Ninguém no setor de alimentos e bebidas economiza números em relação a 2010. As indústrias têm expressado seu otimismo por meio de percentuais graúdos: a Nestlé, por exemplo, planeja faturar 12% mais que neste ano. Na Bauducco, a meta é crescer no mínimo 15%. Já a Empresa Brasileira de bebidas e Alimentos, a Ebba, aposta em vendas 112% melhores. Isso mesmo: a dona das marcas de suco Maguary e Dafruta quer mais que dobrar no próximo ano. Não é para menos: 2008 não teve crise para os fabricantes de alimentos e de bebidas. "Foi um ano fenomenal e esse crescimento deve continuar nos próximos 12 meses embalado pela recuperação do poder aquisitivo de toda população - e das classes C, D e E, em especial", diz João Carlos Lazzarini, diretor de atendimento a varejistas da Nielsen Brasil.
Ao contrário de setores como o automotivo e o de eletroeletrônicos, o começo do ano foi bom para os fabricantes de alimentos e bebidas porque foi esse o período em que as commodities voltaram a um patamar de preço próximo da normalidade, depois de terem disparado em 2007. Tanto é que a Nestlé Brasil, a maior empresa de alimentos do país, em 2008, cresceu apenas 4,6% em relação a 2007, passando de um faturamento R$ 12,4 bilhões para os R$ 13 bilhões do ano passado.
A expectativa agora é fechar 2009 com alta real de faturamento de 7%, ou 10% organicamente (incluindo aquisições, arrendamentos e aumento da capacidade produtiva). Ou seja: a multinacional quase dobrou o ritmo de crescimento e chegará aos R$ 15,5 bilhões. E não vai parar por aí. A meta em 2010 é crescer o dobro do PIB do país, o que deverá resultar em uma elevação de cerca de 12% nas vendas. "Até 2012 vamos chegar a R$ 30 bilhões", afirma Ivan Zurita, presidente da companhia no país.
Mas não só são as grandes do setor que estão otimistas. "Vendemos bem o ano todo e por isso vamos fechar 2009 com um faturamento 26% além do registrado em 2008", diz Welinton Milani, presidente da Vapza, empresa conhecida por seu produto mais vendido, a batata cozida embalada a vácuo. Para 2010, a Vapza, segundo Milani, quer passar dos R$ 25 milhões vendidos este ano para R$ 35 milhões com novos produtos, como a carne seca desfiada, embalada a vácuo e pronta para consumo.
Itens com esse apelo de conveniência e praticidade devem ter grande destaque no ano que vem, conforme Lazzarini, da Nielsen. "As classes C, D e E têm mostrado preferência por esse tipo de produto", afirma. É por isso, segundo ele, que as vendas de artigos perecíveis (iogurtes, queijos, pratos prontos refrigerados e embutidos) cresceram até agora 6% em volume no ano, conforme dados preliminares da Nielsen. É o triplo da evolução média geral de todos os itens de alimentos e bebidas, que ficou em 2% no mesmo período.
É com base nessa tendência que a Ebba faz sua "mega projeção" para 2010. "Vamos fechar o ano com um faturamento entre R$ 250 milhões e R$ 260 milhões", diz Romildo Tavares de Melo, diretor-presidente da companhia que em março comprou a Maguary da americana Kraft. "Mas, no ano que vem vamos chegar a R$ 500 milhões com o lançamento de novas bebidas, a melhora da sinergia entre as duas marcas (Maguary e Dafruta) e o próprio crescimento do consumo", afirma ele.
Outro fenômeno também vai continuar beneficiando o setor no próximo ano: o aumento de categorias de produtos consumidas com frequência pela população. Segundo um levantamento divulgado pela Nielsen em agosto, o carrinho de compras das famílias brasileiras das classes D e E, com renda média mensal de até R$ 846, tinha, até o ano passado, 22 itens em média, a maioria deles formada por artigos básicos, como açúcar, óleo e macarrão. Com a melhora no poder de compra desse conjunto de brasileiros, outras cinco novas categorias - dentre elas achocolatados em pó, leites longa vida, caldos de carne, iogurtes e sucos prontos - passaram a ser comprados com frequência por esse consumidor a partir do primeiro semestre de 2009. "O número de categorias continuará crescendo", diz Lazzarini.
Por isso, indústrias como a General Brands estão diversificando seu portfólio de produtos. Fundada no final dos anos 90, a empresa passou anos vendendo apenas refrescos em pó. Agora transformada em Grupo GB, a companhia vende sucos prontos, chocolates, sobremesas e no ano que vem estreia no varejo com queijos. "Nossa expectativa é faturar R$ 500 milhões em 2010", afirma Isael Pinto, presidente. A companhia, no ano passado vendeu R$ 170 milhões e se associou, em novembro, com a Vencedor Laticínios, que havia faturado cerca de R$ 200 milhões em 2008.
Mas além de comprar mais, o brasileiro também deverá comprar melhor em 2010. É por isso que a Bauducco, que fecha 2009 com vendas de R$ 1,4 bilhão, planeja chegar a no mínimo R$ 1,6 bilhão. "O consumidor que consumia apenas biscoitos mais simples, vai passar a comprar os recheados e também os mais elaborados", prevê Paulo Cardamone, diretor de marketing da Pandurata Alimentos, dona da marca Bauducco.
Também haverá o que os especialistas chamam de segmentação: para continuar vendendo, a indústria lançará novos produtos ou novas versões (ou sabores, ou cores, ou aromas) dos já existes. "Essa tendência tem ganhado muita força", diz o diretor da Nielsen. Prova disso é que, de 2008 para 2009, a indústria colocou 18 mil novos itens no varejo. Ao mesmo tempo, saíram de linha outros 13 mil. A diferença - 5 mil - é enorme. "Considere que um supermercado médio tem de 10 mil a 12 mil itens. Isso quer dizer que quase a metade do que se vende em uma loja é produto novo", analisa o especialista.
Veículo: Valor Econômico