O setor de cartões deverá crescer 21% em 2013 e movimentar faturamento bruto equivalente a 15% do produto interno bruto (PIB), de acordo com previsão anunciada ontem no 18° Congresso da Cards, realizado em São Paulo. Para efeito de comparação, no ano passado, o PIB brasileiro alcançou R$ 4,4 bilhões em termos correntes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Descontada a inflação, o segmento de cartões crescerá entre 14% e 15% em termos reais, e ganhar mais espaço em relação ao meio dinheiro na economia", calcula o consultor de varejo financeiro, Boanerges Ramos Freire.
O consultor argumentou que o consumo privado respondeu por 60% do PIB em 2012. Desse montante, 54% dos pagamentos foi feito com dinheiro e 25% por meio de cartões de crédito, débito ou de redes de lojas.
"A grande vitória do cartão nos últimos anos foi feita em cima do cheque, mas ainda há muito espaço para o cartão substituir o meio dinheiro. Em 2013, a participação do cartão no consumo privado poderá atingir 27%", prevê. Mesmo com o bom crescimento do segmento desde 2003, o setor reunido em Congresso mostrou-se preocupado com a alta de inflação, que superou a meta de 6,5% do Banco Central no acumulado dos últimos doze meses. "A inflação afeta a rentabilidade de todos os setores", afirma Boanerges.
Entre os efeitos da inflação alta está um provável aumento dos juros nominais do cartão de crédito em 2013. "O patamar dos juros sempre foi uma questão abrangente no mercado de cartões, a inflação pode servir de argumento para um reajuste após a queda das taxas no ano passado", aponta.
De acordo com dados do Banco Central (BC), a taxa média de juros para pessoa física que chegou ao piso de 33,9% ao ano em dezembro do ano passado, já avançou 1,2% em 2013, para 35,1% ao ano, em fevereiro.
Outro ponto debatido na Cards foi a demora para a implantação do Cadastro Positivo, os benefícios da redução dos juros podem levar tempo para chegar ao consumidor final. "Só a partir de agosto é que os bancos vão começar a mandar as informações, depois vai demorar mais 24 meses para a base de dados conter um histórico consistente para a avaliação de crédito", considerou o presidente da unidade de negócios Credit Services da Serasa Experian, Laércio Pinto.
O executivo deixa a entender que os bancos estão segurando as informações dos clientes por motivos de competitividade. "Já iniciamos a conversa com a Febraban [Federação Brasileira dos Bancos], o movimento dos bancos é de estimular o envio de dados para vários birôs [escritórios de cadastro de crédito] mas também estamos conversando com as empresas de utilities, energia e de telecomunicações".
No evento, os participantes mostraram-se ansiosos para conhecer o novo marco regulatório, mas o representante do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban) do Banco Central, Mardilson Fernandes Queiroz, ofereceu poucos detalhes sobre a regulação. "A medida provisória está na Casa Civil e não há qualquer previsão de data de quando será enviada para votação no Congresso Nacional", disse Queiroz.
"O BC está preocupado com a segurança da movimentação do dinheiro. Novos players [empresas] estão vindo ao mercado e só a possibilidade de novos entrantes já causa uma perturbação, e há uma certa resistência da indústria de cartões à inovação", disse.
Ele só adiantou que o projeto de lei é bastante amplo e flexível e que qualquer "arranjo" de pagamento entrará na medida. "A regulação ficará a cargo do BC. Se for um cartão de banco já é regulado, se for de instituição não-bancária e tiver bandeira será regulado, mas claro, se for um cartão private label que na prática é a antiga concessão de crédito pelos lojista, não será regulamentado", diferenciou Queiroz.
O representante disse que uma das funções do Banco Central é promover a competição no setor. "Os juros praticados não são tabelados. O BC coloca incentivos para a concorrência para levar os juros para níveis adequados. O cliente deve utilizar a defesa do consumidor para denunciar práticas abusivas. Como vimos aqui [no Congresso], o crédito é concentrado nos grandes bancos".
Segundo Boanerges, a indústria nacional de cartões deve preparar-se para receber competidores internacionais com soluções "atípicas" e "inusitadas" para meios de pagamento. "Todo o setor precisa colocar as barbas de molho. O Google, o Facebook e empresas de telecomunicações estão avançando em soluções completamente diferentes dos modelos tradicionais e tecnológicos que conhecemos", alertou.
Entre as tendências que podem ser regulamentadas, estará o uso do celular e de smartphones (telefones com aplicativos de Internet) como meio de pagamento por instituições não bancárias, e a identificação de usuários por voz, íris dos olhos e biotelemetria.
Veículo: DCI