Piadas e protestos trazem tema da inflação de volta para as conversas dos brasileiros
SÃO PAULO - O tema inflação deixou definitivamente de ser um assunto só de analistas econômicos e colunistas de jornal e voltou a fazer parte das discussões do dia a dia dos brasileiros. O preço do tomate, o vilão da vez - posto já ocupado pelo chuchu no passado -, subiu 122,13% em 12 meses.
Com bom humor, nas redes sociais, as piadas remetiam a joias de tomate, prêmios da Mega-Sena pagos pelo produto e até um caqui preso por se passar por um tomate. Na TV, a apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo, usou nesta quarta-feira durante o seu programa Mais Você um colar de tomate e para satirizar afirmou que estava "usando uma joia".
"A agricultura teve uma quebra de safra norte-americana no segundo semestre de 2012 e obviamente isso ia ser transmitido para o preço. Atualmente, os preços em geral subiram e o tomate virou a 'vedete' para representar a indignação", diz o economista da LCA, Étore Sanchez.
Percepção. Os economistas dizem que o problema não é o tomate em si, cujo peso no IPCA é de apenas 0,33%. A questão é que a alimentação, cujo peso é de 24,5% no IPCA, é rapidamente percebida pelos consumidores. "Virou piada. Há dois anos já sentimos uma elevação nos preços e agora em março chegou ao ápice, batendo o teto da meta do governo, de 6,5%", diz o professor da FGV, Samy Dama.
Dentro dos alimentos, o tomate foi o item que mais subiu no ano (60,9%) e o segundo na comparação de 12 meses (122,13%).
Antes do Plano Real, o País conviveu com taxas de inflação muito mais elevadas e o tema era comum nas rodas de conversas. Em 1994, por exemplo, o IPCA avançou 916%. Um dos motivos para a inflação estar agora sendo sensivelmente percebida pelo consumidor é que antigamente os reajustes salariais tinham periodicidade menor, chegou a existir até o gatilho salarial. "O consumidor não tem ao longo do ano a recomposição do salário e percebe assim que o seu poder de compra está sendo corroído", diz Samy.
Governo apreende contrabando de tomate
A última apreensão, de cinco caixas de 20 kg cada, foi feita na madrugada desta quarta-feira
FOZ DO IGUAÇU - Fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Foz do Iguaçu, no Paraná, apreenderam em duas semanas o equivalente a quase meia tonelada de tomate contrabandeado da Argentina. A última apreensão, de cinco caixas de 20 kg cada, foi feita na madrugada desta quarta-feira, na Ponte Internacional da Amizade, principal ligação com Ciudad del Este, no Paraguai. Os outros cerca de 300 kg haviam sido flagrados em pequenos carregamentos que entrariam no País pela fronteira com a Argentina.
De acordo com o chefe local do Ministério da Agricultura, Antônio Garcez, a maior frequência na apreensão deste tipo de mercadoria se deve à alta do produto no Brasil registrada desde meados de março. As outras foram flagradas na Ponte Internacional Tancredo Neves, principal via de acesso à Argentina, de onde o produto vem sendo trazido ilegalmente. "Assim como a farinha, a cebola, o alho e as frutas também bastante procuradas durante todo o ano, este tipo de mercadoria exige o certificado fitossanitário internacional e o cumprimento dos processos de importação. Caso contrário é apreendido", alerta.
Com o quilo do tomate sendo vendido nas últimas semanas por cerca de R$ 8 em Foz do Iguaçu, muitos moradores da região têm apelado para o contrabando. Na vizinha Puerto Iguazú, o produto pode ser encontrado por até R$ 3 o quilo. A grande procura, no entanto, está fazendo o produto desaparecer das prateleiras argentinas. "Antes fazia pedido de tomate, que vem de Posadas, a 300 quilômetros daqui a cada três dias. Ultimamente tenho feito todos os dias e mesmo assim não está sendo suficiente. Com a procura em alta e as enchentes na região de La Plata, estou tendo que contar com a sorte", aponta o comerciante Antonio Garrido.
O aumento do preço do tomate e do consequente contrabando expôs outro problema: a falta de fiscais sanitários. "Na Ponte da Amizade não temos nenhum fiscal. E, para que o controle seja feito, contamos com a colaboração da Receita Federal. Já, na outra fronteira, com a Argentina, trabalha apenas um fiscal, que alterna os horários de expediente entre a noite e o dia", diz Garcez.
Veículo: O Estado de S.Paulo