A alta do cafezinho nos bares e restaurantes, de 11,41% em doze meses, revela como o setor de serviços está pressionando os preços
Embora os preços dos alimentos venham pressionando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos meses, a inflação de serviços continua como grande fonte de preocupação de economistas.
Quatro dos 10 itens de maior impacto sobre a inflação de 6,59% acumulada em 12 meses são serviços: refeição fora de casa, aluguel residencial, cursos regulares e lanche fora de casa.
Refeição fora de casa foi o maior vilão em 12 meses, ao lado das despesas com empregados domésticos - os dois itens respondem por 0,86 ponto porcentual da taxa de 6,59%.
A alta dos preços dos serviços nos últimos 12 meses superou de longe a inflação medida pelo IPCA: o aumento foi de 8,37%. A alta nos preços de alimentos, embora forte e resistente, tem influência de um choque de oferta. Já a inflação dos serviços é mais persistente, segundo a economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). A explicação é o mercado de trabalho aquecido. "Mesmo tendo um aumento menor do salário mínimo e a economia não indo lá tão bem, o mercado de trabalho pressiona bastante."
Um simples cafezinho consumido nos bares e restaurantes, por exemplo, passou a pesar 11,41% mais no bolso. Se comprasse o café moído no supermercado para tomar em casa, o aumento do custo ao consumidor teria sido de 7,13%.
"Estamos nos tornando um país de primeiro mundo. Antes, a valorização dos serviços era típica apenas em Paris e Nova York. Mas, com o aumento da demanda no Brasil, os preços aqui também estão ficando mais altos", destacou o professor de Economia e Finanças do Ibmec-Rio, Luiz Filipe Rossi.
Ele lembrou, contudo, que também o serviço em casa, como o de preparar um cafezinho, ficou mais caro, com o aumento do salário da empregada doméstica. "Nos EUA, é possível comprar muitos produtos prontos para facilitar a vida de quem trabalha fora. Ir a um restaurante é um absurdo, porque a mão de obra qualificada nos grandes centros é muito cara", disse Rossi.
Para muitos brasileiros, abrir mão do café no horário de trabalho, na rua, é mais penoso do que pagar um pouco mais por isso. "Todas as tardes, interrompo o que estou fazendo para um cafezinho. Às vezes, pesa um pouco, porque, junto do café, sempre vem um bolo. No fim, sai mais caro do que o esperado", contou o funcionário público Ronaldo Silva, enquanto tomava o seu café da tarde, no centro do Rio.
O preço do cafezinho na rua, assim como todos os serviços, está sendo pressionado pelo crescimento da contratação pelo setor, o que diminui a oferta de mão de obra e acaba elevando os salários. Há uma massa de consumidores incorporada à economia, que ajuda a aquecer a demanda. Em média, o custo da mão de obra representa 19,2% da receita dos serviços. O peso é maior nos segmentos que usam mão de obra menos qualificada, como alimentação fora de casa.
Veículo: O Estado de S.Paulo