Na contramão das demais Bolsas mundiais, Bovespa sobe 0,7% com busca por barganhas
Fundos de renda fixa indexados ao IPCA perdem R$ 4,4 bi após cotista ter prejuízo de 4,3% em 30 dias
DE SÃO PAULO
Os mercados globais sofreram ontem um dos piores tombos dos últimos dois anos, ainda refletindo os efeitos na véspera da indicação do BC dos EUA (Fed) de que a era do dinheiro barato está chegando ao fim.
No Brasil, o câmbio foi o principal afetado. Mesmo após intervenções do BC que somaram US$ 6 bilhões, o dólar subiu 3,42%, a maior alta desde setembro de 2011. A moeda foi a R$ 2,252, maior valor desde abril de 2009.
Desde que o Fed sinalizou pela primeira vez, em maio, que iria acabar com os estímulos nos próximos meses, foi ante o real que o dólar teve a maior valorização (10,7%) entre as principais moedas globais. O peso mexicano vem a seguir, com alta de 8,5% em 30 dias.
O FMI disse que já observa o movimento e que até agora avalia a atuação do BC brasileiro como pontual. "As reservas internacionais brasileiras são adequadas, se mantidos os padrões, para evitar tumulto no mercado", disse à Folha um porta-voz do FMI.
A Bovespa acabou sendo o ponto fora da curva. Depois de chegar a ceder mais de 4% pela manhã, a Bolsa brasileira foi retomando o fôlego e fechou em alta de 0,67%.
Para Paulo Gala, estrategista da Fator corretora, a queda da Bolsa ao longo do dia deixou alguns papéis "excessivamente baratos", abrindo oportunidades de compra. "É difícil acertar o timing' exato, mas quem estiver atento às oportunidades poderá fazer excelentes negócios."
O cenário, no entanto, permanece desafiador. Bruno Gonçalves, analista da WinTrade/Alpes Corretora, diz que, enquanto não for feito um ajuste nas contas externas, o país continuará vulnerável ao capital especulativo.
A alta da Bovespa contrasta com o dia das Bolsas globais. Os mercados asiáticos e europeus, que fecharam anteontem antes do discurso de Ben Bernanke (presidente do Fed), tiveram forte baixa.
Nos EUA, o índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, recuou 2,34% e teve a maior queda em pontos desde novembro de 2011. A Bolsa mexicana caiu 3,91%.
A queda dos mercados é uma reação à declaração de Bernanke de que o Fed deve diminuir ainda neste ano o programa de estímulo, que prevê a compra de US$ 85 bilhões ao mês em títulos.
A compra de papéis foi iniciada em setembro de 2012, com um dos propósitos de estimular a alta das Bolsas --com ações valorizadas, os americanos poderiam comprar mais, estimulando o resto da economia. O fim desse dinheiro barato e o aperto no crédito do BC chinês para algumas instituições elevaram a tensão ontem no mercado.
No Brasil, as oscilações nos juros causaram fortes perdas nos fundos de renda fixa, especialmente aqueles que aplicam em títulos corrigidos pela inflação. Esses fundos tiveram saques de R$ 4,4 bilhões em recursos nos últimos 30 dias, após os cotistas perderem 4,3% do dinheiro.
Veículo: Folha de S.Paulo