Crescimento de 1,2% é o que esperam, na média, dez instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data para a produção industrial em outubro, na comparação com setembro, descontados efeitos sazonais. Apesar do avanço projetado, os economistas se mostram cautelosos em suas avaliações, e destacam que tal aumento não significará que a indústria recobrou o caminho do crescimento, após a queda de 1% em setembro, que interrompeu uma sequência de três altas mensais consecutivas.
Fatores como o arrefecimento da demanda interna e as incertezas que rondam a economia internacional, afirmam eles, colocam um ponto de interrogação no que se refere ao desempenho da indústria nos próximos meses.
Para o dado de outubro, que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as projeções de crescimento variam entre 0,6% e 1,7%. Há a expectativa que outubro seja o primeiro mês, desde agosto de 2011, de elevação na produção industrial na comparação com o mesmo mês do ano anterior, com a alta girando em torno de 3%.
Apesar disso, o clima no mercado não é de otimismo. Pelo contrário. O Boletim Focus, do Banco Central, mostrou forte ajuste para baixo nas projeções para a produção industrial em 2013, que passaram de 4,20% há uma semana para 3,82%. Ao mesmo tempo, os economistas ampliaram as estimativas de contração na indústria neste ano, que passou de 2,30% para 2,38%.
A percepção de que a retomada da indústria estava se espalhando pelos setores, diz Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, se dissipou em setembro, quando 16 dos 27 ramos pesquisados pelo IBGE contabilizaram queda na produção. O cenário que se desenha para a indústria, segundo ele, é incerto, com as exportações debilitadas, dúvidas em relação à atividade econômica nos Estados Unidos e forte pressão de custos, devido aos reajustes salariais sem ganhos de produtividade.
"Reduzimos nossa projeção de crescimento da indústria em 2013 de 3,8% para 3,2%, o que dá uma média de expansão mensal de modestos 0,2%", diz Bacciotti. "Esse resultado embute os benefícios de medidas como a redução de energia, as barreiras às importações, o câmbio mais favorável e a queda dos juros, além da base de comparação baixa."
Bacciotti classifica como "irregular" o atual comportamento da indústria brasileira, que em sua avaliação continua ligado ao setor automobilístico. A expectativa de fim na redução do IPI de veículos - que a princípio acabaria em 31 de outubro -, elevou em 5,5% os licenciamentos apurados pela Anfavea (entidade que representa as montadoras) entre setembro e outubro, feitos os ajustes sazonais.
Esse avanço, segundo Bacciotti, justifica em grande parte o aumento de 1,2% projetado para a produção industrial no período. "Os setores que estão mais ligados à fabricação de automóveis também devem ir bem. Já os voltados para o mercado externo e para bens de capital tendem a sofrer."
O Bradesco destaca em relatório que há sinais difusos quanto ao desempenho da produção industrial entre setembro e outubro, mas ainda assim projeta crescimento de 1,7% para o indicador no período. Entre os dados citados pelo banco, está a produção nacional de produtos químicos, que caiu 2,8%, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), considerando a dessazonalização feita pela instituição.
O Bradesco ressalta que tal resultado "foi influenciado pela interrupção no fornecimento de energia elétrica que atingiu as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, além de Minas Gerais, no dia 25 de outubro, comprometendo a produção por mais de uma semana". Em sentido contrário, a produção de celulose cresceu 0,3% e a de papel subiu 0,5% no mesmo período, de acordo com a Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), já livre de efeitos sazonais.
O tráfego nas estradas pedagiadas, afirma Bacciotti, também indica que a produção industrial em outubro aumentou. Dados da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) contabilizam aumento de 1,4% no fluxo de veículos entre setembro e outubro. No período, a produção de papel ondulado, usado nas embalagens, teve leve alta, de 0,1%, também em termos dessazonalizados.
"Mas, em novembro, com a menor venda de veículos, teremos uma nova queda na produção, de cerca de 0,2%, que será sucedida por mais uma alta, ao redor de 1,2% em dezembro, quando o movimento de antecipação de compra puxará de novo as vendas de automóveis", prevê Bacciotti, referindo-se ao encerramento do desconto no IPI de veículos, previsto para 31 de dezembro.
"A tendência é que a indústria mantenha por mais algum tempo esse passo de sobe um pouquinho, cai um pouquinho", diz, Thaís Zara, da Rosenberg & Associados. Para ela, é difícil vislumbrar uma recuperação sustentável da indústria. O quadro internacional, afirma, ainda é incerto - o que mina a confiança do empresário e prejudica as exportações -, ao mesmo tempo em que a demanda no ambiente doméstico já não cresce no ritmo de antigamente, devido ao alto patamar de endividamento das famílias, à seletividade dos bancos na concessão de crédito e ao já baixo nível de desemprego no país. "Em 2013, a expectativa é que a indústria cresça 2%, o que não neutraliza a queda esperada de 2,5% neste ano", diz Thaís.
Veículo: Valor Econômico