O Banco Central foi surpreendido com a forte queda do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre de 2008. Pelas contas da autoridade monetária, a economia iria crescer 5,6% no ano passado, acima dos 5,1% medidos pelo IBGE. O BC previa expansão de 5,6% em 2008 com base nas informações disponíveis em 12 de dezembro, data de corte para a elaboração do relatório de inflação de dezembro. Foi esse mesmo conjunto de dados que fundamentou a decisão de manter a Selic, então em 13,75% ao ano, estável na reunião do Copom, em 10 de dezembro. "O BC, como todo mundo no mercado, foi surpreendido pelo PIB", afirma a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências. Ontem e hoje o BC está reunido para discutir o tamanho da taxa de juros e, entre os analistas, a expectativa de um corte superior a 1 ponto percentual aumentou com o resultado de ontem.
Além de ter errado na previsão do PIB, dizem os analista, o BC deve ter subestimado o chamado hiato do produto. Essa é uma medida do quanto a economia está crescendo abaixo do seu potencial. Quanto maior o hiato do produto, mais forte é a tendência de queda da inflação -e maior é o espaço para o BC cortar a taxa básica de juros.
Os analistas ainda estão refazendo as suas estimativas do hiato do produto, incorporando os dados do novo PIB. Como o hiato do produto não é algo que se observa diretamente, os cálculos variam bastante. Mas há um certo consenso de que o PIB potencial da economia brasileira gira em torno de 4,5% - percentual estimado pela equipe do Santander.
Em dezembro, quando manteve os juros básicos estáveis, o BC calculou expansão do PIB de 3,2% em 2009. Naquela época, projetava-se um hiato do produto pouco maior de 1%, tomando como base um PIB potencial de 4,5%. Depois dos números do PIB, analistas passaram a prever crescimento entre 0% e 1%. Se os cálculos estiverem corretos, o hiato do produto gira em torno de 4%. O BC não errou sozinho nas projeções. Em 12 de dezembro, o consenso de mercado era que a economia iria crescer 5,52% em 2008. Na mesma data, o mercado projetava alta de 2,5% em 2009, um pouco abaixo dos 3,2% do BC.
O BC tem insistido, por outro lado, que o aumento do hiato do produto não tem sido capaz de eliminar o risco de inflação - que se mostra resistente à queda da atividade. O Santander, por exemplo, projeta inflação de 6% em 2009. "É o risco do repasse da desvalorização cambial para a inflação", afirma o economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman.
"O resultado do PIB mostrou que a economia brasileira não está imune à crise no mercado globalizado", declarou o presidente do BC, Henrique Meirelles, em nota. "Apesar da queda do último trimestre, fortemente influenciada por ajuste de estoques em alguns setores, o crescimento do PIB de 5,1% em 2008, impulsionado pela demanda doméstica e crescimento da renda, mostra que economia brasileira tem fundamentos sólidos. Isto ajudará na retomada."
Veículo: Valor Econômico