Inflação cai na boca do povo

Leia em 3min 40s

Piadas e protestos trazem tema da inflação de volta para as conversas dos brasileiros

SÃO PAULO - O tema inflação deixou definitivamente de ser um assunto só de analistas econômicos e colunistas de jornal e voltou a fazer parte das discussões do dia a dia dos brasileiros. O preço do tomate, o vilão da vez - posto já ocupado pelo chuchu no passado -, subiu 122,13% em 12 meses.

Com bom humor, nas redes sociais, as piadas remetiam a joias de tomate, prêmios da Mega-Sena pagos pelo produto e até um caqui preso por se passar por um tomate. Na TV, a apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo, usou nesta quarta-feira durante o seu programa Mais Você um colar de tomate e para satirizar afirmou que estava "usando uma joia".

"A agricultura teve uma quebra de safra norte-americana no segundo semestre de 2012 e obviamente isso ia ser transmitido para o preço. Atualmente, os preços em geral subiram e o tomate virou a 'vedete' para representar a indignação", diz o economista da LCA, Étore Sanchez.

Percepção. Os economistas dizem que o problema não é o tomate em si, cujo peso no IPCA é de apenas 0,33%. A questão é que a alimentação, cujo peso é de 24,5% no IPCA, é rapidamente percebida pelos consumidores. "Virou piada. Há dois anos já sentimos uma elevação nos preços e agora em março chegou ao ápice, batendo o teto da meta do governo, de 6,5%", diz o professor da FGV, Samy Dama.

Dentro dos alimentos, o tomate foi o item que mais subiu no ano (60,9%) e o segundo na comparação de 12 meses (122,13%).

Antes do Plano Real, o País conviveu com taxas de inflação muito mais elevadas e o tema era comum nas rodas de conversas. Em 1994, por exemplo, o IPCA avançou 916%. Um dos motivos para a inflação estar agora sendo sensivelmente percebida pelo consumidor é que antigamente os reajustes salariais tinham periodicidade menor, chegou a existir até o gatilho salarial. "O consumidor não tem ao longo do ano a recomposição do salário e percebe assim que o seu poder de compra está sendo corroído", diz Samy.


Governo apreende contrabando de tomate

A última apreensão, de cinco caixas de 20 kg cada, foi feita na madrugada desta quarta-feira

FOZ DO IGUAÇU - Fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Foz do Iguaçu, no Paraná, apreenderam em duas semanas o equivalente a quase meia tonelada de tomate contrabandeado da Argentina. A última apreensão, de cinco caixas de 20 kg cada, foi feita na madrugada desta quarta-feira, na Ponte Internacional da Amizade, principal ligação com Ciudad del Este, no Paraguai. Os outros cerca de 300 kg haviam sido flagrados em pequenos carregamentos que entrariam no País pela fronteira com a Argentina.

De acordo com o chefe local do Ministério da Agricultura, Antônio Garcez, a maior frequência na apreensão deste tipo de mercadoria se deve à alta do produto no Brasil registrada desde meados de março. As outras foram flagradas na Ponte Internacional Tancredo Neves, principal via de acesso à Argentina, de onde o produto vem sendo trazido ilegalmente. "Assim como a farinha, a cebola, o alho e as frutas também bastante procuradas durante todo o ano, este tipo de mercadoria exige o certificado fitossanitário internacional e o cumprimento dos processos de importação. Caso contrário é apreendido", alerta.

Com o quilo do tomate sendo vendido nas últimas semanas por cerca de R$ 8 em Foz do Iguaçu, muitos moradores da região têm apelado para o contrabando. Na vizinha Puerto Iguazú, o produto pode ser encontrado por até R$ 3 o quilo. A grande procura, no entanto, está fazendo o produto desaparecer das prateleiras argentinas. "Antes fazia pedido de tomate, que vem de Posadas, a 300 quilômetros daqui a cada três dias. Ultimamente tenho feito todos os dias e mesmo assim não está sendo suficiente. Com a procura em alta e as enchentes na região de La Plata, estou tendo que contar com a sorte", aponta o comerciante Antonio Garrido.

O aumento do preço do tomate e do consequente contrabando expôs outro problema: a falta de fiscais sanitários. "Na Ponte da Amizade não temos nenhum fiscal. E, para que o controle seja feito, contamos com a colaboração da Receita Federal. Já, na outra fronteira, com a Argentina, trabalha apenas um fiscal, que alterna os horários de expediente entre a noite e o dia", diz Garcez.



Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Com importações e exportações em queda, Brasil perde espaço no comércio global

O Brasil perdeu espaço no comércio mundial em 2012. E a questão na Organização Mundia...

Veja mais
Refeição fora de casa e empregados domésticos puxam a alta da inflação

A alta do cafezinho nos bares e restaurantes, de 11,41% em doze meses, revela como o setor de serviços está...

Veja mais
Inflação oficial desacelera, mas estoura teto da meta

Índice de preços medido pelo IBGE registra 0,47% em março e já acumula 6,59% em 12 meses A i...

Veja mais
Setor de cartões cresce 21% no ano e movimenta 15% do PIB

O setor de cartões deverá crescer 21% em 2013 e movimentar faturamento bruto equivalente a 15% do produto ...

Veja mais
Ginástica para manter os preços

Há pelo menos um ano a alta nos preços dos alimentos comprovada pelos indicadores de inflaçã...

Veja mais
Inflação para famílias com renda até cinco salários mínimos sobe para 0,6% em março

A inflação para famílias com renda até cinco salários mínimos, medida pelo &Ia...

Veja mais
Dilma já admite alta nos juros neste mês

Inflação em 12 meses rompe o teto da meta ao atingir 6,59%, e Planalto vê necessidade de BC refor&cc...

Veja mais
Alimentos em trégua numa inflação espalhada

Preço das matérias-primas agrícolas, que afetam itens industrializados, caíram no trimestre,...

Veja mais
Volume de vendas do varejo deve desacelerar, diz FIA

O poder de consumo do brasileiro está se esgotando, e, aliado ao aumento geral de preços por qual passa a ...

Veja mais