Os salmões estão ficando vegetarianos. O peixe favorito dos consumidores europeus e americanos é de longa data conhecido como um carnívoro obstinado, alimentado por piscicultores com peixe processado. Mas uma confluência de fatores econômicos, mercados e fatores ambientais está transformando a atividade criadora de salmões em viveiros - que movimenta US$ 11 bilhões por ano -, impondo uma mudança radical de dieta.
O preço da farinha de peixe subiu para um nível recorde devido a um enorme declínio no número de anchovas colhidas na costa da América Latina, sua principal área de alimentação, em parte devido às temperaturas do mar.
A farinha de peixe bateu um recorde histórico de US$ 2,19 mil a tonelada, no mês passado, segundo o Fundo Monetário Internacional, depois que o Peru, um dos principais exportadores da commodity, reduziu a quota de pesca comercial de anchovas em 70% nos últimos três meses.
O esforço para substituir as proteínas de peixe por plantas, como soja e sementes de girassol, começou há cerca de 20 anos, mas acelerou, recentemente, devido à alta dos preços da farinha de peixe. Esses preços subiram 60% em relação a um ano atrás, e quase 3,5 vezes em uma década.
A proporção de farinha de peixe na dieta do salmão comercial caiu para até 7%, contra 60% há 15 anos. "Nós podemos chegar a 0% de farinha de peixe na ração", disse Magareth Overland, diretora do Centro de Proteínas na Aquicultura, da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida.
O setor agora está testando o uso de proteína de levedura biológica e abetos noruegueses, acrescentou ela, para evitar a concorrência com outros setores de criação animal que dependem de grãos e oleaginosas.
Torben Svejgard, executivo-chefe da BioMar, importante empresa internacional produtora de rações com sede na Dinamarca, disse que "muitas pesquisas foram feitas" na última década para aumentar o número de matérias-primas utilizadas como ração em piscicultura. A empresa gastou mais de 10% de seus lucros anuais em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento, disse ele.
O setor de piscicultura em todo o mundo, que inclui camarões, trutas e outras espécies, tem crescido rapidamente nos últimos anos devido ao aumento do consumo em países emergentes, como a China. Isso acelerou a necessidade de encontrar fontes alimentares alternativas para peixes criados em viveiros.
Experiências comprovam que poucos consumidores podem perceber alguma diferença no sabor de salmões alimentados a farinha de peixe e salmões vegetarianos, diz deputado Svejgard.
A indústria de "aquicultura" - que movimenta US$ 125 bilhões por ano e registrou um salto de 2,5 vezes em valor ao longo da década passada -, está atendendo parcialmente o forte aumento da demanda mundial por peixes, segundo a Organização para Alimentos e Agricultura (FAO), da ONU. A FAO estima que em 2019 o número de peixes criados em viveiros deverá ultrapassar a quantidade de peixes capturados por métodos tradicionais, em termos de tonelagem.
O salmão não está sozinho. Pesquisadores franceses conseguiram criar trutas arco-íris vegetarianas, ao passo que nos EUA algumas fazendas tiveram êxito em criar cobias, um peixe carnívoro, sem usar farinha de peixe.
Veículo: Valor Econômico