Margen fecha 16 unidades e demite 3,5 mil empregados

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Em dificuldades financeiras há quase um ano, o frigorífico Margen suspendeu as operações em suas 16 unidades de abate de bovinos no país e deu aviso prévio ontem a 3.500 de seus 5 mil funcionários. A razão para a medida extrema foi a "falta de liquidez", disse Adalberto Silva, diretor administrativo do Margen. "O mercado está muito ruim para a atividade, e os bancos restringiram o crédito. Não adianta continuar do jeito que está, só tendo despesa". 

 

A agonia do Margen começou no primeiro semestre deste ano, reflexo da escassez de boi e da disparada dos preços da arroba no mercado nacional. Mas a situação se agravou ainda mais após a frustrada tentativa de joint venture com o frigorífico Quatro Marcos, em junho deste ano, operação pensada exatamente para enfrentar o mercado adverso. 

 

O negócio, que criaria a Uni Alimentos, durou apenas dez dias. Uma das razões para o fim prematuro da joint venture, segundo apurou o Valor à época, foi a preocupação das duas empresas de que pudessem ser responsabilizadas por alguma atividade ou operação da outra. 

 

Das 16 unidades que foram fechadas (ver mapa) pelo Margen, quatro já estavam paralisadas desde meados de agosto. "Estamos sem caixa para pagar o boi", afirmou Silva. Segundo ele, apenas os centros de distribuição e as unidades de produção de charque continuarão operando, assim como a criação de suínos em Goiás. "Devemos ficar fechados até o fim do ano", previu. 

 

O plano do Margen, agora, é "vender algumas das unidades" para "pagar o que deve". O diretor disse que já há empresas "olhando" as plantas da companhia, cuja sede é em Rio Verde (GO). Das 16, seis são arrendadas e serão entregues aos proprietários, segundo o executivo. 

 

Além das unidades de bovinos, o Margen também já tinha suspendido a operação em duas plantas de abate de suínos em Goiás e no Mato Grosso do Sul. 

 

Silva não disse qual o valor atual das dívidas do Margen com pecuaristas e outros fornecedores. Além desses débitos, o Margen tem uma dívida de R$ 153 milhões contraída em julho do ano passado por meio da emissão de Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs). Os credores do Margen nesse caso são os fundos Oppenheimer e QVT Fund, e o vencimento é julho de 2010. A emissão foi estruturada pelo Morgan Stanley, que comprou os papéis para seu Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Segundo Silva, a empresa ainda negocia com os credores mais prazo para pagar essa dívida. 

 

Com a falta de capital de giro, o Margen passou operar com ociosidade muito elevada, com abate na casa de 30%. Nas 16 plantas, a capacidade instalada é de 10 mil cabeças por dia. 

 

Nesse quadro, a empresa que teve receita bruta de R$ 1,5 bilhão ano passado, sofreu uma queda brusca em seu faturamento, de acordo com Silva. 

 

Ele afirma que a intenção da companhia é readmitir funcionários à medida em que o Margen conseguir reabrir unidades. 

 

Desde abril, a empresa vem reduzindo seu quadro de funcionários e as operações em suas unidades por conta da escassez de boi e também das restrições que a União Européia impôs à carne bovina brasileira no começo do ano. O Margen tinha, em abril, 7 mil empregados, mas veio demitindo até chegar a 5 mil - número que agora será reduzido a 1,5 mil, informou Silva. 

 

O Margen não é o único afetado pelo mercado adverso para a carne bovina. Todos as empresas do setor enfrentam hoje margens ainda mais apertadas por conta da alta dos custos do boi. 

 

Especialistas também apontam má gestão dos negócios e gerenciamento ruim dos custos como uma das razões para a crise no Margen, que há quase quatro anos foi alvo da Operação Perseu, da Polícia Federal. Na ocasião, sócios e diretores da empresa foram presos - e posteriormente liberados - sob a acusação de sonegação de R$ 150 milhões em tributos federais, estaduais e municipais e em dívidas com o INSS. 

 

Outra avaliação é de que o modelo de operações do Margen também contribuiu para a derrocada. Com várias unidades pequenas espalhadas pelo país, o Margen foi prejudicado com a escassez de animais no mercado, pois não conseguiu ter ganhos de escala e viu seus custos fixos aumentarem. "Esse é um modelo que funciona bem se houver matéria-prima em abundância", observou um analista. Além da disparada dos preços do boi, a alta do real ante o dólar também afetou as empresas que exportam, como o Margen, acrescentou. 

 

E a empresa - dos empresários Mauro Suaiden e Geraldo Prearo - não deve ser o única a sofrer os efeitos da oferta mais ajustada de animais para abate no país. Hoje, a capacidade instalada de abate no Brasil é estimada em 70 milhões de cabeças por ano. No entanto, a projeção é de que haja abate efetivo de 36 milhões de animais. "Mais frigoríficos terão de ser fechados no país", previu um especialista, que prefere o anonimato. 

 

Veículo: Valor Econômico


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