Deflação em alimentos reduz alta no IPCA-15

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O restabelecimento da oferta dos alimentos in natura foi o principal fator de desaceleração da inflação no começo do mês de junho, segundo analistas. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo medido na primeira quinzena (IPCA-15) teve alta de 0,19%, resultado abaixo dos 0,63% de maio. No começo do ano, as fortes chuvas causaram queda da produção agrícola e elevaram os preços. O IPCA-15 de junho seria, dessa forma, uma correção da alta extraordinária dos alimentos. Economistas ouvidos pelo Valor dizem que o resultado já era esperado e que o patamar mais baixo não se manterá nos próximos meses.

 

Esse efeito de queda do preço dos alimentos - de 0,42% - deve se manter no máximo até agosto, na avaliação de Felipe Insunza, economista da Rosenberg & Associados. "Os alimentos subiram muito nos primeiros cinco meses do ano por conta das chuvas, e agora boa parte começa a recuar", diz ele. Para Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria Integrada, o recuo dos preços dos alimentos deve ir somente até julho. "O resultado de junho aponta que realmente o preço dos alimentos subiu por problemas relacionados à oferta", diz ele.

 

Um exemplo do impacto das chuvas sobre a agricultura é o preço do tomate, que subiu 26% em março e 37% em abril. Na prévia de junho ele caiu 16,3%. "Os preços começam a voltar a patamares razoáveis, mas não vão voltar aos preços do começo do ano", diz Insunza. No acumulado do ano, a alta de alimentos foi de 5,41%, atrás apenas de educação, com 5,62%.

 

O grupo alimentos poderia cair mais se não fosse o custo da alimentação fora de casa, que subiu 0,83% no IPCA-15, segundo os economistas. No caso da alimentação fora de casa, o que pesa é o custo dos serviços, que incorpora a valorização dos salários.

 

Para os analistas, a demanda forte dos consumidores é um dos obstáculos para que os preços recuem. O crescimento da renda aumenta necessariamente o consumo de alimentos. "Se não fosse a demanda aquecida, a inflação poderia cair mais", diz Barbosa.

 

Insunza também acredita que a demanda irá ditar a inflação no resto do ano e explica que a política de juros mais altos só deve ter impacto no ano que vem. "A única coisa que pode reduzir preços nesse ano são problemas externos, que podem, por exemplo, reduzir as exportações de commodities e puxar esses preços para baixo", diz.

 

O recuo da inflação em transportes também influenciou o resultado tímido do IPCA-15 de junho. O grupo teve deflação de 0,07%, resultado puxado pelo preço menor dos combustíveis - sazonalidade da cana-de-açúcar - e o fim da pressão do retorno da cobrança do IPI sobre os automóveis. O preço do automóvel novo avançou apenas 0,04% e a gasolina e o álcool caíram, respectivamente, 0,69% e 7,59%.

 

Os economistas concordam que o setor de serviços deve ser o que mais pressionará a inflação neste ano. "Os serviços são bem sensíveis à demanda doméstica aquecida", diz Barbosa, da Tendências. Dessa forma, é esperado impacto futuro nos setores de saúde e cuidados pessoais e despesas pessoais, que subiram 0,76% e 0,61% em junho.
 


Veículo: Valor Econômico


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