O nono mês do ano já está em curso e ainda há executivos que estão prometendo para a família, para si mesmos e para o departamento de Recursos Humanos (RH) da empresa que vão marcar suas férias até dezembro. No entanto, por motivos de força maior - aquele contrato novo que está em fase de negociação, a mudança da sede, a obra que está em fase de conclusão, entre outros -, esse "luxo" acaba ficando para depois e, assim, indefinidamente.
O ditado popular reza que toda unanimidade é burra. No entanto, não há quem se disponha a falar contra as férias, por mais difícil que seja ausentar-se da empresa por uma, duas ou quatro semanas, o limite máximo permitido pela lei trabalhista brasileira. O diretor da Arcal Consultoria, Haroldo Mota de Almeida, reconheceu que já teve dificuldade em incluir na sua agenda esse precioso tempo de descanso.
Depois de adquirir um plano de férias, pago mensalmente, ele aprendeu a reaproveitar as pausas anuais, apesar de trabalhar por conta própria. "A complicação está na cabeça da pessoa que não gosta de tirar férias. É importante ter férias, não precisa ser 30 dias corridos, mas, uma semana a cada três meses é um prazo bom", definiu.
Intimação - Há quem se questione, ao receber o aviso de férias vencidas, porque foram criadas. Parte desses profissionais, inclusive, é tomado por um mau humor súbito nesse exato momento. De acordo com o consultor, a pausa/ausência do trabalho é algo imprescindível para "recarregar as baterias" e revigorar-se para uma nova temporada de trabalhos e desafios.
Outro argumento muito utilizado é que o final de semana e os feriados prolongados - 2008 teve poucos, a propósito - são suficientes para sair da rotina. De acordo com o professor da pós-graduação do Ibmec, Ricardo Moreira, esse é um prazo muito reduzido para que o corpo e a mente saiam realmente da rotina. "De tempos em tempos, os gestores também experimentam queda do ritmo de produtividade, devido ao excesso de trabalho e à repetição sistemática das atividades diárias", ponderou.
O remédio para esse mal, segundo o professor, é mudar de ambiente, de companhias e de pensamentos, o que só é possível durante o período de férias propriamente dito. "A pessoa tem a chance de resgatar a enegia e reavaliar a vida profissional e pessoal, que sempre ficam para depois daquele trabalho urgente a ser executado", exemplificou. Se tirar 30 dias é complicado, reservar 15, a cada seis meses, pode ser uma alternativa interessante.
Rifa - Há profissionais que preferem vender as férias. De acordo com Moreira, a idéia de ganhar um dinheiro extra esconde o medo de sair e de, ao retornar, encontrar outra pessoa na sua mesa de trabalho. "A cultura brasileira é centralizadora. Os gestores, em especial, sempre pensam que sem eles por perto o negócio não anda, as coisas não funcionam", apontou.
Só que, mesmo com essa responsabilidade toda, a produtividade cai, levando junto a motivação. O resultado dessa operação é o aumento de conflitos devido à impaciencia em dialogar com a equipe e com os pares. Afinal, quem está cansado não é uma boa companhia para nenhuma ocasião, principalmente no ambiente de trabalho.
O pior é quando a ausência se torna recomendação médica. A situação amplamente divulgada e conhecida, ainda é vista como mito pelos gestores, mais atentos à produtividade e ao lucro que a si mesmos, como se fossem super-heróis. A saúde, para esses, é apenas um detalhe que passa desapercebido em meio à papelada, às decisões e encontros de negócios. "A pessoa não sai por conta própria mas é obrigada a tirar férias, quase sempre com direito a estadia em hospital", afirmou. E nesse caso, não há como deixar para depois.
Veículo: Diário do Comércio - MG