Consumo ignora a crise

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Crescimento baixo e inflação alta não se refletem na boca do caixa, onde os mineiros devem gastar R$ 151,8 bilhão este ano, 12,2% mais que em 2012, de acordo com a Ibope Inteligência

 


Os gastos das famílias de Minas Gerais deverão somar R$ 151,880 bilhões neste ano, cifra 12,2% maior na comparação com o bolo total do consumo no estado durante o ano passado (R$ 135,39 bilhões). Os dados foram estimados pela empresa Ibope Inteligência, especializada em pesquisa e consultoria em marketing, potencial de mercado e consumo. Ainda que descontada a inflação de 2013, será um farto aumento, de 6,34%, considerando-se o índice oficial do custo de vida, o IPCA, que acumula variação de 5,86% no país nos últimos 12 meses até setembro, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com todo esse fôlego, a estimativa do consumo de 2013 parece desdenhar das taxas modestas de crescimento da economia brasileira projetadas pelos analistas do mercado financeiro, na casa dos 2%, e logo instiga a pergunta: de qual crise falamos no Brasil? O levantamento feito pelo Ibope Inteligência mostra crescimento do potencial de consumo entre todas as classes de renda, principalmente aquelas que ascenderam socialmente nos últimos anos: a C, a D e a E. A alta da inflação dos alimentos no primeiro semestre pressionou os gastos com alimentação dentro e fora dos domicílios, que tendem a absorver R$ 36,130 bilhões.

Outra parcela importante dos desembolsos em Minas será com automóvel particular, de R$ 26,322 bilhões. Os resultados no estado acompanham o movimento do consumo no Sudeste, onde as compras deverão somar R$ 793 bilhões em 2013, um acréscimo de 15%, em termos nominais, frente a 2012, ainda com base na pesquisa do Ibope Inteligência. A chave para entender os números numa economia em desaceleração está no conjunto de três ingredientes essenciais nessa análise: a manutenção do nível do emprego, a elevação dos rendimentos da população e o período recente de expansão do crédito no país, alerta o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

“O consumo, sem dúvida, continua firme, embora a um ritmo descendente, com a inflação mais alta. A boa notícia é que os preços começaram a ceder em relação ao primeiro semestre”, afirma. O IBGE divulgou no mês passado uma taxa de desemprego de 5,4%, que caiu frente aos 6% de junho e ficou estável ante agosto e perante o mesmo mês no ano passado. A renda real, descontada a inflação, de R$ 1.908 subiu 1% em relação a agosto e 2,2% quando comparada a setembro de 2012. Vale lembrar que na mesmo linha de expansão do potencial de consumo indicado pela pesquisa do Ibope, o Banco Central apurou em setembro gasto recorde dos brasileiros no exterior para o mês analisado, de US$ 2,1 bilhões em viagens.

Outro impulso dado ao consumo foi a prorrogação, neste ano, do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que o governo adotou em 2012 para móveis, automóveis e eletrodomésticos da linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar e tanquinhos). Essa combinação de fatores foi mais veloz que o lado da economia sacrificado pela crise e os efeitos da turbulência mundial até agora, a indústria, as empresas prestadoras de serviços e os exportadores. A rigor, o país continua a crescer, mas perde ritmo e há diferentes níveis de desempenho econômico, observa Alex Agostini, economista-chefe da empresa de classificação de risco Austin Rating.

A indústria brasileira, que tanto reclama da falta de oportunidades para investir e, assim, aumentar a oferta de produtos e a geração de empregos, enfrentou queda da produção de 1,2% em agosto. Em Minas, a perda foi de 4,5%, com base em levantamento do IBGE. “Não fosse o emprego e a renda, que, por sua vez, ajudaram bastante no mercado de crédito, já teríamos um grande problema para o crescimento no Brasil”, afirma Alex Agostini.

CONCORRÊNCIA A prudência diante da inflação também contribuiu para que a população continuasse a consumir e a permitir expansão das vendas do comércio, que foi de 3,8% acima da variação do custo de vida de janeiro a agosto, reconhece o economista Fábio Bentes, da CNC. É a tática usada pela doméstica Elza Nunes, de 43 anos, que passou a adquirir produtos das boas marcas que gosta, mas sem medo de experimentar novidades, comportamento essencial para alimentar a concorrência no varejo.

“No supermercado, procuro as ofertas e espero a hora certa para comprar”, ensina Elza. O segurança Antônio César de Figueiredo, de 52 anos, diz que gosta de uma pechincha, mas é totalmente infiel a marcas. Sem gastar muito com palavras, vai direto ao ponto: “Compro o que está mais em conta. Prefiro produtos que têm os melhores preços”.

Figueiredo, que está à procura de um celular para o filho Philipe, de 13 anos, diz que avalia as ofertas, faz pesquisa de preço e dá preferência ao menor valor que encontra no mercado, aliado também à chance de fazer boas prestações. O motorista Marcelo Belisário, 56, é o responsável por fazer as compras para a família, que inclui a mulher e dois filhos adultos. No supermercado, não se rende a tentações. Busca promoções e, na sua escolha, ganha quem tem preço melhor. “Leio o rótulo para saber se os ingredientes são os mesmos e escolho aquele produto com melhor preço”.



Veículo: Estado de Minas


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