. Uma aprovação abriria as portas para outras variedades de animais geneticamente modificados, incluindo o "Enviropig" (porco Yorkshire transgênico, cujo estrume é menos poluente), que está sendo desenvolvido no Canadá, ou o gado resistente à doença da vaca louca. Cada um teria que ser individualmente aprovado pelo FDA. "Bloquear-nos é a melhor maneira de bloquear qualquer coisa que possa vir depois de nós", disse Stotish.
Veículo: Valor Econômico