Símbolo do aumento do poder de compra do brasileiro no Plano Real e na década de 2000, o frango não resistiu à combinação entre a disparada das cotações do milho e o aumento do desemprego. A conjunção negativa fez o consumo per capita de carne de frango no país atingir o menor nível desde 2010. Conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), cada brasileiro consumiu, em média, 41,1 quilos de carne de frango em 2016, redução de 4,9% na comparação com a média de 42,2 quilos do ano passado. "Faltou proteína na mesa do brasileiro", lamentou ontem presidente da ABPA, Francisco Turra, em encontro com jornalistas.
A diminuição do consumo é reflexo do profundo corte de produção feito pela indústria brasileira para ajustar a oferta de frango e, desse modo, elevar os preços para compensar o custo mais elevado para adquirir milho - o principal ingrediente da ração animal. De acordo com o vice-presidente de mercados da ABPA, Ricardo Santin, o corte feito na produção foi tão drástico que anulou o crescimento da produção de frango da primeira metade do ano. "Em alguns casos, as empresas reduziram os abates em 20%", afirmou Santin, citando o fechamento de unidades e pedidos de recuperação judicial de empresas do setor.
Nesse contexto, a produção brasileira de carne de frango caiu 1,8% em 2016, totalizando 12,9 milhões de toneladas. O número aquém da produção de 13,6 milhões de toneladas projetada inicialmente pela ABPA e também da estimativa que foi divulgada em julho, quando o movimento de corte da produção já tinha se iniciado. Àquela altura, a entidade estimava queda de 1%, para 13,136 milhões de toneladas.
Diante da menor oferta de frango, as exportações também perderam fôlego. De acordo com estimativa da ABPA, os embarques de carne de frango ao exterior totalizarão 4,39 milhões de toneladas ao fim de 2016, crescimento de 2% na comparação com o ano anterior. Em julho, a associação estimava que as exportações cresceriam 8%. Mas a redução da produção no Brasil não foi o único fator. Segundo Santin, as exportações também foram afetadas pela perda de competitividade do frango brasileiro em razão da própria alta dos preço do milho e da apreciação do real.
Nesse cenário, a Brasil perdeu para a Tailândia parte das vendas ao Japão, terceiro maior comprador da carne de frango do Brasil. Além disso, também houve crescimento da produção interna de países como o próprio Japão e a Arábia Saudita. "Com milho baratíssimo, eles ficaram mais competitivos", afirmou Santin, em referência às cotações internacionais do cereal - devido à quebra da safra brasileira, o grão teve comportamento distinto no país. Para 2017, a ABPA está mais otimista, uma vez que a maior colheita de milho deve estimular a indústria de frango. Pelas projeções da entidade, a produção e as exportações de carne de frango devem crescer de 3% a 5% no próximo ano.
No mercado externo, o Brasil poderá contar com um estímulo adicional ainda não contabilizado: o novo surto de gripe aviária que atingiu a Europa, afetando países produtores de carne de frango como a Polônia. De acordo com Turra, "não seria uma surpresa" se a demanda de alguns países importadores dobrasse em 2017. Maior exportador global de carne de frango, o Brasil, que nunca registrou casos do vírus, poderia ocupar o espaço daqueles países afetados pelo surto.
Por Luiz Henrique Mendes | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico