A percepção da maioria dos empresários brasileiros (79%) é de que o ambiente econômico interno se agravou no primeiro trimestre em razão dos impactos da crise financeira internacional. A maior parte (83%) dos entrevistados disse que os negócios já sentem os impactos da turbulência, agravada em meados de setembro de 2008. Os dados constam do boletim Consulta Empresarial feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) entre os dias 4 e 10 deste mês. Foram consultados 411 empresários de grande, médio e pequeno portes.
Mais da metade (55%) dos entrevistados afirmou que os impactos da crise nos negócios evoluíram no início deste ano. Enquanto 60% defendem a redução de tributos para estimular os negócios e mitigar os efeitos da crise internacional na economia doméstica. Outra parcela (51%) defende a retração da taxa de spread bancário para reduzir os custos da produção.
O pessimismo dos empresários brasileiros é influenciado pela piora das expectativas para a economia internacional, sobretudo no que se refere à demanda, uma vez que a dependência externa do Brasil, principalmente no que se refere às exportações, aumentou nos últimos anos.
"O mundo está pior e o Brasil está ficando pior, pois os indícios são de queda da atividade econômica", disse o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, que assegura que "a teoria do descolamento do Brasil em relação ao mundo é frágil". Segundo o dirigente, os especialistas "jogaram para baixo" as expectativas de que a economia pudesse se recuperar ainda em 2009. "As estimativas mostram que a recuperação da economia só virá em 2010", complementou. "A percepção, prosseguiu o dirigente, é de que 2009 será um ano ruim para toda a economia mundial, incluindo a do Brasil".
No estudo da CNI, quase a metade dos empresários (47%) acredita que a recuperação da economia mundial e, consequentemente, a do Brasil se dará a apenas a partir de 2010. Enquanto isso, uma minoria (21%) aposta na retomada econômica no segundo trimestre deste ano.
Monteiro Neto acredita que o pessimismo dos empresários está mais relacionado à economia mundial dos que aos próprios negócios das empresas, o que demonstra que nem todos os negócios sentiram os efeitos da crise. Ele acrescentou que a esperança é de que os negócios dos industriais melhorem no primeiro trimestre deste ano, em relação ao apurado no último trimestre de 2008, quando a produção industrial caiu 7,4%.
Medidas efetivas
"A percepção que temos é de que o ambiente econômico do mundo está piorando. Porém, isso não significa dizer que o desempenho dos negócios das empresas será pior do que o apurado no trimestre anterior", disse Monteiro Neto. O dirigente destacou a necessidade de o governo tornar "efetivas" as medidas adotadas para o combate à crise, tais como: linhas de crédito de capital de giro e adicional de moedas em dólares pelo Banco Central para ajudar empresas a refinanciar dívidas no exterior.
A pesquisa da CNI mostra que o pior momento de ajuste feito no quadro de funcionários das indústrias já passou. Uma fatia de 54% consultada avisou que já fez os ajustes necessários, como demissão ou suspensão de serviços terceirizados. Mas ainda existe uma parcela de 36% que ainda pretende demitir empregados ou suspender serviços terceirizados.
"Apesar da duração mais longa da crise, não existe indicação de se aprofundar as dificuldades no mercado de trabalho", disse o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
Veículo: Gazeta Mercantil