Desde o agravamento da crise internacional, em setembro de 2008, o Banco Central brasileiro cortou os juros básicos de 13,75% para 12,75% ao ano, uma redução de 1 ponto percentual, equivalente a apenas 7,27% da taxa Selic. Para vários analistas, é um corte excessivamente modesto, dado o tamanho do tombo da atividade econômica registrado no quarto trimestre do ano passado.
Em termos anualizados, o PIB recuou 15,2% em relação ao terceiro trimestre, feito o ajuste sazonal, uma queda superada por poucos países, como a Coreia do Sul (retração anualizada de 20,8% no período) e a Tailândia (baixa de 22,2%). Desde setembro passado, o BC coreano reduziu os juros de 5% para 2% ao ano, um talho correspondente a 60% da taxa básica, ao passo que o da Tailândia diminuiu o custo do dinheiro de 3,5% para 1,5%, uma baixa de 57%.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, acha que o BC poderia ter começado a cortar os juros desde dezembro do ano passado. Para ele, o risco de repasse da desvalorização do câmbio para os preços não era significativo, dada a forte queda da atividade econômica. Vale acredita que o BC tem hoje amplo espaço para reduzir a Selic, considerando possível reduzir os juros básicos na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom) e da próxima em 3 pontos percentuais. "O quadro inflacionário permite que o BC corte os juros em 2 pontos no encontro deste mês sem causar problemas", afirma Vale.
Um dos motivos para a cautela do BC é a defasagem na divulgação dos números sobre a atividade econômica, acredita a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara. O resultado do PIB do quarto trimestre, por exemplo, só foi divulgado ontem. Isso explicaria em parte a prudência do BC na condução da política monetária, assim como o fato de as expectativas de inflação demorarem a cair. Além disso, o Brasil crescia com força até setembro passado. No terceiro trimestre de 2008, a expansão anualizada atingiu 7%.
Mesmo assim, Thaís também acredita que havia espaço para o BC baixar a Selic já em dezembro, por causa da magnitude do tombo da atividade sugerido por alguns indicadores. Ela acredita num corte de 1,5 ponto na reunião de hoje do Copom, apostando em mais duas baixas de 1 pontos nos encontros seguintes, o que derrubaria a Selic para 9,25% ainda no primeiro semestre. Ainda que se concretize esse cenário, a taxa terá caído 32,7% desde setembro passado, bem menos do que os cortes promovidos por outros BCs. Um dos casos mais radicais entre os é do Banco da Inglaterra, que derrubou os juros de 5% em setembro para os atuais 0,5% ao ano, uma redução de 4,5 pontos percentuais, equivalente a 90% da taxa.
Há, porém, quem defenda uma atitude mais cautelosa por parte do BC na reunião de hoje, como o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz. Para ele, o ideal é que a Selic caia 1 ponto. A queda lenta da inflação de serviços e o risco de repasse do dólar para os preços sugerem que o ideal é uma estratégia mais gradual, diz ele, que mesmo assim vê espaço para juros de um dígito neste ano.
Vale faz uma observação quanto ao método de anualizar o resultado de um trimestre: para ele, é algo mais adequado para economias mais estáveis, como EUA e União Europeia, do que para o Brasil, ainda sujeito a oscilações fortes. Isso ficaria claro no forte tombo ocorrido no quarto trimestre, depois da alta robusta registrada no ano até setembro. Vale observa também que, nos países ricos, o processo de desaceleração foi mais lento e um pouco menos abrupto, embora também tenha sido muito forte. No terceiro e no quarto trimestres do ano passado, por exemplo, o PIB do Reino Unido caiu 2,8% e 6%, em termos anualizados.
Veículo: Valor Econômico