Outras mil empresas deixaram de importar, segundo a AEB, num sinal do enfraquecimento do comércio
Mais de duas mil empresas deixaram de atuar no comércio exterior no Brasil somente em janeiro deste ano, tanto em exportação como importação, segundo levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "É um número assustador", diz o vice-presidente da entidade, José Augusto de Castro. A maior parte é de pequeno e médio porte.
Em janeiro de 2008, 9.332 empresas exportavam no País. Em janeiro deste ano, eram 8.223 (1.109 a menos). Outras 1.041 deixaram de importar. "Janeiro é um mês fraco e esse tipo de recuo costuma ocorrer, mas este ano foi muito pior." No ano passado, apenas 16 empresas deixaram de exportar no período, em relação a 2007. E outras 1.935 entraram no mercado de importação.
As exportações brasileiras são concentradas em grandes empresas e, desde o início da década, o governo federal tenta ampliar o número de companhias exportadoras. A crise global, a queda na demanda externa e as dificuldades de crédito ameaçam minar os esforços dos últimos anos.
Daniel Martins, sócio da DMM Export, empresa paulista de médio porte especializada em operações de trading e consultoria, disse que o comércio exterior "parou" em janeiro, o pior início de ano desde 1999 para o setor. Porém, avalia que a situação "começa a se normalizar" em março. Segundo o executivo, o cenário é mais complicado para exportadores do que para importadores. "A reação das exportações é mais de longo prazo, as de importação podem ser retomadas de forma mais rápida", explica.
Para Martins, as empresas que deixaram de operar são, na maior parte, as que fizeram investimentos elevados até a metade do ano passado. Com a crise, segundo ele, "95% dessas empresas estão retraindo".
Para Castro, apesar do susto de janeiro, o recuo não deve ser interpretado como uma tendência para o ano. Segundo ele, o cenário é imprevisível e as projeções, difíceis. Além disso, lembra que as empresas podem ter deixado de fazer negócios agora, para retomar mais à frente.
TÊXTEIS
O impacto da crise nas operações de pequenas e médias empresas foi sentido com força pela indústria têxtil. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Aguinaldo Diniz Filho, disse que as exportações do segmento caíram 41% no primeiro bimestre de 2009 em relação ao mesmo período do ano passado. "Isso nos preocupa muito porque apesar de o real ter se desvalorizado em relação ao dólar, países da Ásia estão fazendo de tudo para gerar empregos localmente, exportando produtos a qualquer preço."
De acordo com ele, a indústria têxtil exporta até 13% de sua produção principalmente para a Argentina, que sozinha compra US$ 500 milhões por ano. Mas as barreiras do vizinho já estão sendo sentidas.
PRODUÇÃO PARADA
O impacto da queda das encomendas externas tem sido pesado para uma pedreira em Itaperuna, interior do Rio, a Pedras Paraíso. As vendas ao exterior respondiam por pelo menos 60% da produção. A empresa de médio porte, que tinha faturamento de R$ 280 mil até setembro de 2008, comprou uma escavadeira de R$ 500 mil, em 57 parcelas de R$ 9.900 - 44 ainda a vencer. Mas a máquina está parada desde o fim do ano passado.
As linhas de produção para polimento das rochas da empresa, na cidade vizinha de Santo Antonio de Pádua, também estão paralisadas. As exportações eram destinadas principalmente às empresas de construção civil dos Estados Unidos. Desde novembro, no entanto, suas vendas externas minguaram, com o cancelamento de pedidos. O proprietário, Silvio Ferreira da Silva, conta que investiu em torno de US$ 3 milhões para acompanhar o crescimento das vendas ao exterior. No fim do ano passado, sem as exportações, o faturamento mensal caiu quase à metade, a R$ 150 mil. Em janeiro, veio o baque: R$ 99 mil, o pior desempenho da história da empresa.
"Eu tenho cinco funcionários na pedreira. Estou segurando para ver se a empresa aguenta um pouco e essa crise passa." Ele está com um estoque de 300 toneladas de rochas ornamentais que seriam exportados.
O diretor-superintendente do Sebrae/RJ, Sergio Malta, avalia, porém, que a crise pode ser uma oportunidade para as micro e pequenas. A desconfiança estaria afetando mais os fornecedores de companhias de grande porte. "O dólar valorizado aumenta as condições de competitividade para as pequenas e micro empresas que não são exportadoras de commodities."
Veículo: O Estado de S.Paulo