Setor não "segura" PIB neste ano.
O comércio, que foi o grande motor da economia no ano passado, vive um período de estagnação neste ano. Depois de um trimestre fraco e de uma Copa das Confederações com vendas frustradas pelas manifestações, a expectativa de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) anual do segmento em Minas Gerais passou de 3% para 1,5%. Até mesmo as encomendas e contratações de temporários para o Natal deverão ser menores do que no exercício anterior.
"Não é que estejamos pessimistas para este ano. Estamos cautelosos", afirma o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas) Gabriel de Andrade Ivo. Mesmo assim, ele admite que até mesmo o Natal deverá ser afetado, caso a inflação não seja controlada. Pautando-se na atual situação do segmento, os comerciantes mineiros já programam encomendas menores para a data mais importante do ano e, conseqüentemente, contratação de temporários também abaixo da praticada em 2012.
O economista explica que no final de 2012 a expectativa era de um crescimento do setor neste ano da ordem de 3%. O otimismo era baseado na proximidade da Copa das Confederações e nos bons resultados alcançados no exercício anterior. Para se ter uma ideia, no período, o comércio mineiro alcançou alta de 2,3%. O setor teve grande participação no crescimento econômico, em um ano com fortes reflexos negativos com o cenário internacional adverso.
A principal explicação para o bom resultado na época são as medidas governamentais que foram, em sua maioria, no sentido de estimular o consumo interno. Elevação da renda, redução do nível de desemprego, aliados à facilidade na tomada de crédito e desonerações de produtos como veículos, linha branca e móveis, colaboraram para os resultados de 2012.
Inflação - Porém, conforme lembra o professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas Fernando de Holanda Barbosa Filho, neste ano surgiu novo elemento que mudou toda a realidade do segmento: a inflação. "Com a necessidade de controlar a pressão inflacionária, o governo viu que levar o brasileiro às compras não é mais o melhor caminho para estimular crescimento econômico. Então os juros começaram a subir e os estímulos governamentais às vendas reduziram", afirma. Isso sem contar que houve aumento da inadimplência e estagnação do crescimento da renda.
Em decorrência dessas mudanças na economia nacional, já no mês de março, o comércio do Estado havia revisado a expectativa de crescimento para este ano. Se antes esperava-se elevação de 3%, passou a ser 2,5% no período. Porém, como se não bastassem as mudanças na economia desfavoráveis ao crescimento do comércio, a Copa das Confederações, antes apontada como uma grande oportunidade para o segmento, resultou em prejuízos financeiros.
As perdas em Belo Horizonte chegaram a R$ 74,6 milhões em decorrência das manifestações, segundo pesquisa feita da Fecomércio Minas.
Depois disso, o comércio mineiro passou a torcer por um crescimento de 1,5%, na melhor das hipóteses. "Essa expectativa só vale se o governo conseguir controlar a inflação e o segundo semestre for marcado por recuperação", afirma Ivo. A taxa esperada é abaixo das expectativas de mercado para o crescimento do país. Conforme o último boletim Focus, o PIB nacional deverá fechar em 2,7%.
Para o analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Minas Gerais, Antônio Braz, neste ano o comércio não terá novamente papel de destaque no PIB. "O comércio está estagnado. E em Minas o setor está apresentando resultados piores que a média nacional do segmento", afirma. Dados presentes na Pesquisa Mensal do Comércio mostram que o varejo mineiro fechou o mês de março deste ano no mesmo patamar que outubro de 2012, o que mostra estagnação.
Levando-se em conta a variação mensal do comércio em Minas Gerais, o setor também fica no zero. Em janeiro a alta foi de 0,5% no nível de vendas. Em fevereiro, teve uma queda de 0,4% e em março outra retração de 0,1%.
Veículo: Diário do Comércio - MG