Guloseimas: Fundo que comanda a empresa contata procurador-geral da Pensilvânia, que poder barrar o negócio
Para tentar evitar questões políticas que frustraram tentativas de fusões anteriores, o fundo fiduciário filantrópico que comanda a Hershey buscou o aval do procurador-geral da Pensilvânia para uma possível oferta de US$ 17 bilhões pela Cadbury, segundo várias fontes a par da situação.
O procurador-geral Tom Corbett, republicano que é candidato a governador, ainda não informou ao fundo fiduciário, o Hershey Trust, o que pensa sobre o negócio. Nas últimas semanas, no entanto, pelo menos um membro do conselho de diretores do fundo contatou Corbett para saber se ele vetaria a tentativa de compra da Cadbury, alvo de oferta hostil de US$ 16,5 bilhões apresentada pela Kraft , de acordo com as fontes.
Pela lei da Pensilvânia, a Procuradoria-Geral possui amplos poderes para supervisionar os fundos beneficentes no Estado - pela interpretação da lei, permite-se que o procurador-geral vete a venda da Hershey ou outras transações que ameacem o controle da empresa pelo fundo.
Há poucas semanas, em um encontro de assessores da Hershey, em Nova York, LeRoy Zimmerman, que encabeça o conselho do fundo e foi procurador-geral da Pensilvânia nos anos 80, e Robert Reese, presidente do fundo, disseram ao grupo que eles precisavam informar o gabinete de Corbett que a Hershey cogitava uma oferta pela Cadbury, segundo as fontes. Integrantes do gabinete disseram que entendiam o interesse da Hershey na compra, mas que não podiam decidir se dariam seu aval até receber mais detalhes.
O fundo sustenta uma escola em Hershey, Pensilvânia, para crianças de baixa renda e depende de renda de mais de US$ 80 milhões de suas participações na Hershey para operá-la. O fundo detém cerca de 80% do direito a voto na empresa, por meio de ações especiais.
Os membros do conselho do fundo temem que se a empresa de chocolates ficar para trás competitivamente à medida que as rivais se combinarem, o fundo poderia acabar perdendo suporte financeiro para suas obras. Encabeçado por Zimmerman e o presidente do conselho de administração da Hershey, James Nevels, o fundo pressiona fortemente para que a companhia apresente uma oferta rival pela Cadbury, segundo três fontes. Tim Reeves, porta-voz do fundo, não quis comentar as informações.
O secretário de imprensa da Procuradoria-Geral da Pensilvânia, Kevin Harley, não confirmou as informações. "Não vou comentar nenhuma conversação que os advogados de nosso gabinete possam ou não ter mantido com o fundo sobre as atividades do dia a dia do fundo ou do futuro fundo. Nenhuma proposta específica nos foi mostrada."
Como resultado da uma lei da Pensilvânia aprovada após a venda abortada de US$ 12,5 bilhões da Hershey para a Wm. Wrigley Jr., em 2002, o Hershey Trust precisa obter aprovação da Procuradoria-Geral do Estado para qualquer transação que possa ameaçar o controle da Hershey pelo fundo. Caso vete qualquer acordo, a lei prevê que o fundo precisa ir à Justiça e "provar com evidências claras e convincentes" que a venda é necessária.
"Há possíveis problemas jurídicos e políticos para o fundo. Eles precisam convencer a Procuradoria-Geral para assinar qualquer acordo. Por outro lado, a comunidade local de lá gosta do controle local", afirmou Robert Sitkoff, professor de Direito em Harvard, que escreveu estudo sobre o acordo abortado entre Wrigley e Hershey.
Uma oferta pela Cadbury testaria a Hershey financeiramente. Com vendas anuais de US$ 5,2 bilhões e capitalização de mercado de US$ 8,5 bilhões, a Hershey tem cerca da metade do tamanho da Cadbury, cujo valor de mercado supera os US$ 18 bilhões. É ainda menor em comparação à Kraft, cujas vendas anuais e a capitalização de mercado são superiores a US$ 40 bilhões. A Kraft já levantou mais de US$ 9 bilhões para financiar sua oferta.
A Hershey recebeu sinalização de dois bancos, JPMorgan Chase e Bank of America Merrill Lynch, de que poderia levantar, pelo menos, US$ 10 bilhões em dinheiro. O restante viria de outras fontes, como o lançamento de ações, ativos do próprio fundo e investidores individuais.
Atualmente, cerca de 85% das vendas da Hershey são obtidas no mercado de doces dos Estados Unidos, de baixo crescimento. A aquisição da Cadbury daria à Hershey acesso a mercados de alta expansão, como os da Índia e México. A compra também poderia sobrecarregar a nova empresa combinada com pesado endividamento e levar ao rebaixamento da Hershey para uma avaliação de crédito "junk", de alto risco de inadimplência.
Veículo: Valor Econômico