Inflação oficial desacelera, mas estoura teto da meta

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Índice de preços medido pelo IBGE registra 0,47% em março e já acumula 6,59% em 12 meses

A inflação oficial brasileira diminuiu em março para o menor nível em sete meses, beneficiada pela forte desaceleração do grupo educação e com uma menor propagação da alta dos preços pela economia, mas isso não impediu que o índice acumulado em 12 meses rompesse o teto da meta. Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,47% em março — menor variação desde agosto do ano passado, quando foi de 0,41%, na comparação mensal.

Educação, que havia registrado inflação de 5,4% em fevereiro, desacelerou para 0,56% em março. O grupo alimentação e bebidas, apontado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o vilão da inflação, desacelerou a alta, em ummovimento que pode estar relacionado à desoneração da cesta básica. Mesmo assim, foi o item que teve o maior aumento e que mais pressionou o índice geral. Passou de 1,45% para 1,14% entre fevereiro e março, correspondendo a quase 60% da inflação. Pesou ainda o fato de habitação ter saído de uma deflação de 2,38% para alta de 0,51% no período. Os demais grupos registraram as seguintes variações no mês passado: artigos de residência (+0,11%), vestuário (+0,15%), saúde e cuidados pessoais (0,32%), despesas pessoais (0,54%), comunicação (+0,13%).

Com o resultado divulgado ontem, o indicador acumula inflação de 1,94% no ano e de 6,59% em 12 meses — ultrapassando o teto da meta de 6,5% estipulado pelo governo. Estimativas divulgadas anteriormente pelo Banco Central apontavam que esse teto seria ultrapassado só a partir de abril.

Sete das onze regiões estudadas já apresentam IPCA acima do teto da meta até março, no acumulado dos últimos 12 meses. Em fevereiro, eram apenas quatro regiões nesta situação. A taxa mais alta foi observada em Belém, com 9,19%, seguida por Fortaleza (8,11%), Recife (7,33%), Salvador (7,28%), Goiânia (6,70%), Belo Horizonte (6,62%) e Rio de Janeiro (6,53%). “Os destaques são Belém e Fortaleza, regiões mais prejudicadas pela alta do preço dos alimentos. Eles têm participação maior no orçamento das famílias das regiões Norte e Nordeste. Os avanços nos preços da mandioca e do açaí tiveram forte influência”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. As únicas regiões que ficaram abaixo do teto foram Curitiba (6,44%), Porto Alegre (6,31%), São Paulo (5,98%) e Brasília (5,85%).

Segundo Eulina, abril deve ter seu índice impactado pelo aumento nos preços das passagens de metrô no Rio, dos ônibus de Curitiba, além dos táxis de Belo Horizonte.Ocrescimento das tarifas de água e esgoto de São Paulo, Recife e Curitiba também terão influência no IPCA. “Há ainda o aumento do preço dos remédios”, disse.

INPC
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que se refere às famílias com renda de até cinco salários mínimos, registrou alta de 0,60% em março. Em 12 meses, a taxa acumula alta de 7,22% e de 2,05%, no ano.

Segundo Eulina, o menor peso de alguns itens que ajudaram a frear o IPCA, como o de passagens aéreas, que registrou queda de 9,98% em março, fizeram com que o resultado fosse pior.



Alimentos ainda foram os vilões do IPCA em março

Apesar de desaceleração da alta em março, os alimentos seguem sendo os vilões da inflação, com aumento de 1,14%, ante 1,45% de fevereiro. O grupo Alimentos e Bebidas respondeu por quase 60% do IPCA no mês. “Os alimentos continuaram aumentando com força, mas subiram menos do que em fevereiro, reduzindo o impacto de um mês para o outro. Quase todos os grupos tiveram desaceleração de fevereiro para março”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE. Segundo ela, problemas climáticos, quebras de safra, além de uma demanda aquecida, contribuíram para o resultado.

“A desoneração dos preços dos produtos da cesta básica ainda não pode ser sentida com clareza, mas com certeza já houve algum impacto, pois alguns produtos da lista já reduziram seus preços”, completou. Em doze meses, os alimentos acumulam alta de 13,48%, mais do que o dobro da inflação do período de 6,59%. No ano, os alimentos foram responsáveis por 57% do IPCA, com destaque para o preço do tomate, que subiu 60,90%, seguido do açaí, com alta de 55,66% e da cebola, que registrou 54,88%. Cenoura (53,30%), feijão carioca (22,85%), batata inglesa (38,11%), ovos (12,13%), a farinha de mandioca (35,18%) também estão entre os produtos que marcaram forte alta.

Serviços

Os serviços também exerceram pressão sobre o IPCA, com 2,5% de crescimento de janeiro a março. Os destaques foram aluguel residencial, empregado doméstico e alimentação fora de casa, com 4,20%, 3,27% e 2,87%, respectivamente. “Ainda não há reflexo das mudanças nas leis para as domésticas. A alta é reflexo de menor oferta e aumento do salário mínimo”, disse Eulina. G.M.



Veículo: Brasil Econômico


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