Classe média sente efeitos

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A nova classe média está consciente que o tsunami financeiro internacional está fazendo marola no Brasil - para usar a analogia usada pelo presidente Lula - e já começa a apertar os cintos. O Natal deste ano, acreditam os novos consumidores das classes C e D, será mais magro. E o temor, no caso de uma arrebentação, é a volta da inflação.

 

Os dados fazem parte de uma pesquisa do Ibope sobre a "Percepção dos efeitos da crise financeira no País pelas classes C e D", encomendada pela agência de publicidade 141 SoHo Square, do grupo WPP. O instituto foi a campo entre 7 e 9 de outubro - dias de pânico nos mercados e em que o dólar disparou, chegando a R$ 2,30. Foram ouvidas 400 pessoas com renda familiar de até R$ 1.200, em Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. A margem de erro é de cinco pontos percentuais para mais ou para menos.

 

Os entrevistados são uma pequena amostra dos 20 milhões de brasileiros que ingressaram no mercado consumidor nos últimos dois anos, impulsionados pelo aumento do crédito. Com mais televisores, computadores, celulares e outros bens de consumo, essa faixa da população está mais bem informada: 89% sabem que existe uma crise financeira internacional. Para 10%, contudo, a crise não passa de "exagero da imprensa".

 

O grupo dos 89% que sabe que há uma crise mundial se divide entre os que acham que a crise já chegou ao Brasil (48%), aqueles que acham que a crise pode chegar nos próximos anos (25%) e os otimistas (16%), que, assim como dizia o presidente Lula semanas atrás, acham que a crise não se refletirá no País.

 

O maior medo da população de baixa renda é a inflação: 35% temem a volta da inflação dos "produtos em geral" e 30% temem a alta dos preços dos alimentos. Já 20% dos entrevistados temem a perda do emprego. O medo de não conseguir pagar as prestações aflige 13%. Os dados mostram uma população cautelosa: 45% prevêem um Natal mais magro que o do ano passado. Para 31%, o Natal deste ano será igual ao de 2007 e 21% planejam uma festa mais farta.

 

ORÇAMENTO. A pesquisa indica que os cortes no orçamento já começaram. Numa pergunta de múltipla escolha, 26% dos entrevistados afirmaram ter cortado algum item da cesta básica e 24% abriram mão de algum lazer; 20% pararam de pagar alguma dívida, enquanto 21% afirmaram não ter cortado nada.

 

Questionados sobre "o que deve acontecer com o crescimento da economia brasileira", 56% declararam que ela deve crescer "mais lentamente". Para 23%, o ritmo não muda e 18% acreditam que a economia vai "parar de crescer". A pergunta foi precedida da afirmação de que "nos últimos anos o Brasil construiu uma economia sólida e incluiu socialmente milhões de pessoas".

 

Quando a pergunta é sobre a percepção em relação ao futuro da economia - como será 2009, em relação a 2008, o otimismo aumenta: 39% afirmam que 2009 será melhor e 15% dizem que será muito melhor. Para 26%, o próximo ano será igual. Entre os pessimistas, 12% acham que 2009 será pior e 3%, que será muito pior.

 

CLASSES C E D. Para o diretor de atendimento do Ibope Inteligência, Hélio Gastaldi, o instituto subestimou a percepção das classes C e D em relação à crise. "Quando estávamos elaborando as perguntas, queríamos saber se as pessoas já tinham ouvido falar da crise", afirma. "Essas pessoas não só já tinham ouvido falar como já estavam com a crise dentro de casa. Já tinham tomado medidas e se programado para agir de forma diferente."

 

Gastaldi avalia que a população de baixa renda tem muita clareza da crise, mas não consegue dimensionar a profundidade. "Esse segmento vive muito no curto prazo. A crise é hoje. Eles não têm instrumental para pensar no que vai acontecer num período mais longo, em um ou dois anos. Ainda assim estão otimistas, não querem perder o que foi conquistado."

 

A agência 141 SoHo Square, que tem entre clientes empresas que vendem para a baixa renda, como Avon e Marabrás e o governo federal, também quis saber a percepção da população quanto ao preparo do governo para enfrentar a crise. Só 16% acreditam que o governo está bastante preparado e conseguirá resolver a situação. Para 43%, o governo está preparado, mas terá dificuldades para resolver a situação. Um grupo nada desprezível de 38% acredita que o governo não está preparado para enfrentar a crise.

 

"Está todo mundo lutando para preservar o que foi conquistado", diz Mauro Motoryn, presidente da agência. "Ele está otimista que 2009 será melhor e está fazendo sua parte, contendo um pouco os gastos." Para Motoryn, o presidente Lula conseguiu traduzir a crise para a população. "As pessoas entenderam o que o Lula falou e estão fazendo a sua parte, apertando um pouco o cinto. "

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ
 


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