O economista Antonio Carlos Leão foi o último membro da família de fundadores a comandar a Leão Júnior, fabricante de chás vendida há três anos para a Coca-Cola. Depois de fazer curso de marketing na University of California (UCLA) e passar férias prolongadas nos Estados Unidos, ele voltou ao Brasil, no fim de 2007, com a ideia de montar um novo negócio na área de alimentos. Criou a NewFoods, para oferecer ao mercado produtos feitos com cereais.
Os primeiros produtos foram enviados para as gôndolas do varejo no Paraná. Depois, para o Rio, onde a marca Leão sempre fez sucesso. Em março, eles chegarão aos mercados de São Paulo e de Santa Catarina. Por enquanto, a NewFoods possui oito itens para oferecer, mas há outros em desenvolvimento. Nos últimos meses, Antonio Carlos tem visitado os varejistas para abrir as portas para seu Disco Pop, como foi batizado o carro-chefe, um disco de cereais coberto com chocolate, assado, para ser comido entre as refeições ou como lanche nas escolas.
O empresário, de 48 anos, conta que o negócio surgiu após ele observar hábitos de consumo de moradores de Los Angeles. Praticante de yoga, casado com nutricionista e adepto de alimentos saudáveis, ele decidiu abrir seu próprio negócio, depois de ter vivido experiência como empregado da fabricante de cigarros Souza Cruz e comandar a Leão Júnior. Questionado se seu nome abre portas, ele responde que não, mas que o relacionamento antigo com o varejo faz diferença.
Antonio Carlos, que não havia dado entrevistas à imprensa desde que a centenária Leão passou para as mãos da Coca-Cola, pouco tempo depois de ter sido profissionalizada, falou sobre a venda. "Era a oportunidade que tínhamos. A quinta geração já estava chegando aos 30 anos", disse ele, que faz parte da quarta geração. "Sempre há tensões", observou o economista, que também é sócio da Serra da Graciosa Participações, holding familiar que atua em outros ramos, como o imobiliário.
Dias atrás, ao atender uma ligação do Valor, o empresário contou que estava tomando um café em São Paulo. "Na Leão era proibido", brincou, lembrando o antigo hábito de só servir chá aos visitantes daquela empresa. Durante algumas semanas, ele evitou falar do novo negócio, mas por fim chegou à conclusão de que a estratégia já estava madura e pronta para ser divulgada. Muitas metas ainda são mantidas em segredo, mas ao ser interrogado se a operação vai durar 100 anos, como a Leão Jr, a resposta bem-humorada é rápida. "Espero que um dia ela seja conhecida como 'oldfoods' (comida velha, em inglês)". A fábrica da NewFoods (comida nova) foi instalada em um terreno em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. O investimento inicial foi de R$ 1 milhão e a operação "está chegando ao azul". Antonio Carlos explica que o nome da empresa combina com o produto, que é novo. "Está entre a barra de cereal e o cookie (biscoito)", define.
A instalação no Paraná, segundo ele, deve-se ao fato de o Estado ter tradição na fabricação de produtos naturais. A Nutrimental, fabricante das barras de cereais Nutry, por exemplo, fica na cidade vizinha de São José dos Pinhais.
As primeiras vendas começaram no fim de 2008 e, de lá para cá, já houve mudança de embalagem e a ampliação do portfólio, com itens "light" (baixa caloria) e em miniaturas, que podem ser encontradas em redes locais e multinacionais. "Vamos crescer passo a passo", diz. "Temos capacidade para ampliar a produção." Exportações? Talvez no fim do ano. A prudência tem a ver com as dificuldades enfrentadas no começo. "Há burocracias a cumprir, os prazos demoram", diz o empreendedor, o primeiro da família Leão a investir na área de alimentos após a venda da fabricante de chás. "É mais fácil ser herdeiro", ri.
Veículo: Valor Econômico