Estimuladas pela retração dos preços no Uruguai, as importações de gado bovino do país vizinho responderam, em média, por 15% da produção diária dos frigoríficos do Rio Grande do Sul de novembro a janeiro e podem ajudar o setor a ampliar os abates em 13% a 20% neste ano em relação a 2008, para algo entre 1,7 milhão e 1,8 milhão de cabeças.
Representantes da indústria afirmam que, mesmo com o dólar mais valorizado, os impostos e os custos com frete, os animais uruguaios estão 15% mais baratos do que os gaúchos. Por isso, adiantam, a tendência é que as compras do outro lado da fronteira continuem nos próximos meses.
Segundo o diretor técnico da Superintendência do Ministério da Agricultura no Estado (SFA), José Euclides Severo, nos últimos três meses encerrados em janeiro as importações do Uruguai cresceram 155% em relação ao período entre novembro de 2007 a janeiro de 2008, para 64,3 mil animais. "A queda das exportações uruguaias para os Estados Unidos devido à crise econômica e a seca na região da fronteira forçaram os pecuaristas a vender e o preço caiu", diz.
O gado importado deve, obrigatoriamente, ser abatido e consumido no Rio Grande do Sul, explica Severo. Mas, conforme o presidente do Sindicato das Indústrias de Carne do RS (Sicadergs), Ronei Lauxen, isso não é problema, porque o perfil de raças e a qualidade da carne é semelhante à produzida no Estado.
De acordo com Lauxen, há pelo menos três anos as importações de gado não eram tão elevadas, e as compras também são motivadas pelo suprimento local insuficiente. "A oferta ainda não está dentro da normalidade", diz o dirigente, lembrando que a falta de gado no Estado começou ainda em 2007 por conta da estiagem da época.
"Nossa intenção era abater 2 milhões de cabeças em 2009, mas isso será difícil devido à escassez de matéria-prima e às dificuldades de exportação [de carne] por causa da crise mundial", admite Lauxen. No ano passado, os frigoríficos gaúchos abateram 1,5 milhão de unidades, 5% a mais que em 2007.
Conforme o presidente do Sicadergs, o Rio Grande do Sul tem uma capacidade instalada de abate de 2,5 milhões de animais por ano, mas vem operado com 40% a 45% de ociosidade. "Estamos abatendo, em média, de 5 mil a 6 mil cabeças por dia".
Vinícius Pilz, diretor do Frigorífico Mercosul, revela que 15% a 20% das 2 mil cabeças abatidas por dia no Rio Grande do Sul vêm do Uruguai. "As raças, o clima e as pastagens são iguais, mas os preços são melhores e há falta de gado no Estado". Segundo ele, enquanto os animais adquiridos de pecuaristas gaúchos custam de R$ 1,2 mil a R$ 1,25 mil, os importados saem por 15% a menos, postos no frigorífico. "A situação está começando a melhorar no Estado, mas a tendência é manter as compras no Uruguai".
De acordo com Lauxen, o preço equivalente ao quilo-carcaça dos animais uruguaios está na faixa de R$ 4,50 a R$ 4,60, com frete e impostos, enquanto o gado criado no Rio Grande do Sul sai por R$ 5,20 a R$ 5,40. A diferença estimulou o Frigorífico Silva a iniciar as importações no fim de novembro, explica o supervisor de compras Fabiano Vaz.
Nos meses de dezembro e janeiro, segundo ele, o gado comprado no Uruguai respondeu, em média, por 60% dos abates diários do frigorífico, da ordem de 400 cabeças. Nos últimos dias voltou a chover no país vizinho, o que está melhorando a situação dos pastos e tende a reduzir a oferta de animais para o Rio Grande do Sul, admite Vaz. Mesmo assim, o frigorífico pretende manter as importações, afirma.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e coordenador da comissão de pecuária de corte da entidade, Carlos Sperotto, diz que a queda de preço do gado uruguaio resultou do "desespero" dos pecuaristas locais diante dos efeitos da estiagem. "Novilhas e terneiros estavam sendo vendidos com pagamento condicionado à chegada dos animais vivos, tamanha era a debilidade do rebanho", relata o dirigente.
Agora, segundo ele, com as recentes ocorrências de chuva no Uruguai a situação dos criadores locais deve voltar à "normalidade". O dirigente também garante que a produção gaúcha mantém o mercado "assistido", com os preços registrando apenas "pequenas oscilações". Conforme Sperotto, a exceção é a oferta de costela, que apresenta demanda sazonalmente alta no verão e exige "complementação" de suprimento com carne comprada no próprio Uruguai e no Centro-Oeste brasileiro.
Veículo: Valor Econômico