Juro real baixo não garante reação

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Os juros reais chegaram ontem a 5,26% ao ano, o menor percentual já observado nos quase 13 anos de história do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, criado junho de 1996. Mas não existe consenso entre os economistas se esse estímulo monetário será suficiente - ou se mostrará exagerado - para reanimar a economia, que caiu 3,6% entre o terceiro e o quarto trimestres de 2008.

 

O juro real mais baixo até então registrado na economia brasileira havia sido na casa de 7% ao ano, entre o final de 2007 e início de 2008. Eles produziram uma taxa de expansão de 9,3% na demanda doméstica no terceiro trimestre de 2008, considerada excessivamente elevada pelo BC, que procurou contê-la com um aperto na política monetária.

 

O consenso entre os economistas é que, em virtude da crise financeira mundial, a política monetária perde um pouco de sua eficácia. O que divide os economistas é até que ponto a política monetária perdeu eficácia. O diretor de estudos macroeconômicos do Instituto de pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), joão Sicsú, divulgou estudo em que afirma que o efeito dos juros sobre a demanda privada seria "apenas modesto". Economistas de bancos e consultorias econômicas, em geral, dizem que, embora tenha um pouco menos de poder que antes da crise, a política monetária ainda faz efeito.

 

"Taxas de juros reais de 5,2%, de 4% ou de 3% não teriam efeito para estimular os empresários a investir ou os trabalhadores a consumir", diz Sicsú. Para ele, as expectativas dos agentes econômicos sofreram deterioração de tal magnitude que não seriam facilmente revertidas pela queda dos juros reais. Sicsú diz que, fora dos períodos de crise, a taxa de juros é, de fato, eficaz para estimular a demanda agregada. "O BC perdeu o 'timing' para baixar as taxas", afirma ele. "Se tivesse baixado antes de setembro, quando o país foi atingido pela crise, estaria fazendo efeito agora."

 

"A política monetária ainda tem seu papel, mesmo em crises como a atual", afirma o economista Roberto Padovani, do Banco WestLB. "O efeito tende a ser um pouco mais fraco, porque as engrenagens da economia não são as mesmas de antes da crise, mas os juros continuam a ter efeitos sobre a demanda agregada", diz o economista Marcelo Salomon, do Unibanco.

 

A política monetária atua sobre a atividade econômica por meio de uma série de canais de transmissão e, lembram Padovani e Salomon, e apenas um deles está obstruído: o do crédito. "O ambiente de aversão a risco faz com que, de um lado, os consumidores demandem menos crédito e, de outro, os bancos ofertem menos crédito", afirma Padovani. A obstrução do canal, pondera Padovani, não quer dizer que ele tenha parado completamente de funcionar.

 

"Os juros mais baixos são muito importante para reverter a expectativa das empresas e dos consumidores", afirma o economista Márcio Percival, professor da Unicamp e vice-presidente de finanças da Caixa Econômica Federal. "As empresas e consumidores são sensíveis a taxa de juros. Temos percebido que, conforme cortamos nossas taxas, a demanda por crédito cresce."

 

Os economistas também divergem sobre se a taxa real na casa de 5,2% ao ano veio para ficar. Padovani acredita que, na crise atual, em que a economia passou a crescer bem abaixo de seu potencial, justifica-se uma taxa de juros abaixo do seu nível natural, ou seja, a taxa que a economia deverá operar no longo prazo. Mas, tão logo a economia se reanime, os juros terão que subir. "Os juros dependem de fatores fiscais e da taxa de produtividade da economia, que não tiverem mudanças fundamentais", diz.

 

Salomon acha possível que, depois da crise, a economia passe a trabalhar com juros menores. "Essa é uma hipótese a ser testada", afirma. Sicsú e Percival dizem que, com certeza, os juros mais baixos vieram para ficar. "Esse é um ganho que teremos com essa crise: taxa reais de juros compatíveis com os níveis observados em outros países, na casa dos 2%", afirma Sicsú, citando percentuais praticados em tempos de normalidade em economias como as de países asiáticos.
 


Veículo: Valor Econômico


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