Algumas das principais empresas de bens de consumo e serviços do mundo parecem não ter se dado conta do assunto que dominou os noticiários de ontem. A queda de 3,6% no PIB brasileiro no quarto trimestre de 2008, que aproximou o país da rota de recessão já trilhada por outros mercados, sequer foi mencionada pelos principais executivos de marketing (CMO, na sigla em inglês) da Procter & Gamble, Unilever, AB-Inbev, Avon, McDonald´s e General Mills.
Todos eles, reunidos ontem em São Paulo na conferência da World Federation of Advertirsers (WFA), realizada com a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), dizem que o Brasil é um dos mercados que menos devem ser prejudicados pela crise e onde ainda têm chance de crescer neste ano.
"Por enquanto, a economia brasileira está saudável e a crise não bateu tão forte aqui, que é o nosso segundo maior mercado depois dos Estados Unidos", afirmou Simon Clift, CMO da Unilever, que logo em seguida foi corrigido por Marcos Freire, executivo da Unilever responsável pela comunicação corporativa no Brasil: "O país é o nosso terceiro maior mercado, depois de EUA e Reino Unido".
A Unilever acredita que o Brasil deve ser um dos poucos países a puxar para cima sua receita neste ano. O mesmo pensa a concorrente em produtos de higiene pessoal P&G. "Temos muito potencial aqui para crescer em produtos de higiene pessoal e cuidados infantis", disse o vice-presidente mundial de compra de mídia da P&G, Bernhard Glock, presidente da WFA.
Questionado se a crise mundial pode levar o consumidor a buscar marcas mais baratas, o CMO da AB- Inbev, Chris Burggraeve discordou. "Os efeitos do que você chama de crise são diferentes em cada mercado", afirmou. "Na China, por exemplo, os consumidores estão optando por cervejas mais caras e, no Brasil, não observamos nenhuma oscilação no nosso portfólio, formado por diversas marcas que atendem diferentes públicos.".
Na opinião do presidente da ABA, Ricardo Bastos, que é vice-presidente executivo da Johnson & Johnson, o país foi um dos últimos a entrar na crise e será um dos primeiros a sair. "Se crescermos 1,5% este ano será ótimo, porque será o triplo do que o resto do mundo pode crescer", afirmou, referindo-se ao PIB brasileiro.
Uma boa parte do evento de ontem foi tomada por discussões em relação ao consumo pós-crise. "Não quisemos marcar um encontro para ficar choramingando", disse o diretor gerente da WFA, Stephan Loerke. "Temos que preparar as empresas para a demanda que virá depois da crise".
Veículo: Valor Econômico