Queda é influenciada por norma que barateia financiamento ao exportador, favorecendo a entrada da divisa americana no país
O dólar fechou em leve queda ante o real pela segunda sessão consecutiva ontem depois de o Banco Central (BC) ter anunciado medida para baratear o crédito ao exportador brasileiro, o que deve favorecer a entrada da moeda americana no país. A divisa, no entanto, manteve-se acima do nível de R$ 2,10 ao longo de toda a sessão, reduzindo a queda na parte da tarde, diante de uma forte demanda por dólares no final do ano, período em que há maiores remessas de lucros e dividendos de filiais brasileiras às suas matrizes no exterior.
Outra razão para a grande demanda por dólares é o fraco crescimento da atividade doméstica, que faz crescer a interpretação de que o governo vai favorecer um real mais desvalorizado para estimular as exportações. A moeda norte-americana recuou 0,09%, encerrando a R$ 2,11 na venda. Durante o dia, a moeda oscilou entre a máxima de R$ 2,12, logo na abertura do pregão, e a mínima de R$ 2,10.
"A conjuntura tem sido de câmbio mais para cima, há uma saída de recursos sazonal nesse período e procura por dólares", disse o estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno. Para prover liquidez ao mercado de câmbio e impedir uma alta muito rápida do dólar, o BC tem atuado com mais força no mercado desde o início da semana.
Ontem, o BC anunciou medida que eleva de 360 dias para cinco anos o prazo para a modalidade de pagamento antecipado de exportações que fica isento de taxação. As operações acima desse prazo continuam pagando alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), como operações normais de crédito.
O anúncio ocorreu depois que a autoridade monetária já tinha feito na segunda-feira dois leilões de swap cambial tradicional – operações que equivalem a venda de dólares no mercado futuro – e dois leilões de venda de dólares conjugados com compra. O próprio Alexandre Tombini, presidente do BC, afirmou no final de novembro que o Banco Central poderia intervir no mercado de câmbio para dar liquidez no final do ano, além de reiterar que não existe banda formal ou informal para o dólar.
Operadores avaliam que, além de dar liquidez para o mercado, as ações do BC evitam distorções nas cotações e movimentos especulativos – evitando um impacto excessivo na inflação. Com as intervenções, o dólar já recuou 0,69% ante o real desde a quarta-feira da semana passada.
CRESCIMENTO FRACO Analistas também acreditam que o governo deve favorecer um real mais desvalorizado para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, principalmente depois que o crescimento econômico do terceiro trimestre veio muito abaixo das expectativas. Os dados da produção industrial brasileira divulgados ontem reforçaram a preocupação com o ritmo da atividade, ao mostrar que a indústria está com dificuldade de manter uma trajetória consistente de alta.
"A tendência do dólar é de alta recentemente, mais pelos fundamentos econômicos e a preocupação do governo com o crescimento", reforçou um operador de câmbio, que prefere não ser identificado. Apesar da queda das últimas duas sessões, o dólar ainda está em alta de 4,22% desde novembro. Frente a fevereiro – quando o BC intensificou as intervenções para desvalorizar o real –, a moeda norte-americana acumula alta de 21,11%.
Veículo: Estado de Minas