Empresas aperfeiçoam suas estratégias de proteção e estão mais preparadas para enfrentar a volatilidade do dólar
Setembro tem sido o mais cruel dos meses para o mercado financeiro mundial. Em 2008, a queda do banco Lehman Brothers precipitou a maior turbulência desde a quebra de Wall Street, em 1929. Neste ano, a ameaça de um calote europeu (escolha: Grécia, Portugal ou Irlanda, para começar) gerou outro tsunami nas finanças mundiais. Em seu pior momento, o dólar registrou uma alta diante do real de cerca de 20%. O temor do calote levou os investidores a procurar o porto seguro do dólar, que subiu em relação às principais moedas – e o Brasil não foi exceção. Há três anos, uma situação parecida provocou perdas bilionárias no mercado brasileiro e vergastou ícones do capitalismo como Aracruz, Sadia e Votorantim.
A pancada foi tão forte que as duas primeiras quebraram, vítimas de apostas especulativas no mercado de câmbio. Veremos uma reprise desse filme? No que depender dos executivos que comandam os bancos e as tesourarias das empresas, nem pensar. “Atualmente, o sistema bancário está muito mais seletivo na hora de oferecer proteção para as empresas”, diz Marcello Negro, diretor de tesouraria do Banco Fator.
Ele diz que houve duas mudanças profundas em relação à situação de três anos atrás. A primeira é que os bancos estão mais exigentes na hora de oferecer proteção, um produto financeiro conhecido como hedge cambial. “Se o mercado se tornar mais volátil e a empresa precisar de mais proteção, os bancos poderão solicitar garantias adicionais, algo que não estava previsto nos contratos na última crise”, diz Negro. A segunda mudança é que a filosofia das empresas é outra.
Hoje a estratégia é correr muito menos riscos. “As empresas estão todas protegidas”, afirma Benjamin Steinbruch, controlador do grupo Vicunha, dono da CSN. Em 2008, quem dependia das exportações para obter resultados perdeu muito dinheiro com a queda do dólar, que chegou a um mínimo de R$ 1,559 em meados de julho daquele ano. Para reduzir as perdas no faturamento, as empresas exportadoras passaram a atuar no mercado de derivativos de câmbio, apostando em novas baixas da moeda em relação ao real. O bom resultado financeiro das primeiras operações fez com que, além de buscar proteção, muitas delas se tornassem pesados especuladores. Quando o dólar subiu, os prejuízos foram imensos, estimados em mais de US$ 10 bilhões. “Essa foi uma lição que todo mundo aprendeu”, diz Negro.
“Atualmente, empresas e bancos têm processos mais sólidos e comitês de risco muito mais atuantes, o que impede a especulação.” O ponto de maior preocupação dos profissionais do mercado, na verdade, é a regulamentação da medida provisória (MP) que permite ao Conselho Monetário Nacional tributar os derivativos usando o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em até 25% de seu valor, divulgada em 26 de julho. Quando de sua divulgação, o objetivo da medida era tornar mais caro para os bancos e para as empresas apostar na baixa do dólar em relação ao real.
A alíquota do IOF negociada com o Congresso foi estabelecida em 1%, mas a dificuldade de calcular o imposto acabou retardando sua aplicação. A votação estava prevista para a quarta-feira 28, mas acabou sendo adiada para esta semana. Para os especialistas de mercado, o problema é que essa medida planejada para impedir apostas na baixa do dólar torna mais caro oferecer proteção contra sua valorização. Criticada pelos bancos, a MP é aplaudida pelos líderes da indústria, como Steinbruch. “O governo agiu certo em julho”, diz ele. “O Banco Central tem sido atuante e feito o que é necessário.”
Veículo: Revista Isto É Dinheiro